Foi em 1976 que, encabeçado por dois Steve, Wozniak e Jobs, se começou uma revolução, ou melhor, uma reinvenção do sonho ‘um computador para o resto de nós’. Quarenta e sete anos depois, esse desejo é mais que uma realidade e estendeu-se a equipamento que, na altura, ainda nem fazia parte da equação, com uma percentagem então inimaginável da população mundial a usar equipamentos computacionais como tablets ou smartphones.
Steve Jobs deixou a dimensão terrena há pouco mais de doze anos e temos já o distanciamento necessário para um pequeno exercício de reflexão sobre se a Apple é, hoje, melhor ou pior que antes. Nas tertúlias tecnológicas que frequento, pelo menos em algumas das internacionais, é graça comum manifestarmos a expressão ‘já não é a mesma’. Sim, é uma graça corriqueira, mas, ao mesmo tempo, uma verdade indesmentível. Em doze anos, perderam-se alguns hábitos míticos que ajudaram a fazer o glamour de anúncios. Perdeu-se a presença humana carismática e magnética, o guardador de segredos com que, hoje ,já quase ninguém se angustia positivamente. No entanto, a Apple continua a ser uma das empresas mais valiosas do mundo, lançando produtos de alta qualidade e inovação constante. A empresa evoluiu sob a liderança de Tim Cook, adoptando uma abordagem mais centrada na sustentabilidade e na diversidade.
Tim Cook, apontado pelo próprio Steve Jobs como seu sucessor, conhecia a companhia como poucos, uma vez que era, à data, o seu chefe de operações. Aí, nos canais de produção e distribuição de produto, as diferenças são notórias e para melhor. Em certos mercados, tal não é, ainda, perfeitamente visível (é lendária a lentidão de fornecimento em certas fatias de mercado), mas será incomparavelmente mais eficaz. E o crescimento tem sido avassalador nestes doze, com significativos números em áreas novas como os serviços, onde, a julgar pelos relatórios que vai dando a conhecer, as margens são mais generosas e em que as questões de produção pesam menos, na soma total.
A verdade é que a Apple, como qualquer empresa de sucesso, enfrenta desafios em cada exercício fiscal. O desafio constante é o de manter o equilíbrio entre a herança de inovação dos carismáticos tempos da “segunda vinda” de Steve Jobs e a necessidade de evoluir, para atender as necessidade de um mercado cujos consumidores estão em constante mudança. É uma empresa que continua a reinventar o futuro, mas não sem a saudade da aura mágica que Steve Jobs lhe deu durante muitos anos. Já não é a mesma, dirão. Sim, mas nós também não o somos.