A Alameda Verde já não é um mar de rosas

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A saída de Ruben Amorim para o Manchester United será um golpe duro para o Sporting.

Para quem olha para este campeonato nacional de forma desinteressada percebe que ele está a tornar-se numa daquelas grandessíssimas estuchas de que falava o Alencar, em Os Maias do divino Eça. Mas eis que o Sporting, que tem vindo a atropelar adversários a seu bel-prazer, se vê a contas com um problema grave a dois dias da sua décima vitória consecutiva, frente ao pobre Estrela da Amadora, próxima vítima a visitar o covil do leão. Rúben Amorim, o verdadeiro alicerce desta equipa que domina o futebol em Portugal, está de malar feitas para o Manchester United que bateu a cláusula de rescisão de 10 milhões de euros. Está pelos vistos decidida a direção de Frederico Varandas a fazer valer uma alínea do contrato na qual só é obrigada a deixar sair o treinador 30 dias após a imposição do negócio. Até ao momento não sabemos qual a posição do técnico em relação ao assunto mas, apesar de legítima, pelos vistos, a posição do presidente Frederico Varandas dá ideia de ser obnubilada pela contrariedade de perder o seu treinador campeão.

Os desafios de Amorim


A partir deste momento não é humanamente possível exigir-se a Amorim que esqueça a tarefa gigantesca que vai ter em Old Trafford, fixando-se no nosso campeonatozinho de meia-tijela e em adversários de pacotilha. Terá pelo caminho o Manchester City e o Arsenal, é um facto, mas esses já são, a partir de agora, os seus opositores na Premier League, aqueles e outros do mesmo nível com os quais irá bater-se semana a semana. Veremos quais as consequências desta teimosia. Acrescento um pormenor: duas derrotas nesses dois jogos fragilizá-lo-ão em Inglaterra, por muito que não se queira. Estamos agora no ponto certo para perceber se a tão propalada estrutura do Sporting não estava por demais assente sobre os ombros do seu treinador. Se assim for, o edifício tremerá de forma inevitável. Venha quem vier, e tudo indica que é João Pereira, tem pela frente um primeiro desafio tremendo: o de conquistar a confiança dos jogadores que, isso nem se discute, estavam prontos a seguir Amorim até aos quintos dos infernos.


As debilidades de Benfica e FC Porto que, como já se percebeu, estavam aí para assistir à cavalgada triunfal do campeão nacional a caminho do bi, têm sido, até agora, outro dos garantes da tranquilidade leonina. Algo mudará? Se Vítor Bruno, ainda envolto nas infames guerras intestinas do clube, agora acirradas pela capacidade com que o ex-presidente anda a brincar com a própria morte para dividir cada vez mais as hostes, é obrigado a suportar pateadas e assobios absolutamente injustos para alguém que pegou no que pôde e no que lhe deixaram e formou um conjunto que, ainda assim, é o mais consistente a seguir ao Sporting, Bruno Lage rapidamente desperdiçou a credibilidade que as vitórias iniciais (sobretudo a goleada a um Atlético de Madrid que pareceu de truz mas rapidamente se desvalorizou com a derrota dos colchoneros em casa com o Lille por 1-3) lhe deram e caiu com estrondo perante o Feyenoord, muito provavelmente o mais fraco de todos os adversários que o Benfica defrontará na Liga dos Campeões com exceção do Estrela Vermelha. Os buracos defensivos que se transformam em crateras por via da dificuldade que o treinador encarnado apresenta na solidificação de um meio campo que precisa de muito mais garra e capacidade de recuperação de bola, continuam a ser um problema que entra pelos olhos dentro.

Fraco com os fortes e forte com os fracos


Claro que, numa competição tão débil como a nossa, o enxovalho sofrido frente aos holandeses pôde ser remendado com uma goleada ao Rio Ave. Fraco com os fortes (e nem foi um verdadeiro forte) e forte com os fracos, eis a verdade dolorosa de uma equipa na qual só os mais empedernidos dos adeptos conseguem acreditar. A oito pontos de distância do primeiro lugar (com um jogo a menos), o Benfica joga praticamente para nada. Ou, quanto muito, para tentar ficar em segundo no final da corrida e com isso ver se garante nova presença na Liga dos Campeões onde vai correndo às avessas tão nu como o rei de Hans Christian Andersen. Se, no sábado, pelas 18h00, está obrigado a ir a Faro bater o último classificado, o Farense, e é de exigência redutora que o faça com à vontade, prepara-se para, na quarta-feira dia 6, viajar até ao campo da maior de todas as suas bestas negras, o Bayern de Munique. Será, para Lage, o mais fácil de todos os jogos até aqui: qualquer resultado que não seja uma derrota por mais de quatro ou cinco golos não pode ser considerada totalmente humilhante, até porque em dez jogos com os bávaros os encarnados nunca ganharam um sequer (três empates foi o melhor que conseguiram) e já saíram de Munique com um 2-5, dois 1-5 e um 1-4.


Mais problemático é ter de receber o FC Porto logo a seguir num confronto que pode deixar o Sporting ainda mais confortável. Mas, porque nem tudo pode ser bom a toda a hora, os leões também têm, na próxima terça-feira, um berbicacho complicado, certamente o maior que esta época já lhes colocou pela frente: o Manchester City vem a Alvalade e, à entrada para a quarta jornada, não há mais erros para cometer. Neste aspeto estará mais ou menos como o seu rival da Segunda Circular. A nova realidade na qual passou a viver desde agora irá pôr à prova a força anímica do campeão nacional.

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