“Viemos todos dar o último adeus ao Pina, um homem de sonhos”: o lamento de Dino D’Santiago

1 hora atrás 16

Dino D’Santiago em 2021

Dino D’Santiago em 2021

Dino D'Santiago homenageou Carlos Pina, uma das vítimas mortais do tiroteio ocorrido na passada quarta-feira numa barbearia em Lisboa

 o lamento de Dino D’Santiago

Dino D'Santiago partilhou, nas redes sociais, uma homenagem a Carlos Pina, uma das vítimas mortais do tiroteio ocorrido em Lisboa na passada quarta-feira.

“'Lisboa já não é a cidade em que crescemos'. Este foi o sussurro amargo que ouvi mal pisei o cemitério do Alto de São João, na fria manhã de hoje", começou por escrever. “Viemos todos dar o último adeus ao Pina, um homem de sonhos, pai de seis filhos, entre eles o nosso Gonçalo”.

O músico, que à altura da tragédia se encontrava em Cabo Verde, acrescentou: “Oiço falar de falsos ajustes de contas, murmúrios de ódio que se espalham como erva daninha. Alguns tiram partido, alastrando a desunião entre os povos, como se o caos lhes desse alimento. Mas o que aconteceu não é apenas uma tragédia de sangue. É o fruto envenenado da nossa indiferença, o reflexo dos vales do silêncio onde temos escolhido viver, confortáveis na nossa cegueira”.

“Morreram três adultos e um filho que ainda repousava no ventre da sua mãe, mas a sociedade só soube falar em rótulos: ‘um barbeiro africano’, ‘uma grávida brasileira’, ‘um taxista’. E para que a discriminação fosse ainda mais grotesca, o assassino foi logo identificado como ‘um cigano’. Como se a tragédia pudesse ser explicada, como se as mortes pudessem ser justificadas com esses estereótipos. Um rótulo para cada vida, uma desculpa para a nossa indiferença”, disse.

“Vivemos numa era de redes onde a palavra ‘social’ perdeu todo o sentido. Ignoramos a verdade que grita diante de nós: que isto foi o resultado de uma mente doente, negligenciada durante anos. Um homem que caminhava perdido pelas ruas da cidade, enquanto todos nós desviávamos o olhar. O que se passou em Lisboa é um espelho do que acontece pelo mundo fora, onde o ódio se replica, seja pelo poder, preconceito, machismo, xenofobia, ou por qualquer outro veneno que nos corrompe. Cada tiro disparado, cada vida ceifada, é o sintoma de uma doença mais profunda – nós, humanos, transformámo-nos no vírus mais letal deste planeta”.

Ler artigo completo