Marjane Satrapi vence Prémio Princesa das Astúrias

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Marjane Satrapi, nascida no Irão em 1969 e que se tornou célebre pela banda desenhada autobiográfica 'Persépolis' (2000), "é um símbolo do compromisso cívico liderado pelas mulheres", justificou o júri em nota de imprensa.

"O prémio pretende dar destaque ao talento de Marjane Satrapi em reinventar a relação entre arte e comunicação, nomeadamente com a novela gráfica 'Persépolis', na qual está plasmada exemplarmente a procura de um mundo mais justo e inclusivo", sustentou.

Em 'Persépolis', que está publicado em Portugal, Marjane Satrapi relata, com humor e eloquência, a infância e parte da adolescência no Irão, quando se dá uma revolução islâmica em 1979 que transforma o país e a marcará profundamente.

Em 1983, por causa da mudança drástica no país, com um profundo impacto cultural e social, os pais, opositores ao regime, decidem que Marjane Satrapi tem de sair do Irão e estudar na Europa, em Viena, e mais tarde em Paris.

A autora ainda regressaria a Teerão para estudar na escola de Belas Artes, mas acabaria por se formar na Escola de Artes Decorativas de Estrasburgo, em França, onde obtém nacionalidade.

Com 'Persépolis', publicado em vários volumes, Marjan Satrapi somou popularidade e vários prémios, nomeadamente no Festival de Banda Desenhada de Angoulême, tendo desenhado ainda outras obras de BD, nomeadamente 'Bordados' e 'Frango com ameixas', ambos disponíveis também em Portugal.

Em 2007, Marjane Satrapi converteu 'Persépolis' num filme de animação, coassinado com Vicent Paronnaud, com o qual venceu o Grande Prémio da Crítica em Cannes e foi candidato aos Óscares.

A autora foi deixando progressivamente de publicar banda desenhada para se dedicar ao cinema -- assinou em 2020, por exemplo, o filme 'Radioativo', sobre a cientista Marie Curie -, mas voltaria a desenhar mais recentemente, juntando-se o novo movimento cívico contra o regime iraniano.

Em 2023, coordenou a banda desenhada coletiva 'Mulher Vida Liberdade', que contextualiza e explica o movimento surgido após a morte de Mahasa Amini, em setembro de 2022 pelo regime iraniano.

Marjane Satrapi explica na introdução que este livro tem uma dupla intenção: "Descodificar os acontecimentos na sua complexidade e nas suas 'nuances' para um público não iraniano" e "lançar um sinal aos iranianos para os lembrar que não estão sozinhos".

Em entrevista em março passado ao semanário Expresso, Marjane Satrapi dizia que 'Persépolis' "marcou uma mudança".

'Não podemos esquecer-nos de que, quando falamos do Irão, falamos de um dos países mais ricos do mundo, mas as pessoas são pobres, porque o Governo é corrupto. Quando saiu o 'Persépolis', fui vista como uma rapariga excecional, de uma família excecional, que tinha um desenho também excecional, mas como eu havia e há muitas outras, só que não as conhecem', disse.

Na semana passada, a Fundação Princesa das Astúrias anunciou a atribuição do Prémio Princesa das Astúrias das Artes 2024 para o músico Juan Manuel Serrat.

Nos próximos dias, serão anunciados os prémios nas áreas do Desporto, Ciências Sociais, Letras, Cooperação Internacional, Investigação Científica e Técnica e Concórdia.

Cada um dos prémios tem um valor monetário de 50.000 euros e a cerimónia de entrega decorrerá em outubro.

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