1.º de Maio marcado por "esperança", mas reconhecimento da "precariedade"

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Milhares de cidadãos saíram à rua, na quarta-feira, para assinalar o Dia do Trabalhador. Em Lisboa, quem subiu a Avenida Almirante Reis recordou que "a luta continua" e que "o fascismo está sempre à espreita", apelando, por isso, por melhores "salários e pensões".

No tradicional desfile do 1.º de Maio estiveram ainda presentes membros do Partido Socialista (PS), do Bloco de Esquerda (BE), do Partido Comunista Português (PCP), do Livre, do PAN  e da Iniciativa Liberal (IL) que, apesar das mensagens de “esperança”, deram conta do longo caminho ainda a percorrer para "impor uma vida melhor, melhores salários e horários menos desregulados".

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, recorreu à rede social X (Twitter) para defender que as políticas públicas têm de criar melhor emprego e um país "com menos impostos e mais rendimentos", não se abstendo de elogiar todos os trabalhadores que "contribuem para um Portugal moderno e ambicioso".

Hoje celebramos com todos os trabalhadores: que produzem, criam e contribuem para um Portugal moderno e ambicioso.
As políticas públicas têm de servir para melhor emprego num País mais produtivo e socialmente responsável, com menos impostos e mais rendimentos.
Feliz…

— Luís Montenegro (@LMontenegropm) May 1, 2024

Já o seu antecessor, António Costa, considerou que "continuar a aumentar o valor dos salários no PIB" deve ser um objetivo do atual Governo, apontando ser necessário avaliar o impacto da Agenda do Trabalho Digno “na dinamização da contratação coletiva e na regulação do trabalho nas plataformas". Numa publicação na mesma rede social, o antigo primeiro-ministro defendeu a necessidade de "manter o emprego em máximos, promover trabalho digno e salários justos".

1 de Maio, Dia do Trabalhador. Manter o emprego em máximos, promover trabalho digno e salários justos. Um objetivo: continuar a aumentar o valor dos salários no PIB. É necessário: monitorizar o impacto da Agenda do Trabalho Digno na dinamização da contratação coletiva e na…

— António Costa (@antoniolscosta) May 1, 2024

Por seu turno, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, lembrou que, há 50 anos, “o país saiu de casa no dia 1 de Maio e inundou as ruas com a alegria da liberdade e a confiança num futuro melhor, consagrando “a maior manifestação popular da nossa história”.

“É um momento formativo da nossa democracia e uma data de especial significado, pela história destes 50 anos e por aquilo que pede de nós no futuro. Desde 1974, o PS tem afirmado a convicção que guiou Mário Soares e que, naquele primeiro Dia do Trabalhador, reforçou a esperança de milhões de portugueses. Sabemos que a liberdade se mede, também, na capacidade de garantirmos uma sociedade mais justa, com trabalho digno para todos. E cá estaremos para continuar a lutar por isso. Ao trabalho”, escreveu, também no X.

1.º de Maio. Milhares subiram Almirante Reis porque

1.º de Maio. Milhares subiram Almirante Reis porque "a luta continua"

Milhares de pessoas subiram hoje a Avenida Almirante Reis, em Lisboa, a comemorar o dia do trabalhador, afirmando que "a luta continua" e que são precisos "mais salários e melhores pensões".

Lusa | 19:10 - 01/05/2024

À margem do desfile para assinalar a data, a porta-voz do BE, Mariana Mortágua expressou a convicção de que "o país se torna mais forte e cresce mais" se for "capaz de pagar melhores salários e dar melhores condições de trabalho", mas também "menos horas de trabalho".

"Em Portugal trabalham-se mais horas do que no resto da Europa. Os salários são inferiores à média da Europa e há mais precariedade, com mais contratos a prazo e menos estabilidade na vida", disse, tendo apontando que os bloquistas apresentaram três propostas para melhorar a vida dos trabalhadores, nomeadamente a consagração do salário mínimo de 900 euros já este ano, a semana de trabalho de quatro dias e leques salariais.

Mortágua acusou ainda o PSD e o PS de não terem "um compromisso sério com o aumento do salário mínimo", tampouco "nenhuma proposta para se aumentar o salário médio".

Por sua vez, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, criticou as grandes empresas e a "injustiça" que geram na "redistribuição da riqueza criada”, uma vez que “cresce a economia, crescem os lucros, crescem as taxas de juro, crescem a dificuldades das pessoas; só não crescem os salários nem estabilidade na vida das pessoas".

Contudo, o comunista disse acreditar que os trabalhadores vão conseguir, "com a sua luta e determinação, […] impor uma vida melhor, melhores salários e horários menos desregulados".

Há 50 anos o povo português saiu à rua e de corpo inteiro disse "não é golpe, é revolução". Hoje, precisamente 50 anos depois, deixa outra garantia: qualquer tentativa de retrocesso sobre Abril terá de derrotar, em cada local de trabalho e na rua, a resistência que lhe fará… pic.twitter.com/S2oYxrrSyy

— PCP (@pcp_pt) May 1, 2024

A porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, apontou que os 50 anos do 1.º de Maio "assinalam o trabalho" que é necessário "continuar a fazer para garantir a dignidade e a valorização dos trabalhadores", considerando ser “fundamental que se retome a negociação relativamente à valorização de várias carreiras".

A deputada disse, assim, que o seu partido pretende impor uma "agenda do século XXI", com uma "economia de felicidade e bem-estar", tendo já apresentado propostas que visam, por exemplo, "a atribuição do dia do aniversário", "garantir que os trabalhadores possam gozar os feriados que calham no fim de semana" e o direito ao "luto no caso de morte de animais de companhia".

PS, BE, PCP e PAN defendem aumento dos salários e melhores condições

PS, BE, PCP e PAN defendem aumento dos salários e melhores condições

PS, BE, PCP e PAN marcaram hoje presença no tradicional desfile do 1.º de Maio, em Lisboa, e defenderam aumentos salariais e melhores condições para os trabalhadores.

Lusa | 18:26 - 01/05/2024

Ainda que a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, tenha reconhecido que o 1.º de Maio “é um dia para celebrarmos tudo aquilo que já conquistámos”, a deputada disse ser também ocasião “para reivindicar tudo aquilo que falta conquistar”.

Sabemos uma coisa que é muito importante: não pode haver recuos nos direitos sociais e nos direitos do trabalho. E ainda falta muito, porque apesar de conseguirmos ter férias pagas, termos horários regulados, termos salários definidos, como o salário mínimo, a verdade é que há muitas pessoas que não têm acesso a estes direitos, porque vivem de forma precária”, disse.

Isabel Mendes Lopes considerou, por isso, que a tecnologia deve ser usada para “trabalhos melhores e mais recompensadores para todas as pessoas, para garantir que todas as pessoas tenham mais tempo livre”, e para que se libertem dos trabalhos que não as “preenchem”.

Já o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, indicou que “o respeito pelo trabalho depende de salários competitivos e de uma fiscalidade contida”, ao mesmo tempo que declarou que “quem trabalha merece ter uma compensação justa pelo seu esforço no final do mês”.

“Portugal tem de tornar-se um país onde é possível crescer pelo trabalho. Mais crescimento económico, menos impostos, mais salário!”, escreveu, na rede social X.

No Dia do Trabalhador é fundamental recordar que:

1 em cada 3 jovens trabalham fora de Portugal, 1 em cada 4 dos que ficam está desempregado e 3 em cada 4 dos que trabalham ganham menos de 1000 euros líquidos por mês.

Portugal é o 5.º país com salário médio mais baixo da… pic.twitter.com/H5GoT3YYLt

— Rui Rocha (@ruirochaliberal) May 1, 2024

Por fim, o líder do partido de extrema-direita Chega, André Ventura apelou a “mais ações”, ao invés de “celebrações”.

“Neste 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, importa dizer que os trabalhadores portugueses são dos que recebem salários mais baixos. Portugal é o quinto país da União Europeia com o salário médio mais baixo! De que vale baterem no peito e dizerem que defendem os trabalhadores neste dia, se durante o resto do ano nada fazem para os defender? Mais do que celebrações, precisamos de mais ações!”, escreveu, na mesma rede social.

 CGTP-IN critica

1.º de Maio: CGTP-IN critica "Governo dos grupos económicos"

O secretário-geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira, afirmou hoje que Portugal tem "um Governo dos grupos económicos" e que é "urgente uma rutura" que faça o país crescer, para que todos consigam viver e trabalhar condignamente.

Lusa | 18:40 - 01/05/2024

Recorde-se que o Dia Internacional do Trabalhador teve origem nos acontecimentos de Chicago de há 137 anos, quando se realizou uma jornada de luta pela redução do horário de trabalho para as oito horas, que foi reprimida com violência pelas autoridades dos Estados Unidos, que mataram dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.

Há 50 anos, em Portugal, a celebração do 1.º de Maio ocorreu apenas uma semana após a revolução do 25 de Abril, onde, em Lisboa, se estimam que tenham estado 500 mil pessoas nas ruas.

Por todo o país, centenas de milhares de pessoas saíram à rua mostrando a sua alegria e com exigências como 'direito à greve', 'fim da guerra já' ou 'regresso dos soldados', segundo as fotografias da época.

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