Cortar no investimento público

1 semana atrás 54

Entre 2015 e 2023, o capital por trabalhador caiu 10%, quando deveria ter subido, o que significa que temos tido falta de investimento, quer privado quer público.

Entre 2016 e 2023, o investimento público foi apenas de 2,2% do PIB, muito abaixo da média entre 2000 e 2010 (4,2% do PIB) e, mais chocante ainda, abaixo da média do período da “troika” (2,5% do PIB).

Aliás, este padrão de sub-investimento prolongou-se até ao final do anterior governo. Dos 1,2% do PIB de “excedente” orçamental de 2023, 1,0% do PIB corresponde a investimento público orçamentado e não executado. Na verdade, o que sobrou foram necessidades de investimento não satisfeitas.

Que se escolham as cativações no investimento sobre os cortes na despesa corrente é uma má opção, mas que, dentro do investimento público, haja “poupanças” maiores no investimento no SNS do que na média é do mais inexplicável que há, ainda por cima por ter sido um padrão repetido ano após ano.

Não admira que haja tantas queixas sobre as deficiências nos serviços públicos, em particular na saúde, porque este nível tão baixo de investimento está abaixo do mínimo necessário para garantir a mera reposição do equipamento e edifícios utilizados.

Se olharmos para o panorama europeu, percebe-se ainda melhor como estamos em situação crítica. Nos últimos cinco anos tivemos o segundo mais baixo investimento público da União Europeia (cuja média foi de 3,2% do PIB, dados publicados no ECO), apenas acima do da Irlanda, que não tem um problema de crescimento.

Ou seja, quer comparemos com o nosso passado quer com os nossos parceiros, estamos muito mal em termos de investimento público.

Mas também estamos carentes de investimento privado, que representou 18,2% do PIB entre 2000 e 2010 e tem estado claramente abaixo destes valores, tendo sido de apenas 16,6% do PIB em 2022 e tendo inclusive caído para 16,1% do PIB em 2023. Daí a necessidade de passarmos a ter um enquadramento mais amigo dos investidores, em particular dos estrangeiros, que podem trazer não apenas capital, mas também inovação na tecnologia e maior qualidade na gestão.

Sem melhorias claras, quer no investimento público quer no privado, qualquer “convergência” não passará de umas décimas acima da média europeia, sem impacto sobre os salários e o nível de vida dos portugueses.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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