A alquimia do conhecimento

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Portugal investe anualmente cerca de 4,5 mil milhões de euros em investigação e desenvolvimento, ou seja, 1,7% do PIB. Trata-se de uma percentagem relativamente baixa quando comparada com a média da União Europeia que se situa nos 2,2%. E bem aquém de países como a Suécia que afetam à produção de conhecimento mais de 3% do seu produto interno.

Apesar disso, a posição do nosso país no ranking europeu não é propriamente miserável. Não sendo famosa, a verdade é que Portugal investe, em relação ao PIB, mais do que países como Espanha e Itália.

A questão que se coloca prende-se com o retorno desse investimento. Os primeiros outputs da investigação são, obviamente, de natureza académica: teses, dissertações, artigos científicos, comunicações em congressos…

Mas não basta, pois nenhum país se pode dar ao luxo de ignorar a transferência do conhecimento que produz para o tecido empresarial. Sem deixar de reconhecer o caminho já percorrido e os êxitos alcançados neste domínio, a verdade é que o nosso país tem ainda muito a fazer.

Para isso, há que atuar em três frentes. Em primeiro lugar, promovendo a proteção da propriedade intelectual de modo que aquilo que criamos não venha a ser aproveitado indevidamente por terceiros. E sobre isto há que assinalar que o número de patentes detidas por entidades portuguesas é ridiculamente baixo.

Depois, há que promover a realização de mais e maiores projetos de investigação aplicados à resolução de desafios empresariais concretos. Para isso é fundamental aprofundar o relacionamento entre o meio científico e tecnológico e o mundo dos negócios, dois domínios ainda em parte de costas voltadas um para o outro.

Em terceiro lugar, é necessário fomentar o surgimento de mais startups de base tecnológica com elevado potencial de escalabilidade. Para isso há que promover a criação de ecossistemas de inovação mais fortes e resilientes ao nível da – empresas, governo e universidades – sem esquecer o papel da sociedade como um todo.

Com efeito, nada disto irá dar resultados se quem está à frente não só das empresas, mas também de todos os outros stakeholders do ecossistema de inovação, não tiver uma mentalidade empreendedora.

Não, não é um chavão. Trata-se de um fator crítico de sucesso muito concreto que tem a ver com a cultura e o mindset. Enquanto prevalecer a tendência para se viver à sombra protetora do Estado, dificilmente teremos uma economia competitiva à escala global com produtos e serviços diferenciados de elevado valor acrescentado com base na incorporação de conhecimento. Do tal conhecimento em cuja produção investimos todos os anos 4,5 mil milhões de euros e de que não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar.

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