A importância das férias. Entre os benefícios físicos e psicológicos

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Catarina e Beatriz relegavam as férias para segundo plano, mas acabaram por perceber que isso tinha de mudar. Conheça os benefícios das férias para o corpo e a mente.

Catarina Marques estava habituada a trabalhar quase ininterruptamente. Muitas das vezes, não aproveitava as folgas e não tirava férias. Um dia, a “fatura” chegou: entrou em burnout. Também conhecido como síndrome do esgotamento profissional, é um estado de exaustão física, emocional e mental causado por stress prolongado e excessivo no ambiente de trabalho. É uma condição séria que pode afetar significativamente a qualidade de vida e o desempenho profissional de um indivíduo, como explica ao i. “Estou no mundo corporativo há quase 20 anos e sempre pensei que devia dar o meu máximo. E que ‘dar o meu máximo’ significava não parar. Só que comecei a sentir-me muito mal física e psicologicamente”, confessa a mulher de 46 anos. Aquilo que predominava em si era o “sentimento de estar esgotada emocionalmente, sem energia para enfrentar as tarefas diárias”.

Além disso, garante que enfrentou uma espécie de “despersonalização” quando começou a ter uma atitude distante em relação ao trabalho e às pessoas no ambiente de trabalho, incluindo colegas e clientes. E, apesar de se esforçar, o “sentimento de ineficácia e falta de realização no trabalho” dava cabo de si, tal como os sintomas físicos. “O cansaço tornou-se crónico, tinha dores de cabeça frequentes, dormia muito mal e o meu sistema imunitário estava cada vez mais enfraquecido”, sublinha.

“Houve um momento em que disse ‘Basta!’ e comecei a desligar o telemóvel durante grande parte das folgas e a ter férias. Foi life changer, como se costuma dizer no mundo anglo-saxónico. Hoje em dia, sinto-me francamente melhor e sei a importância do descanso para a nossa saúde”, frisa.

De facto, vários estudos exploram os benefícios psicológicos e físicos das férias e confirmam a perspetiva de Catarina. Por exemplo, um estudo realizado pela American Psychological Association mostrou que as férias podem reduzir significativamente os níveis de stress e ansiedade. Os participantes que tiraram férias relataram sentir menos stress e mais energia ao regressarem ao trabalho. O estudo utilizou questionários e medidas fisiológicas para avaliar os níveis de stress antes, durante e após as férias, registando uma diminuição substancial no stress percebido e melhorias na qualidade do sono e bem-estar geral.

Por outro lado, pesquisas publicadas no Journal of Happiness Studies indicam que as férias aumentam o bem-estar subjetivo e a satisfação com a vida. Os efeitos positivos podem começar antes das férias, devido à antecipação positiva, e durar até semanas após o regresso. E ainda existem mais benefícios: segundo um estudo da Harvard Business Review, funcionários que tiram férias regularmente mostram um aumento na criatividade e produtividade. A mudança de ambiente e a desconexão das rotinas diárias permitem que a mente relaxe e se regenere, promovendo novas ideias e soluções criativas.

A saúde física e a dos relacionamentos

Relativamente aos pontos positivos para a saúde física, um estudo publicado no Framingham Heart Study, que acompanhou homens ao longo de nove anos, descobriu que aqueles que não tiravam férias anuais tinham um risco 30% maior de sofrer um ataque cardíaco em comparação com aqueles que tiravam férias regularmente. Pesquisas realizadas pela National Sleep Foundation mostram que as férias podem melhorar a qualidade do sono. Os participantes relataram dormir melhor e acordar menos durante a noite durante as férias e nos dias seguintes ao regresso. E, ainda, um estudo do European Journal of Work and Organizational Psychology demonstrou que as férias podem aumentar os níveis de energia e vitalidade. Os participantes relataram sentir-se mais enérgicos e menos exaustos após as férias.

Já uma pesquisa publicada no Psychosomatic Medicine explorou a relação entre a redução do stress e a função imunitária. Os resultados indicaram que a redução do stress durante as férias pode fortalecer o sistema imunitário, tornando o corpo mais resistente a doenças. O estudo utilizou medidas imunitárias para avaliar a resposta do sistema antes e após as férias, encontrando melhorias significativas. Juntando a saúde física à psicológica, um estudo da University of Arizona investigou como as férias influenciam a satisfação nos relacionamentos. Os resultados mostraram que passar tempo de qualidade com parceiros e familiares durante as férias melhora a comunicação e a conexão emocional. Os participantes relataram maior satisfação nos relacionamentos e uma sensação de maior proximidade após as férias, destacando a importância de tempo livre partilhado para fortalecer os laços interpessoais.

Prova disso é o caso de Beatriz Lopes, de 34 anos, que antes apenas tirava folgas – que raramente coincidiam com as do companheiro – e relegava as férias para segundo plano. Até que o psicólogo que a acompanha quinzenalmente sugeriu que colocasse o seu bem-estar em primeiro lugar e refletisse acerca do seu relacionamento, que já estava “a sofrer algum desgaste” devido ao pouco tempo que o casal passava junto. Beatriz tirou as primeiras férias “a sério” no ano passado e ficou “muito feliz” por ver como tudo mudou. “Logo nos primeiros dias começámos a falar mais, a partilhar pensamentos e sentimentos… Enfim, a ter uma conexão que já não tínhamos há muito tempo! Foi a melhor escolha que tomei”, assegura a jovem que trabalha na área da comunicação.

A realidade dos EUA

Ainda não existem dados oficiais em Portugal, mas alguns países contabilizam os dias de férias que não são aproveitados. Por exemplo, em 2019, foi anunciado que os trabalhadores norte-americanos não haviam aproveitado um número recorde de dias de férias no ano anterior – 768 milhões de dias, um aumento de 9% em relação a 2017 – de acordo com uma pesquisa da U.S. Travel Association, Oxford Economics e Ipsos. Dos dias não utilizados, 236 milhões foram perdidos completamente, o que equivale a 65,5 mil milhões de dólares – aproximadamente 61 mil milhões de euros – em benefícios perdidos. Mais de metade (55%) dos trabalhadores relataram que não utilizaram todo o tempo de folga concedido. Embora os trabalhadores norte-americanos deixem mais dias não utilizados em cima da mesa, também tiram mais dias de folga remunerada. Também se chegou à conclusão de que os trabalhadores dos EUA tiraram uma média de 17,2 dias em 2017 e 17,4 dias em 2018. Também se concluiu que o emprego nos EUA se encontra em bons níveis e a força de trabalho está a aumentar, e os trabalhadores norte-americanos estão agora a ganhar mais folgas remuneradas – 23,9 dias de folga remunerada em 2018 em comparação com 23,2 dias em 2017.

O número total de dias não utilizados aumentou 9% em 2018 porque o número de dias ganhos está a aumentar mais rapidamente do que os dias de folga remunerados utilizados. O número de dias de folga remunerados utilizados tem aumentado lentamente desde 2014. O último estudo também identificou um custo económico mais amplo. Mais de 80% dos trabalhadores norte-americanos dizem que é importante usar o tempo livre para viajar, concluiu o relatório, mas na verdade não fazem a viagem. Se utilizassem o seu tempo livre para viajar, a oportunidade económica ascenderia a 151,5 mil milhões de dólares – aproximadamente 141 mil milhões de euros – em despesas adicionais com viagens e a dois milhões de postos de trabalho.

Razões como custo, dificuldade em fugir do trabalho e problemas com viagens aéreas foram citadas no estudo como as principais barreiras às viagens. “Quando vejo quantos dias de férias não foram utilizados, não vejo apenas um número – vejo 768 milhões de oportunidades perdidas para recarregar energias, experimentar algo novo e conectar-se com a família e amigos”, disse o presidente e CEO da U.S. Travel Association, Roger Dow. “No entanto, é uma triste verdade que o custo seja a principal barreira para viajar. Apesar dos desafios financeiros de viajar, existem alternativas acessíveis para explorar a América – seja uma viagem de carro pela costa ou uma viagem de um dia a uma cidade vizinha”.

Consistente com relatórios anteriores de viagens nos EUA, o estudo mostra que os “planeadores” de férias usam mais tempo e tiram férias mais longas e impactantes do que os “não planeadores”. Quase metade (46%) dos lares americanos não reserva tempo para planear as suas férias e perde uma série de benefícios. Os chamados “planeadores” usaram em média 12 dias de folga remunerados para viajar, em comparação com cinco dias usados pelos “não planeadores”. 23% dos “não planeadores” não tiraram férias ou viajaram nos então últimos dois anos, em comparação com 4% dos planeadores. Os planeadores tendem a ser mais felizes em geral – em tudo, desde os seus relacionamentos pessoais, a sua saúde e bem-estar, até ao seu trabalho.

Embora os americanos mais velhos tirem mais férias do que os grupos etários mais jovens, os millennials utilizam uma maior parte dos seus dias de férias para viajar (63%). Muitas vezes no auge das suas carreiras, os membros da Geração X são aqueles com maior probabilidade de viajar de férias para evitar o esgotamento (63%) em comparação com os Millennials ou Baby Boomers (ambos 55%).

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