27 de abril: o dia em que o André da cadeira de sonho ocupou um trono bem real

2 semanas atrás 29

Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas, 46 anos, sócio n.º 7616 e, agora, presidente do FC Porto.

42 anos depois, acabou uma era no futebol português.

Pinto da Costa, dominador nas 13 eleições anteriores, desde 1982, perdeu com estrondo: conseguiu 19,52 por cento (5.224 votos), contra uns impressionantes 80,28 por cento (21.489 votos) do novo presidente.

A vitória esmagadora já se adivinhava pelo mar azul que inundou o Dragão desde as primeiras horas da manhã. Foram 26 876 sócios votantes, uma afluência recorde que mudou o rumo da história do FC Porto.

Tentativa de invasão e saída pela porta pequena

As filas que serpenteavam o estádio já indiciavam um desejo de mudança. Pinto da Costa, que estava previsto votar por volta das 11 horas, chegou ao Dragão depois do meio-dia, estacionou o automóvel no parque, junto à zona mista, onde estavam os jornalistas, mas não prestou declarações. Iria votar e talvez voltasse para reagir, porém, só acabou por exercer o seu direito já depois das 14 horas.

Seria Vítor Baía a dar a cara pela Lista A (às 13h20), com um discurso aparentemente otimista, mas em absoluto contrastante com o seu semblante. André Villas-Boas já ali havia estado uma hora antes, sorridente e confiante na vitória, numa primeira reação.

Os dados estavam lançados para o que viria ser uma noite de festa no número 176 da Rua de Agramonte, na Boavista, mas também de muita tensão no Estádio do Dragão.

Às 22h50, cabe de novo ao vice-presidente Vítor Baía fazer o primeiro reconhecimento da derrota. Segue-se uma tentativa de invasão do parque do Dragão, por cerca de meia centena de membros dos Super Dragões e, poucos minutos depois, a saída de Pinto da Costa.

O «presidente dos presidentes» deixa o estádio pelo P1, às 23h10, sem qualquer declaração pública. Simbolicamente, sai pela porta pequena, sob o apoio incondicional e sonoro do restrito grupo de insurgentes que pouco antes fora travado pelas forças de segurança na sua tentativa de invasão.

Festa em Agramonte com o 13 de Juary nas costas

Na sede de campanha de Villas-Boas, as imagens vindas do Dragão são acompanhadas pela TV com estupefação. O ambiente, porém, é de celebração. Comentam-se as fugas de informação vindas dos apuramentos de resultados das mesas.

Está a abarrotar aquele espaço, que era garagem para a coleção de automóveis antigos do agora presidente, antes de nos últimos três meses ter virado sede de campanha.

Estão presentes a mulher Joana e os filhos, amigos de longa data, como o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos, a antiga eurodeputada Elisa Ferreira, o ator Pedro Teixeira ou o escritor Álvaro Magalhães. Juntam-se os membros dos novos órgãos sociais e glórias portistas, como Jorge Costa, futuro diretor para o futebol, e Helton.

Villas-Boas acompanha os resultados num piso superior, com a sua «entourage» de campanha. Desce já pouco depois da meia-noite, vestido a rigor, com uma camisola vintage do FC Porto, número 13 de Juary nas costas.

Encaminha-se para a porta da sede, onde uma pequena multidão de apoiantes o saúda, sobe a um palanque agita um cachecol e entoa cânticos como um adepto comum.

«O Porto é nosso e há de ser!», ecoa em frente ao cemitério de Agramonte. Segue-se nova espera para o discurso de vitória, já depois da uma da manhã.

«Graças a vocês, o FC Porto é de novo livre!», afirma, sem esquecer o ainda presidente: «Esta é e será sempre a casa de Jorge Nuno Pinto da Costa.»

Da parte de Pinto da Costa, não há informação de qualquer telefonema a felicitar Villas-Boas pela vitória, ou de um convite para assistir ao clássico deste domingo, frente ao Sporting, na tribuna do Dragão.

O presidente eleito desdramatiza: «Em princípio, vou ver o jogo no meu lugar anual. Fazer ali uma despedida para os próximos quatro anos.»

Seja qual for o lugar, a vitória esmagadora deixa Luís André no sítio onde desde criança queria estar.

Não é uma cadeira de sonho, agora é um trono bem real.

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