Germano Almeida diz que “a posição voltou a estar inconciliável” entre Israel e o Hamas e explica porque concorda com o veto norte-americano a um cessar-fogo na região. Sublinha a necessidade de atenção à questão da Ucrânia "porque as próximas semanas vão ser decisivas para o futuro da Ucrânia, enquanto país soberano e independente”.
O Hamas alertou, neste domingo, que nenhum dos reféns, sequestrados durante o ataque em Israel em 7 de outubro e ainda detidos na Faixa de Gaza, sairá "vivo" sem negociações e sem "respostas às exigências" do movimento palestiniano.
“Acho que a conclusão que se tira disso é que, depois da retoma da operação militar israelita na sequência do fim das tréguas (…), o Hamas percebeu que Israel voltou ainda com mais em força e, sobretudo, estendendo mais a operação a Sul, e claramente percebe que não tinha muito mais a ganhar, acenando com a possibilidade de uma retoma desse tipo de trocas”.
"Neste momento, a posição voltou a estar inconciliável: Israel não tem condições de aceitar um cessar-fogo enquanto houver reféns e o Hamas não tem vantagem em libertar reféns enquanto a operação israelita continua a agravar".
EUA vetam cessar-fogo em Gaza
Sem a condenação do Hamas, os Estados Unidos rejeitaram o apelo de António Guterres e vetaram uma resolução da ONU para tréguas imediatas na Faixa de Gaza.
“Eu sei que é polémico, mas eu estou aqui para dar opinião e eu concordo com o veto porque considero que Israel não tem condições de fazer o cessar-fogo enquanto o Hamas puder voltar a fazer um 7 de Outubro. Portanto, o trabalho de Israel em Gaza não terminou”.
Mas Germano Almeida sublinha que “um horror não justifica o outro”.
“É verdade que o número de mortos civis em Gaza, na sequência das operações israelitas, é inaceitável e insustentável, sem qualquer dúvida. Por outro lado, não nos podemos esquecer que o número de mortos civis em Gaza não tem só responsabilidade de Israel, também tem responsabilidade do Hamas que se quisesse proteger esses civis poderia fazê-lo com relativa facilidade, porque tem 500 km de túneis nos subterrâneos de Gaza e não se preocupou em construir um abrigo de civis, sabendo que Israel, com alguma regularidade, faz estes ataques”.
No que respeita à posição norte-americana, “na minha opinião, limitar-se a condenar os americanos por fazer esse veto é não perceber o que tem sido a posição americana nesta crise. A posição americana tem sido a de maior dissuasão na região. Fê-lo através do posicionamento dos porta-aviões no Mediterrâneo oriental, que foi fundamental para não alastramento do conflito na região”.
“Os americanos estão também a fazer um trabalho de dissuasão junto de Israel no sentido de a obrigar a uma maior necessidade da questão humanitária, o próprio acordo de tréguas assim o implicou”.
Por um lado os EUA vetam o cessar-fogo, por outro dão uma autorização preliminar para a venda de 100 milhões em munições para Israel.
“Na minha opinião, não há contradição. Porque a posição americana é de perceber que enquanto o Hamas tiver a hipótese e capacidade militar de atacar Israel o problema continua”.
Os avanços das tropas israelitas
Germano Almeida sublinha que “numa guerra tão complexa como esta, é muito difícil acreditarmos ou sabermos se as fontes dos dois lados são corretas”.
"De todo modo, Israel tem vindo a dizer que tem conseguido nestes mais de 2 meses eliminar grande parte dos dos terroristas do Hamas e sabemos que muitos deles foram eliminados (…) mas também sabemos que o Hamas aproveitou a semana de tréguas para deslocar grande parte das suas forças a Sul"
EUA tentam promover coligação dos países árabes moderados na região
Germano Almeida acredita ser fundamental perceber “a coligação que os Estados Unidos têm vindo a tentar promover junto dos países árabes moderados na região com quem Israel estava a negociar antes de 7 de Outubro”.
"Logo a seguir ao cessar-fogo e o veto americano, que foi muito criticado pela pela pela comunidade Internacional, Blinken reuniu no Qatar com os com os seus homólogos de Turquia Palestina, Irão, Arábia Saudita, Jordânia, Qatar. E isso é importante para se perceber também que foi grande parte desses países que agora propuseram o cessar-fogo humanitário que amanhã vai ser votado na Assembleia Geral da ONU.
Visita de Zelensky aos Estados Unidos
O dinheiro para a Ucrânia está a acabar e é preciso resolver o impasse em Washington. O apoio tanto dos EUA como da UE está a reduzir e "as próximas duas semanas vão ser decisivas para o futuro da Ucrânia, enquanto país soberano e independente”.
“A questão da Ucrânia é mais premente para todos nós porque as próximas semanas e meses vão de facto definir o que são as fronteiras da Ucrânia”.
"Se até ao Natal não houver uma aprovação de algo para basicamente até 2020 para o ano 2024, (…) os Europeus sabem que há pela primeira vez um risco real nos próximos meses de passarem a ser eles os principais apoiantes da Ucrânia"