"A Saúde Pública está vigilante e ativa": guia para entender o sarampo

8 meses atrás 108

País

Após três casos de sarampo terem sido detetados Portugal, em não residentes e não vacinados, a SIC foi perceber, junto da infecciologista pediátrica Isabel Esteves, de que forma é que estes casos poderão ter impacto na sociedade portuguesa.

 guia para entender o sarampo

Getty Images

A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou na passada terça-feira a existência de um terceiro caso importado de sarampo, no Norte do país, sem ligação com dois casos registados recentemente na região de Lisboa. A SIC foi falar com a infecciologista pediátrica Isabel Esteves, para perceber se estes casos poderão ter impacto na sociedade portuguesa.

Segundo o Serviço Nacional de Saúde (SNS), o sarampo foi erradicado em Portugal em 2016. Na Europa os casos de sarampo têm sofrido um aumento, sobretudo nos últimos meses.

“O facto de termos três casos de sarampo não é preocupante, ainda assim temos de estar sempre alerta. De qualquer das formas, estes são casos isolados, situações esporádicas, que estão longe de se assemelhar à existência um surto”, defende a especialista em Infecciologia Pediátrica do Hospital de Santa Maria.

Portugal registou o primeiro caso de sarampo importado dia 10 de janeiro, numa criança de 20 meses não residente em Portugal, que não estava vacinada contra a doença.

Posteriormente a DGS comunicou, na passada sexta-feira, a deteção de um segundo caso de sarampo numa criança de sete anos, que teve contacto com o caso importado confirmado a 11 de janeiro, acrescentando ser expectável o aparecimento de casos suspeitos nos próximos dias.

O terceiro novo caso de sarampo, detetado no Norte do país, foi identificado num homem de 54 anos não vacinado que estava de passagem por Portugal.

Ainda assim, a especialista não considera que a deteção destes três casos seja uma situação preocupante, tendo em conta que “as coberturas acima de 95% em quase todas as vacinas do Plano Nacional de Vacinação (PNV) dão-nos segurança”.

“A Saúde Pública está super ativa e vigilante e isso é ótimo. Quando existem casos suspeitos são, desde logo, assinalados e isolados, e isso significa que os mecanismos estão a funcionar”, acrescenta.

Questionada sobre como é que esta situação se poderia eventualmente inverter, a médica refere que só num cenário hipotético, no qual “tinham de haver vários surtos não controlados”, situação que não se prevê que aconteça “se todos os mecanismos de segurança se mantiverem ativos”.

O que é o sarampo?

O sarampo é uma infeção provocada por um vírus, caracterizada por febre, tosse, conjuntivite, corrimento nasal e manchas vermelhas na pele, denominadas por exantemas.

A transmissão ocorre por contacto direto, através de gotículas infecciosas ou por propagação no ar, quando a pessoa infetada tosse ou espirra.

Habitualmente a doença é benigna, mas, em alguns casos, pode ser desenvolver-se para estados mais graves, sendo potencialmente perigosa e até fatal.

Quais são os sinais e sintomas da doença?

No início do contágio existe febre e mal-estar, seguido de corrimento nasal, conjuntivite e tosse.

De seguida e em algumas situações podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, cerca de um a dois dias antes do aparecimento da erupção cutânea.

O aparecimento da erupção cutânea (“manchas” que se iniciam na face e que depois se espalham para o tronco e para os membros) pode acontecer conjuntamente com períodos de febre alta.

O contágio pode ocorrer desde 4 dias antes e até 4 dias após o início da erupção cutânea. O período de contágio pode ser mais prolongado nos doentes imunocomprometidos.

O que fazer em caso de deteção dos sintomas?

Contacte a Linha Saúde 24 através do número 202 24 24 24 Evite o contacto com outras pessoas para prevenir o contágio (até 4 dias após o início da erupção cutânea); Deve realizar análises ao sangue, urina e secreções orais, cujos resultados são enviados para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) para confirmação ou não do diagnóstico de sarampo; Comunique aos profissionais de saúde quais as pessoas com quem contactou durante o período de contágio, para que possam ser sinalizadas.

Se tiver sarampo, qual o tratamento?

A maioria das pessoas recupera apenas com o tratamento dos sintomas. Os antibióticos não são eficazes contra o vírus do sarampo, mas são prescritos pelo médico para tratar as complicações, como pneumonia e otite, se ocorrerem.

Casos na Europa em expansão

Só no último ano, o aumento nos países da União Europeia (UE) foi 30 vezes superior ao de 2022, facto que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a emitir uma notificação europeia o mês passado.

Mais de 30.000 casos de sarampo foram notificados por 40 dos 53 estados-membros da UE entre janeiro e outubro de 2023. Um valor 30 vezes superior ao registado em 2022, onde apenas foram notificados 941 casos durante todo o ano.

“Observámos na Região [Europeia] não só um aumento de 30 vezes nos casos de sarampo, mas também quase 21.000 hospitalizações e cinco mortes relacionadas com o sarampo. Isto é preocupante”, explicou o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Henri P. Kluge.

Quais as causas para este aumento dos casos?

Em 2023, o sarampo afetou todas as faixas etárias, com diferenças significativas na distribuição etária dos casos entre os países. No geral, dois em cada cinco casos ocorreram entre crianças de 1 a 4 anos de idade e um quinto dos casos ocorreu entre adultos com 20 anos ou mais.

Este ressurgimento do sarampo é, em grande parte, atribuído ao retrocesso na cobertura vacinal nos países da UE entre 2020 e 2022. A pandemia da covid-19 teve um impacto significativo no sistema de imunização neste período, resultando numa acumulação de crianças não vacinadas ou subvacinadas.

A cobertura nacional com a primeira dose da vacina (que ocorre aos 12 meses da criança) contra o sarampo diminuiu de 96% em 2019 para 93% em 2022, enquanto a cobertura da segunda dose (administrada aos cinco anos) caiu de 92% em 2019 para 91% em 2022.

Ao todo, mais de 1,8 milhões crianças na UE perderam a vacinação contra o sarampo entre 2020 e 2022.

A única solução? Vacinar

De acordo com a OMS, existe apenas uma forma de prevenir esta doença: a vacinação.

Em entrevista, a médica reforça essa necessidade de vacinar as crianças, de forma a que Portugal mantenha as “ótimas taxas de vacinação”.

De acordo com uma nota publicada pela UNICEF em dezembro, estima-se que 931.000 crianças na Europa e no centro da Ásia não foram vacinadas parcial ou totalmente contra o sarampo entre 2019 e 2021.

Porquê que Inglaterra tem tantos casos?

Inglaterra é um dos países europeus que está a registar um maior número de casos nas últimas semanas. A BBC conta que no último mês, houve mais de 50 crianças a necessitar de tratamento, “o número mais elevado registado nos últimos anos”

Os dados da Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido (UKHSA) revelam que as West Midlands (condado onde se insere a cidade de Birmingham) registaram pelo menos 167 casos confirmados em laboratório e 88 casos prováveis.

Segundo a médica, “a existência de mitos enraizados, associados a convicções não científicas relacionadas com o surgimento de autismo", são justificação para o surgimento de surtos no país.

Tendo em conta que o sarampo é uma doença infetocontagiosa, “é preciso uma taxa de vacinação muito alta para que seja eficaz”, acrescenta.

Acrescenta que também em Itália existem “algumas bolsas de suscetibilidade de sarampo”, entre os outros países onde a vacinação “não é a ideal”.

Estas "bolsas de suscetibilidade surgem, sobretudo, em países com baixas taxas de vacinação e onde reina a desinformação.

Ler artigo completo