Nova criação de Catarina Miranda explora mentira, ilusão e desinformação

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Num encontro informal com jornalistas, no âmbito do Festival Dias da Dança (DDD), a artista que fecha um ciclo de dois anos de trabalho com a apresentação, hoje e quarta-feira, no Teatro do Campo Alegre, do espetáculo de dança "??SUMO?I", adiantou que a nova peça vai ser desenvolvida no âmbito das residências promovidas pela plataforma Grand Lux, do qual o Teatro Municipal do Porto (TMP) é parceiro.

"Farsa" irá debruçar-se sobre a mentira, a ilusão de ótica e as 'fake news'.

"Essa será a minha próxima pesquisa. Debruçar-me sobre o que é ilusão, a fronteira da mentira e, mais do que a mentira, as diferentes perspetivas que se pode ter sobre o mesmo assunto", revelou, realçando que, tal como "??SUMO?I", a temática abordada pode ser traduzida para a realidade de hoje.

Num exercício de exploração, Catarina Miranda traça a base emocional que pode vir a sustentar o novo projeto. Para a coreógrafa, a atual polarização da sociedade é uma estratégia muito inteligente que "deixa as pessoas muito confusas e afastadas da tomada de decisões".

"Se uma pessoa não compreende o que se está a passar, também tem dificuldade em se posicionar e investir atenção e energia em mudar alguma coisa, mesmo que seja pequena. Isso é uma estratégia excelente de manter populações ilusionadas", disse, acrescentando que esta estratégia de desinformação "é bastante política".

Apesar de sublinhar que o futuro ainda é hoje, dia de apresentação do seu mais recente trabalho, no Porto, Catarina Miranda acredita que, tal como no presente, as suas peças, ainda que muito visuais, terão sempre "um relacionamento muito grande com o que se está a viver na atualidade", numa experiência sensível do presente.

"??SUMO?I" é exemplo disso mesmo. Inspirado numa peça de teatro japonesa do século XV, o seu mais recente espetáculo "fala de um fantasma de uma criança que foi apanhada numa guerra de clãs". Um cenário que, no presente, tem correspondência seja por conta das guerras entre países, marcas ou religiões, e confirma, nestas repetições, "a condição humana de destruição, construção, destruição, construção".

"E o que é que acontece aos destroços, aos fantasmas que ficam das mudanças geopolíticas, das ruturas, emocionais ou sociais", interroga-se Catarina Miranda, antecipando a reflexão que o seu mais recente trabalho promove.

"??SUMO?I" estreou-se em Coimbra no sábado, tendo, depois da passagem pelo DDD, agendadas datas em Paris, Plovdiv (Bulgária) e Aveiro, neste ano, e, em 2025, em Lisboa.

Numa coapresentação com o Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra), Catarina Miranda apresenta um espetáculo ancorado no movimento, na luz e no som, onde se cruzam espectros e memórias, passado e presente, técnicas ancestrais e linguagens futuristas.

A linguagem artística do seu trabalho valeu-lhe, aliás, uma nomeação. A portuguesa está entre os cinco finalistas da edição inaugural do prémio europeu de dança Salavisa, lançado em novembro do ano passado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

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