Quando falamos em gerações de ouro, imaginamos um conjunto de equipas acima do seu hábito, capazes de lutar por títulos por conterem uma série de jogadores de alto nível. Ora, a Eslovénia nunca teve tamanha dimensão individual e, por conseguinte, coletiva. Mas, se atualmente vive um período muito promissor, no início do século XXI teve a primeira grande ilusão para os adeptos. Terminou com uma grande polémica e, pois claro, em tremenda desilusão.
Zlatko Zahovic 10 títulos oficiais |
Zlatko Zahovic, jogador com passado em Portugal, com passagens sonantes no Vitória SC, FC Porto e SL Benfica, está no epicentro. Dessa geração, que era o melhor jogador, e dessa polémica, que aconteceu entre si e Srecko Katanec, o selecionador da Eslovénia na altura.
Significou a sua ida para casa ao fim do primeiro jogo no Mundial 2002 e a oportunidade perdida de concretizar o melhor momento da história do país.
Mas vamos por partes...
Para se entender o contexto, convém lembrar que a Eslovénia apenas existe como país independente desde 1991, altura em que conseguiu desmembrar-se da ex-Jugoslávia. Isso explica, por exemplo, que o tal selecionador Katanec tenha sido figura relevante nas seleções jugoslavas que disputaram o Euro 84 e o Mundial 90.
A grande rival Croácia, que também conseguiu desmembrar-se em 1991, logo potenciou um conjunto de craques, como Boban ou Suker, que deixaram marca no Mundial 98.
Zahovic abraçado a Miran Pavlin @Getty /
A Eslovénia veio a seguir. Zahovic era a grande figura, Acimovic estava a emergir e Pavlin também tinha ganho estatuto pelo dourado golo à Ucrânia (1-1), que levou a equipa ao Euro 2000. Nessa competição, qual poesia, seria contra a Jugoslávia o primeiro jogo. Com uma exibição soberba de Zahovic (dois golos e uma assistência para Pavlin), a Eslovénia chegou ao 3-0 e ainda viu o adversário ficar com menos um, por expulsão de Mihajlovic. Seria, pois, com um grande amargo de boca que veriam o adversário recuperar na última meia hora (3-3). Seguiu-se derrota contra Espanha (1-2) e empate frente à Noruega (0-0). A Eslovénia estava fora da competição, mas já sabia o que era pisar grandes palcos.
Mundial com conflito fatal
Dois anos depois, aquela geração conseguira uma proeza ainda maior: o bilhete para a Coreia do Sul e Japão, onde se disputou o Campeonato do Mundo de 2002. A Espanha estava outra vez no caminho, mas o resto do grupo permitia sonhar com um apuramento.
Só que tudo desabou logo no primeiro jogo. Frente aos espanhóis, a perder 1-0, Katanec tirou Zahovic do campo. No final do jogo (3-1), tudo desabou.
Festejos entre ambos na qualificação para o Mundial @Getty /
«Ele lutou com o treinador e a federação na altura decidiu mandá-lo para casa», contou-nos Miran Pavlin, na entrevista dada ao zerozero este sábado. Mas acrescentou: «Isto não foi só por causa do que aconteceu nessa competição, já vinha de outras coisas.»
Katanec, em lágrimas numa conferência seguinte, anunciou que abandonaria a seleção no final da prova e mostrou-se bastante surpreendido e magoado com a atitude do camisola 10.
Logo depois, Zahovic pediu desculpas em público: «Estou muito arrependido pelas coisas que disse no balneário depois do jogo. Tenho perfeita consciência que foram palavras muito fortes. Quero pedir desculpas a toda a gente, à organização e ao Srecko Katanec. Na altura, achei que era a única reação que podia ter. Isto tem de ficar por aqui ou não podemos continuar no Campeonato do Mundo.»
Pois bem, a equipa fez o restante Mundial, mas Zahovic não. Os responsáveis da federação eslovena decidiram expulsar o jogador da concentração e o então atleta do Benfica voltou mais cedo para casa.
«Estas coisas acontecem. Era o nosso melhor jogador, mas no fim todos aceitaram a saída dele da equipa», disse-nos, agora, Pavlin, num claro indício de que se ultrapassou uma linha.
Uns dias depois, já com a Eslovénia eliminada, Zahovic teve uma posição bastante diferente, numa entrevista ao Mladina.
«Ele começou a provocar-me no primeiro dia de preparação. Estava sempre a deitar-me abaixo e a humilhar-me, mas já estava à espera disso. (...) Não percebo como é que se pode abdicar de um jogador como eu, que pode decidir um jogo de um momento para o outro. Posso não ter feito um grande jogo, mas acho que não merecia sair. Ele não percebeu que sou o único que faço a diferença», disse Zahovic, que voltaria à seleção para ainda a representar por mais dois anos.
Ao contrário do selecionador, que saiu mesmo depois daquela fase final. À derrota contra os espanhóis, a Eslovénia somou desaires contra África do Sul (1-0) e Paraguai (3-1). Pavlin não esquece...
«Nesse grupo, nós teríamos que ser segundos classificados, à frente do Paraguai e da África do Sul. Tínhamos superado um grupo de qualificação muito difícil, com Rússia, Suíça e Jugoslávia. Fomos segundos e depois, no playoff, eliminámos a Roménia. Aquela boa geração estava no ponto, os jogadores estavam nos melhores momentos das suas carreiras», finalizou.
Assim se explica um final sem glória. Nos dias que correm, há a esperança de que Oblak e Sesko sejam capazes de um passo seguinte. Sem, por agora, polémicas com o selecionador...