Reciclar uma garrafa de plástico ou alumínio poderá render 10 cêntimos

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Ambiente

19 jul, 2024 - 23:29 • Fátima Casanova , com redação

Sistema de Depósito e Reembolso de garrafas deverá começar a funcionar em todo o país a 1 de janeiro de 2026, com a instalação de 2.700 máquinas. Ambientalistas lamentam que as garrafas de vidro fiquem de fora, Ministério do Ambiente explica porquê.

Reciclar uma garrafa de plástico poderá render 10 cêntimos aos consumidores portugueses quando o novo Sistema de Depósito e Reembolso estiver implementado, diz à Renascença o presidente da SDR Portugal, Leonardo Mathias.

Garrafas de utilização única com capacidade até aos 3 litros podem resultar em alguns cêntimos para o consumidor. O Sistema de Depósito e Reembolso de garrafas está finalmente a ser operacionalizado, seis anos depois de o Parlamento ter dado luz verde.

Sem querer perder mais tempo, a entidade que vai gerir todo o sistema, a associação SDR Portugal remeteu esta semana a documentação exigida para a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e para a Direção-Geral das Atividades Económicas (DGAE). Seguem-se muitas questões burocráticas para que, a 1 de janeiro de 2026, o sistema esteja a funcionar em todo o país.

A SDR Portugal propõe que o reembolso de cada embalagem tenha um valor fixo, independentemente do material ou da dimensão.

Em declarações à Renascença, Leonardo Mathias, presidente da SDR Portugal, refere que, feitos os estudos de mercado e poder de compra, chegou-se à conclusão que “o valor em Portugal poderia ser de 10 cêntimos para todos os materiais, não diferenciando”.

Este responsável refere que atualmente existem vários modelos. “Há países onde por uma garrafa de 3 litros, se calhar, dão 15 cêntimos, para uma de 33 centilitros, dão 7 cêntimos”, mas entendeu-se que estas diferenças poderiam “introduzir bastante confusão no sistema”.

Para depositar as garrafas vão ser instaladas cerca de 2.700 máquinas em vários pontos do país, que os retalhistas vão ter de comprar para ter na loja.

Colocada a garrafa, a máquina devolve o valor do depósito. O consumidor, “se assim o entender, pode exigir receber o seu depósito em numerário, porque a lei assim o obriga”, explica Leonardo Mathias.

O presidente da SDR Portugal acredita que a “esmagadora maioria dos reembolsos serão muitas vezes através de formato digital ou, inclusivamente, pode haver estratégias comerciais do retalho para dar descontos”.

Reciclar dá descontos no mercado, no cinema e na piscina
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Agora, resta saber que tipo de garrafas é que podem entrar neste sistema: têm de ser de utilização única com capacidade até aos 3 litros de plástico, alumínio ou metal ferroso, nas categorias de “águas minerais e de nascente e outras águas embaladas, sumos e néctares e mix de frutas e vegetais, concentrados para diluição, refrigerantes incluindo bebidas à base de chás, café e tisanas, bebidas energéticas e isotónicas, cerveja, sangria e mix alcoólicos”, elenca Leonardo Mathias.

O responsável alerta para o facto de estarem excluídas do sistema de depósito e reembolso “as embalagens de bebidas que contenham mais de 25% de ingredientes de origem láctea”.

ZERO lamenta que o vidro tenha sido excluído

O sistema de depósito e reembolso, que finalmente está a ganhar forma, vai permitir aumentar a taxa de recolha dos diferentes materiais, acredita a associação ambientalista ZERO.

A associação ambientalista reconhece méritos, inclusivamente, se alguém abandonar a embalagem, como vale alguns cêntimos, outra pessoa poderá “pegar na embalagem e entregá-la para receber o depósito”, diz à Renascença Susana Fonseca, que lembra que “há projetos noutros países, onde há locais onde as pessoas podem deixar as embalagens para pessoas em situação de sem-abrigo, possam pegar nessas embalagens e receber o depósito”.

Mas este sistema, não fica imune às críticas da associação ambientalista ZERO, que lamenta que as garrafas de vidro tenham sido excluídas.

“É um material que é 100% reciclável, que exige muita energia para ser produzido, é um desperdício enorme não o estarmos a aproveitar e, além disso, Portugal não está a cumprir as metas”, afirma Susana Fonseca.

A decisão foi do anterior Governo e o atual foi “conivente com esta má decisão”, critica a ambientalista.

“Portugal tem que andar a importar. Neste momento, estamos a deitar vidro para aterro e depois andar a comprar”, lamenta.

Governo justifica exclusão das garrafas de vidro

Confrontado com as críticas da associação ambientalista ZERO, o Ministério do Ambiente diz à Renascença que o vidro não é incluído neste sistema de depósito e reembolso porque iria exigir máquinas próprias só para este material.

O gabinete da ministra Graça Carvalho explica, ainda, que o vidro tem um potencial de recuperação mais significativo com a recolha junto da hotelaria, restauração e cafés.

O Ministério do Ambiente fundamenta a exclusão das garrafas de vidro deste novo sistema com um estudo, que apontou vários motivos para a decisão:

• O acréscimo muito significativo de espaço que o vidro exige, em particular na recolha manual ou caso não se proceda à sua compactação (na maioria dos países, a recolha de vidro é em contentores, sem partir a garrafa);

•O risco de fraude, caso o vidro não seja partido na origem;

•Os riscos de quebras e de pó de vidro com a movimentação de embalagens nos pontos de recolha;

•O ruído e os cheiros (sobretudo de vinho, se incluído);

•Não tem, ao contrário do PET, uma vantagem significativa na qualidade do material recolhido;

•Desperdiça infraestruturas já implementadas (ecopontos), cuja recolha é economicamente muito mais viável;

•A maioria do vidro é vendido no canal HORECA, onde o SDR é mais fraco.

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