A garantia de Miguel Rosa «Quero é voltar a jogar, sinto-me capaz»

3 meses atrás 60

A nova coqueluche do Benfica. O novo 'Rui Costa. Miguel Rosa era visto como o futuro das águias, com os golos e as assistências na turma secundária a entusiasmarem os adeptos. Contudo, o médio não cativou toda a gente, em particular, o homem das decisões no plantel principal. Como tal, a tão desejada oportunidade nos encarnados nunca apareceu, para grande desalento do médio. Agora, com 35 anos, Rosa anseia novamente por abrir uma porta num dos principais emblemas nacionais. 

A primeira parte da entrevista a Miguel Rosa pode ser lida aqui.

zz: Em 2013/14 cabou por seguir o seu percurso num emblema onde já tinha sido feliz. A opção de rumar ao Belenenses foi a única que foi colocada em cima da mesa na altura?

Miguel Rosa: Eu tinha uma proposta do Valladolid, para a primeira divisão de Espanha. Ia ganhar dez vezes mais do que aquilo que eu ganhei no Belenenses. Na altura, a minha mulher estava grávida da minha filha, então decidi que o melhor era acompanhá-la durante esse processo. Para além disso, o presidente Luís Filipe Vieira alertou-me para uma coisa. O Valladolid tinha três meses de salários em atraso, algo que pesou um bocadinho. Como tal, o presidente queria mandar-me para o Marítimo, para pagar alguma coisa que estava pendente. Eu disse logo que não queria, porque queria voltar para a minha casa, onde sempre fui acarinhado. Tive um mês a tentar convencê-lo a mudar de ideias. Consegui, mas fui com a condição de que o Belenenses só teria dez por cento do meu passe. Acabei por fazer cinco golos nessa época e, como tal, o Queens Park Rangers queria dar três milhões por mim, mas o clube não aceitou, visto que só ia receber 300 mil euros.

@Global Imagens / PEDRO_ROCHA

zz: Esta proposta foi discutida com o Benfica?

MR: O Benfica queria aceitar, mas o Belenenses não. Essa situação criou um pouco de atrito. Eu já tinha tido a minha filha, então estava desejoso para ir.

zz: Acredito que tenha sido um pouco frustrante, sabendo que a decisão não passou por si...

MR: É bastante frustrante. Na altura, as pessoas pensavam que eu não queria sair de Lisboa. É mentira. A única vez que eu rejeitei uma proposta do estrangeiro foi a do Valladolid, porque eu queria estar com a minha mulher, como tinha dito anteriormente. Muitas pessoas acham que a decisão foi minha e dizem: 'Se ele tivesse ido para o estrangeiro, podia ter dado jogador'.

zz: Acabou por ficar em Belém, onde teve mesmo a chance de jogar na Europa League. Qual foi a sensação de atuar numa competição deste calibre, por uma equipa que lhe diz muito e que não estava habituada a esses palcos?

MR: Foi uma honra muito grande. Eu adoro o Belenenses e toda a gente sabe. Aliás, eu e a minha filha somos sócios do clube. Ouvir o hino da Europa League no relvado foi brutal. Deixou-me sem palavras. Apesar de eu só ter feito dois jogos na prova, porque me lesionei entretanto.

zz: Que lesão teve?

MR: Uma rotura de quatro centímetros, que me afastou por três meses.

zz: Como correu a recuperação?

MR: Foi muito difícil ver os meus companheiros a jogar, com os estádios cada vez mais cheios. Nessa altura, o Belenenses colocava sempre muitos adeptos nos recintos. Para além disso, apareciam muitos olheiros. Custou mesmo muito.

«Domingos Paciência não contava mais comigo e, como tal, inventou uma desculpa»

zz: Seguiu para o CD Cova da Piedade e, posteriormente, para o Estrela da Amadora. Depois destas passagens, optou por colocar a carreira em stand-by. Quais foram os motivos por detrás desta decisão?

MR: Por causa de uma outra lesão, eu não joguei os últimos três jogos da temporada, quando o Domingos Paciência chegou ao clube. Enquanto eu estava de férias, vi o meu nome nos jornais associado à lista de dispensas. Eu fiquei surpreendido e pensei: 'Algo não está bem'. Fui falar com o treinador e expliquei-lhe que não queria ter arriscado nos últimos embates, de forma a estar bem para a pré-época. No entanto, ele disse-me que a lesão que eu tinha era bastante grave, algo que era completamente mentira. Deu-me o exemplo do Jeffrén, um jogador que ele tinha treinado no Sporting, que nunca mais teve o mesmo rendimento. No entanto, o que me deu a entender é que ele não contava mais comigo e, como tal, inventou uma desculpa. A verdade é que eu joguei sempre a partir daí, nunca mais estive lesionado.

zz: Foi algo que te magoou?

qO mister Domingos disse-me que a lesão que eu tinha era bastante grave, algo que era completamente mentira

Miguel Rosa sobre a saída do Belenenses

MR: Preferia que tivessem sido sinceros comigo. Depois, o presidente mandou-me procurar outro clube, mas eu não queria sair porque tinha mais um ano com o Belenenses. Os dirigentes continuaram a dizer que eu não ia jogar e, entretanto, o Cova da Piedade mostrou interesse. Em termos de ordenado, pagavam-me o mesmo, já para não falar do prémio de assinatura. Eu aceitei, mas fui empurrado. No entanto, arrependo-me da minha decisão, visto que tinha quatro ou cinco emblemas da I Liga interessados. Eu pensava que depois da segunda volta iria ter novamente as portas abertas, mas a verdade é que ninguém me quis. A partir daí, foi sempre a descer. 

zz: Lembra-se dos emblemas que estiveram interessados em si, à época?

MR: Um desses clubes era o Rio Ave. Sei que eram conjuntos que costumavam ficar no meio da tabela, mas já não me lembro de todos.

zz: Após uma breve passagem pelo Estrela da Amadora, como é que surgiu a oportunidade de ingressar no Sintrense, emblema onde atua atualmente? Foi algo repentino?

@Miguel Rosa/Instagram

MR: Eu assinei um ano pelo Estrela da Amadora, onde estava a começar a entrar no meu ritmo. Porém, acabei por ter uma lesão contra o Benfica B, em que rompi o ligamento cruzado anterior e fiquei quase um ano e meio sem jogar. O Estrela da Amadora não renovou o contrato comigo, apesar do mister Ricardo Shéu ter falado com os dirigentes para eu recuperar num clube que tivesse as condições necessárias. Quando fiquei bem fisicamente, após um tempo alargado, pensei que ainda teria o interesse de algumas equipas. Uma delas foi o FC Alverca, mas os responsáveis queriam que eu fosse treinar à experiência. Eu disse: 'Com todo o respeito, pela carreira que eu tive e pelo currículo que tenho, à experiência eu não vou'. Entretanto apareceu o Sintrense e eu pensei: 'Prefiro dar um passo atrás para jogar do que tentar ir à experiência num clube, não correr bem, e eles dizerem-me que estou acabado'. Confesso que nos dois primeiros meses ainda tive algum receio por causa do joelho. Parecia que não sabia jogar à bola, caia sozinho. Contudo, quando voltei a ganhar massa muscular, voltei a jogar e as coisas até correram bem. Não sei qual é o clube que eu vou agora, mas tenho a certeza que o meu rendimento será diferente, porque já estou a 100 por cento.

zz: Ainda esteve no Sindicato de Jogadores para averiguar a sua situação, antes de definir o futuro, correto?

MR: Sim, estive lá três semanas.

zz: Foi importante para si retornar a essa rotina futebolística e voltar a conviver com outros jogadores com uma situação semelhante à sua?

MR: Sim, foi mesmo determinante, até porque fazíamos jogos de treino com outras formações. Marquei contra o FC Alverca B e contra os juniores do Belenenses, algo bastante importante para voltar a ganhar aquele cheirinho, numa altura em que eu ainda estava com algum receio para ir ao choque. Depois cheguei a um campeonato ao qual não estava habituado. Nunca tinha atuado no Campeonato de Portugal, onde se apanha muitos campos sintéticos. O meu medo partia desse fator. 

zz: Como é que descreveria esta campanha futebolística? Houve algum aspeto em específico em que sentiu que não esteve ao melhor nível?

MR: Na máxima força nunca estive. Senti que o meu remate não ia com a potência habitual, algo em que eu era bastante bom. No entanto, na reta final da época, eu queria que a temporada se prolongasse por mais um tempinho porque senti que já estava a entrar nos eixos. É por isso que eu digo que o próximo ano vai ser totalmente diferente.

zz: Gostava de experienciar uma realidade fora de Portugal?

MR: Nesta fase, estou aberto a todas as possibilidades. O que eu quero é voltar a jogar. Sinto-me capaz. Vai ser outro Miguel Rosa.

Ler artigo completo