Enviar jovens delinquentes para a tropa é "ideia peregrina e sem sentido", dizem sargentos

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30 abr, 2024 - 01:11 • Marisa Gonçalves

Em declarações à Renascença, António Lima Coelho contesta ideia do ministro Nuno Melo e defende, em vez disso, medidas que tornem a carreia militar mais atrativa.

Lima Coelho, da Associação de Sargentos, em entrevista a Marisa Gonçalves
António Lima Coelho contra ideia do ministro da Defesa de enviar jovens delinquentes para a tropa. Ouça a entrevista

O presidente da Associação Nacional de Sargentos, António Lima Coelho, não concorda com a possibilidade de jovens delinquentes poderem ser chamados a cumprir o serviço militar, como defende o Governo.

Em declarações à Renascença, António Lima Coelho refere-se a “uma forma pouco séria” de tratar as Forças Armadas.

“As Forças Armadas não são uma instituição correcional, nem uma instituição de reinserção social. Não há muito tempo atrás, para se ingressar nas Forças Armadas era necessário ter um registo criminal absolutamente limpo. Ora, essa ideia é uma ideia peregrina que não faz qualquer sentido. Importa é perceber que Forças Armadas queremos construir”, afirma.

O presidente da Associação Nacional de Sargentos faz uma comparação com o regime de Vladimir Putin, quando este decidiu recrutar, nas prisões da Rússia, voluntários para a frente de batalha, na Ucrânia.

“Esta ideia faz-me lembrar um pouco a ideia do senhor Putin, ao ir buscar os presos às prisões, para mandá-los para a frente de combate”, aponta.

Nuno Melo quer jovens delinquentes na tropa, em alternativa a instituições que são muitas vezes "escola de crime"

António Lima Coelho traz ainda à coação o caso da morte do agente da PSP Fábio Guerra, agredido à porta de uma discoteca, para sublinhar as palavras do almirante Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), que fez duras críticas, na altura, aos fuzileiros condenados pelas agressões.

“Por outro lado, estamos bem recordados que não há muito tempo atrás, devido a um ato extremamente infeliz, o senhor almirante Gouveia e Melo referiu, aquando da morte daquela agente da polícia, que as Forças Armadas não podem ter delinquentes. Há aqui qualquer coisa que me escapa e entendemos que não fazem sentido nenhum este tipo de declarações do responsável pela tutela da Defesa. Estamos a falar de uma instituição que é o pilar soberano da Defesa Nacional”, argumenta.

António Lima Coelho prefere destacar como mais importante, o pedido de audiência já endereçado para o Ministério da Defesa, “para discutir os problemas sérios com que estamos confrontados e analisar formas de tornar a carreira militar mais atrativa”.

A Associação Nacional de Sargentos aguarda ainda uma resposta, por parte da tutela.

O ministro da Defesa, Nuno Melo, defendeu na passada sexta-feira que os jovens que cometem pequenos delitos devem cumprir serviço militar para se tornarem "cidadãos melhores", em vez de ingressarem em “instituições que são escola para o crime”.

Nuno Melo reconheceu que não há condições políticas para o regresso do Serviço Militar Obrigatório (SMO) e garantiu que o Governo está a estudar medidas que possam atrair os jovens para as Forças Armadas.

Esta segunda-feira, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, disse concordar com Nuno Melo e considera que o serviço militar pode ser utilizado como pena para jovens que cometam pequenos crimes.

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