80 anos do Dia D: o primeiro dia do que parecia ser a paz na Europa até à eternidade

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Emmanuel Macron convidou 15 chefes de Estado e de governo para recordar o dia em que quase 10 mil pessoas caíram, trespassadas pela loucura da direita mais extremista que a Europa já conheceu. Mas que não ficou enterrada na praia de Omaha.

Veteranos da Segunda Guerra Mundial juntaram-se a chefes de Estado e outras personalidades para comemorar o 80.º aniversário do ‘Dia D’, o dia do desembarque na Normandia – o primeiro passo para a libertação da Europa do jugo da sangrenta ditadura nazi que tomara a Alemanha de assalto a partir de 1933 e o resto da Europa depois de 1939. A invasão das tropas aliadas, que começou a 6 de junho de 1944, levou à derrota dos nazis e ao fim da guerra – mas ainda decorreriam muitos meses de sangrentas batalhas até maio do ano seguinte.

A operação começou com aviões dos Aliados a bombardear as defesas alemãs na Normandia, seguidos por cerca de 1.200 aviões que transportavam tropas. Ao amanhecer, as forças aliadas começaram a bombardear as defesas costeiras alemãs e, pouco depois, os navios começaram a desembarcar tropas em cinco praias com os nomes de código Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword. No final do dia, cerca de 160 mil soldados aliados tinham desembarcado na Normandia, embora tenha havido milhares de baixas.

A força era constituída principalmente por tropas norte-americanas, britânicas e canadianas, mas a operação incluiu apoio naval, aéreo e terrestre australiano, belga, checo, neerlandês, francês, grego, neozelandês, norueguês e polaco. O Dia D foi a maior invasão anfíbia da guerra, e permitiu abrir uma nova frente, aliviando a pressão sobre a União Soviética a Leste.

Um número cada vez menor de veteranos da Segunda Guerra Mundial fez a peregrinação de regresso a França. “Há coisas pelas quais vale a pena lutar”, disse um deles, citado pela “Euronews”, Walter Stitt, que lutou em tanques e fará 100 anos em julho. “Embora eu gostasse que houvesse outra forma de o fazer, em vez de nos tentarmos matar uns aos outros”. As 9.388 lápides de mármore branco que, cada uma, contam a grande história do Dia D, são a confirmação de que a Europa foi – e talvez nunca venha a deixar de ser – o campo de morte de milhares de homens e mulheres. Qualquer recordação que nos assalte neste 80.º aniversário as mortes no Donbass não é pura coincidência. Frente ao mar, com vista para a praia de Omaha, 9.388 lápides brancas com cruzes latinas ou estrelas de David guardam até ao esquecimento, que inevitavelmente ocorrerá, o nome, a patente, a unidade de combate, a data oficial da morte e número da placa de identidade militar. Mas não a idade: a Europa sabe que os avatares da política em que nenhum país foi inocente – nem mesmo Portugal, apesar de ter tentado fazer de conta que não existia, o que deve agradecer a Francisco Franco e não a António Salazar – dizimou uma inteira geração de jovens.

Emmanuel Macron – uma espécie de anfitrião – realizou uma série de cerimónias, alertando cada vez mais para o pano de fundo: a ascensão da extrema-direita, o risco do regresso à guerra na Europa. Nada menos do que oito reuniões foram marcadas em três dias, com outros tantos discursos amplamente transmitidos, mas sempre com aquelas duas tónicas a soarem mais alto. O presidente francês convidou o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para a cerimónia internacional desta quinta-feira na praia de Omaha. A Rússia não foi convidada. O líder ucraniano juntou-se ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao rei da Inglaterra, Charles III, ao chanceler alemão, Olaf Scholz, ao chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella, e a mais quinze chefes de Estado e de governo.

Portugal também evocou a efeméride: o Governo português homenageou “todos quantos deram a vida” pelos valores da liberdade e do humanismo, assinalando os 80 anos do Dia D. “Nos 80 anos do dia D, o dia que determinou a vitória da liberdade e do humanismo, prestamos homenagem a todos quanto deram a vida por esses valores”, escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros na rede social X. “E, unidos aos nossos parceiros da UE e ao Reino Unido, agradecemos a solidariedade transatlântica”.

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