Na última semana, a loucura voltou aos Estados Unidos (e não só) com o regresso do torneio final da primeira divisão do basquetebol universitário. Como tal, também chegou a altura do ano em que o zerozero convida Nuno Soares, um dos portugueses mais atento ao mundo da NCAA, para nos colocar a par de tudo o que já aconteceu e daquilo que podemos esperar. O início desta March Madness, como não podia deixar de ser, ficou marcado por resultados surpreendentes e foi por aí que começámos. «Tem havido algumas surpresas, como há sempre e é natural. Até o branding do torneio é a puxar à surpresa e ao facto de ser inesperado, porque é um torneio de mata-mata, de um jogo apenas, em que, muitas vezes, as equipas podem nem se conhecer. Existe muita variabilidade dentro do torneio e já tivemos algumas surpresas, como a derrota de Arizona, que era seed número dois e um favorito a chegar longe, contra Princeton, que era um underdog», começou por referir Nuno, antes de apontar outras surpresas, como Purdue, Duke, Kentucky, Baylor ou até os Kansas Jayhawks, campeões em título, que também já não estão no torneio. @Getty / A prova entrou na última madrugada no Sweet Sixteen, uma espécie de oitavos de final que são, na verdade, as semifinais regionais, e, apesar das várias surpresas já mencionadas, ainda seguem em prova várias das universidades apontadas como favoritas. Para Nuno, há duas que sobressaem das restantes. «A haver grandes favoritos, são as universidades de Houston e Alabama, os números um do Midwest e do Sul, respetivamente. Houston foi a universidade consistentemente mais forte durante o ano inteiro e é, se calhar, a universidade que mais pessoas preveem que venha a conquistar o troféu. Alabama tem estado muito forte e é uma equipa bem treinada, com talento de NBA e um sistema ofensivo muito atrativo de ver. Depois, há outras equipas fortes em quem vale a pena manter o olho: Texas, Creighton e talvez as equipas do Oeste, Gonzaga e UCLA [depois desta entrevista, Gonzaga eliminou UCLA]», atirou. Brandon Miller já é apontado como possível segunda escolha do próximo draft @Getty / Um dos grandes motivos de interesse deste torneio, todos os anos, é perceber em que nível estão e poder ver a competir algumas das possíveis futuras estrelas da NBA. De acordo com Nuno Soares, «numa perspetiva de draft, não existe ninguém que tenha explodido nestas duas rondas», ainda que Nick Smith Jr. mereça uma menção pelo que está a fazer depois de ter estado lesionado durante grande parte da temporada. Ainda assim, não faltam jogadores com um tremendo potencial ainda em prova e que valem a pena manter debaixo de olho. «Se tivesse de escolher um nome para se focarem, diria o Brandon Miller, porque é o melhor jogador de Alabama, uma equipa favorita ao torneio. É um jogador crucial na equipa e o seu stock tem subido bastante ao longo da temporada. Ao ponto de, nestas últimas semanas, existir algum zunzum se será ou não uma discussão entre ele e o Scoot Henderson para número dois deste draft», destacou. Jarace Walker é outros dos nomes manter debaixo de olho @Getty / Foram destas contas estão nomes como Victor Wembanyama, a mais que provável primeira escolha do próximo draft, Scoot Henderson, jogador mais vezes apontado ao segundo lugar, e ainda os gémeos Thompson, dois jogadores apontados ao top 10. Tudo isto porque estão a jogar, respetivamente, na Europa, na G-League e na Europa. Estes caminhos alternativos à NCAA têm ganho cada vez mais notabilidade - até pelas críticas ao modelo da NCAA - e já se fala em mudança de paradigma, mas talvez seja demasiado cedo para tal. «A G-League Ignite vai ser sempre um projeto de “entra e sai”, mas está começar a alcançar alguma maturidade. Depois, existe outra opção que também é relevante para este draft, a Overtime Elite (OTE), onde estão a jogar os gémeos Thompson, o Amen e o Ausar, e que também é uma alternativa para chegar à NBA. O basquetebol europeu sempre existiu, aí podemos falar do basquetebol tornar-se progressivamente mais global, mas eu continuo a achar que os americanos não veem a Europa como uma alternativa para eles. Só o facto de as opções existirem, irá ter um impacto daqui para a frente, mas isto não quer dizer que os prospects mais fortes optem sempre por um caminho fora do basquetebol universitário. O ano passado, por exemplo, o Paolo Banchero, o Chet Holmgren e o Jabari Smith Jr. jogaram todos NCAA», analisou. «Em relação à NCAA, sinto que talvez comece a existir um relaxamento em relação a certas regras. Não acho que o basquetebol universitário alguma vez vá ser virado para o lucro dos jogadores, mas só o facto de já se falar sobre ser possível eles ganharem algum dinheiro com a sua própria imagem e não serem multados por causa disso, já é andar cinco centímetros para a frente. Ainda estamos num período experimental para ver de que maneira isto vai impactar os prospects nos próximos anos», continuou, antes de explicar que não consegue ficar «super otimista» quanto às mudanças porque a «galinha dos ovos de ouro» das universidades é o futebol americano e, aí, ainda não há alternativa à NCAA. Outros dos motivos de interesse deste torneio ao longo dos últimos anos, especificamente para os adeptos lusos, tem sido acompanhar os jogadores portugueses em prova. No entanto, depois de várias participações, com destaque claro para Neemias Queta, e apesar das gerações portuguesas estarem repletas de talento, com nomes como Ruben Prey, André Cruz, Diogo Seixas (estará na NCAA na próxima época) ou Hugo Ferreira, a verdade é que o único nome luso no torneio masculino é Stanley Borden, que não somou qualquer minuto. @FPB «A probabilidade de ele ter uma carreira ou de ter minutos consideráveis em Duke vai ser sempre limitada. Acompanhei o basquetebol dele no Europeu de Sub-20 e é um big um pouco mais tradicional, no sentido em que é um jogador alto e não é super móvel. Tem uma coisa boa, que é lançar bem de fora. Tenho alguma dificuldade em achar que vai conseguir ter um breakout em Duke e também é preciso perceber quais são as expetativas dele e se prioriza terminar o grau académico ou se prefere transferir-se para uma universidade que não seja tão forte, onde possa jogar mais», acrescentou. @FPB «Uconn, especialmente no basquetebol feminino, é praticamente uma dinastia. A Inês Bettencourt foi recrutada depois do Europeu Sub-18 e veio parar a um dos grandes programas do basquetebol universitário feminino. Ela não tem sido uma constante presença no cinco inicial, mas tem tido tempo para jogar e para se mostrar, o que é muito bom numa idade tão nova», concluiu. Pode seguir o trabalho de Nuno Soares na newsletter semanal do Borracha Laranja e na revista Draft Gems, um magazine online que criou com António Dias e Artur Freitas.Dos destaques individuais à possível mudança de paradigma
O caso de Stanley Borden e duas portuguesas em evidência
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