PCP na Câmara de Lisboa propõe homenagem a 'Celeste dos Cravos'

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"Celeste Caeiro, conhecida como a 'Celeste dos cravos', marcou simbolicamente o início da alvorada libertadora com o seu gesto simbólico de entregar a um soldado um cravo dos que trazia consigo. Se hoje a Revolução de Abril é conhecida em todo o mundo como a Revolução dos Cravos, devemo-lo, em primeiro lugar, a este gesto singular de Celeste Caeiro", afirmou a vereação do PCP na Câmara Municipal de Lisboa, em comunicado.

Na véspera de se assinalar os 50 anos do 25 de Abril, que pôs fim a 48 anos de ditadura em Portugal, os vereadores do PCP anunciaram que irão apresentar uma proposta para "que seja prestada a justa homenagem a Celeste Caeiro, com um monumento evocativo e, neste sentido, lhe seja também atribuída uma condecoração com a Medalha de Mérito da Cidade de Lisboa".

De acordo com o PCP, Celeste Caeiro é uma mulher de "convicções fortes, humilde e trabalhadora, figura nacional e militante comunista", da cidade de Lisboa e que "merece este reconhecimento e valorização".

Prestes a fazer 91 anos (em 02 de maio), doente e debilitada, Celeste Caeiro quer desfilar na Avenida da Liberdade, em Lisboa, na quinta-feira, se a saúde deixar e alguém lhe emprestar uma cadeira de rodas.

Celeste Caeiro já não quer falar da revolução e passa agora a palavra à neta, Carolina Caeiro Fontela, para "retificar lacunas da história" que anos sucessivos de notícias têm perpetuado.

"Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista", disse a neta à agência Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num 'self-service' no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa, e só quando chegou ao emprego, no dia 25 de abril de 1974, soube que estava a haver uma revolução.

Nesse dia, contou Carolina, o 'self-service' fazia um ano, mas não abriu por causa da revolução e o patrão, "que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um".

Celeste pegou no seu ramo de cravos e rumou ao Rossio para ver "o que há tanto tempo esperava que acontecesse".

Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.

O soldado, "de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro" e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por ser o símbolo da revolução.

Cinquenta anos depois, Celeste faz questão de, na quinta-feira, desfilar na Avenida da Liberdade, de cravo ao peito. Mas Carolina tem dúvidas: "Não sei se a saúde dela vai permitir e, para isso, era preciso arranjar uma cadeira de rodas, que ainda ninguém nos arranjou, porque nestes anos todos ninguém fez nada pela minha avó", lamentou.

Ao entusiasmo da avó pela revolução junta-se hoje a revolta da neta por "nunca nenhum organismo lhe ter dado o reconhecimento que ela merece, por nunca ninguém ter querido saber o que ela passou na vida", lamentando o "sentimento de ingratidão de um país que dá tantas condecorações, faz tantos reconhecimentos públicos por parte do Governo e da Presidência", e onde "não houve nenhum organismo capaz de homenagear a Celeste dos Cravos enquanto ela está viva".

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