A homenagem acontece na quarta-feira, numa das ruas da cidade, com a colocação de um monumento onde constam nomes de homens e mulheres que foram presos pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e Direção-Geral de Segurança (DGS).
"Queremos homenagear quem lutou e quem nos permitiu a liberdade. Houve muito mais gente: há muita gente que não foi presa e que lutou e que arriscou. Mas há alguns que realmente foram parar aos cárceres da prisão", salientou à agência Lusa Acácio de Sousa.
Em colaboração com a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, a Comissão das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Leiria identificou, entre 1926 e 1974, 245 detidos, entre naturais de Leiria e quem, não tendo ali nascido, trabalhava ou residia no concelho.
"Houve mais gente que foi parar às prisões da Polícia da Segurança Pública e da GNR.
"[Mas, sobre esses] Não há processos, é incontrolável", acrescentou o coordenador das comemorações, admitindo "o risco" da listagem: "Quando estamos a falar em dezenas e dezenas de nomes, há sempre riscos [de faltar alguém]".
Contudo, esta é uma iniciativa que faltava para "homenagear e lembrar para o futuro quem arriscou": "Há muito mais gente que arriscou e que ficou anónima, mas, de facto, também há aqueles que, sim, temos a confirmação que arriscaram".
Da análise feita à lista de detidos, percebe-se que pertencem a "todos os estratos sociais" e que "há várias mulheres que foram presas". Independentemente de terem mais ou menos consciência política, "ao serem presos pelas polícias políticas, todos estavam a lutar pela liberdade", refere Acácio de Sousa.
"Temos desde gente do povo e do labor duro, até intelectuais. O Miguel Torga foi preso em Leiria", exemplifica o coordenador.
Além de constituir "um número vultuoso" de prisões, a lista de presos em Leiria pelas polícias políticas distingue-se pouco do cenário noutros concelhos do país.
Em todo o caso, realça Acácio de Sousa, a região de Leiria, "nos anos de 1968, 69 e 70, pode ter tido quase [o papel de] uma liderança na oposição" ao regime.
"Não estava cá o 'crème de la crème', mas a ação de [José Henriques] Vareda, Vasco da Gama Fernandes e [António José] Guarda Ribeiro enquanto líderes foi muito, muito grande. Aliás, houve aqui várias reuniões na região em que os grandes líderes nacionais vieram cá", recorda.
Também José Vareda e Vasco da Gama Fernandes - o primeiro presidente da Assembleia da República, eleito pelas listas do PS - constam na relação de detidos.
A cerimónia de homenagem e de inauguração do memorial acontece às 17:00 do dia 24 de abril, na rua Vasco da Gama.
O monumento, um paralelepípedo triangular, ostentará também, numa das faces, os nomes dos deputados eleitos pelo círculo de Leiria à Assembleia Constituinte.
"Produziram a Constituição Portuguesa e confirmaram o regime democrático. São os que confirmaram a liberdade, que resultou de quem lutou por ela. Uma coisa liga à outra", concluiu Acácio de Sousa.
Depois, também em Leiria, nesse mesmo dia e igualmente por iniciativa do município, mas no largo Salgueiro Maia, acontece uma evocação ao capitão Salgueiro Maia que, no percurso académico, estudou um ano na cidade.
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