A semana de quatro dias de trabalho

2 meses atrás 64

Terminou o projeto-piloto sobre a semana de quatro dias de trabalho.

O teste decorreu durante seis meses e teve um saldo muito positivo em 21 empresas nacionais do setor privado, com um espírito voluntário e reversível, embora, segundo a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), os resultados seriam muito diferentes se empresas da indústria, distribuição e construção civil tivessem participado no projeto-piloto. Acredito que sim, até porque os resultados obtidos não são representativos da economia nacional.

Porém, importa meditar sobre alguns resultados que podemos extrair deste projeto-piloto. A iniciativa é meritória, embora não traga ganhos imediato de produtividade às empresas, mas verificou-se uma efetiva quebra do absentismo laboral nas 21 empresas que durante estes seis meses estiveram em teste. Todavia, cerca de 93% dos trabalhadores destas empresas revelaram menos exaustão, ganhos de qualidade de vida com melhor equilíbrio entre trabalho, família e vida pessoal, sem que a semana de quatro dias implique qualquer corte salariar.

Apenas quatro empresas, das 21 que aderiram ao projeto-piloto, decidiram regressar à jornada semanal de cinco dias de trabalho, o que demonstra que o modelo de quatro dias de trabalho tem as suas virtudes.

Ficou demonstrado que a transição de cinco para quatro dias de trabalho implica, necessariamente, a introdução de alterações na empresa, o uso de mais tecnologia e uma melhoria das práticas de trabalho em equipa. Do ponto de vista sociológico, será interessante perceber no futuro qual é o uso que estes trabalhadores vão fazer dos 54 dias adicionais de folga que têm por ano e que são proporcionados pela semana de quatro dias de trabalho.

Um passo intermédio, e que várias empresas já o fazem há muitos anos, é darem a tarde de sexta-feira aos seus trabalhadores ou, também, a opção de reduzir a semana de trabalho para quatro dias apenas durante os meses do verão (de junho a agosto).

Estou certo de que o modelo de quatro dias de trabalho não será viável numa parte muito significativa do sector empresarial e industrial português, mas todas as empresas que conseguirem adotar este modelo vão ter trabalhadores mais satisfeitos e vão conseguir reter e captar, muito provavelmente, mais e melhor talento.

O sucesso desta iniciativa permitirá que outras empresas possam testar este modelo dos quatro dias de trabalho, uma vez que depois do verão estará disponível um kit de iniciação (ou starter pack).

Em contraciclo, a Grécia, numa tentativa de impulsionar o crescimento económico, acabou de introduzir a semana de trabalho de seis dias para determinados setores, o que trará necessariamente impactos que merecem ser objeto de estudo.

A forma de organização do trabalho das organizações está a mudar e a sociedade deve adaptar-se em função dos novos desafios que tem pela frente, beneficiando a qualidade de vida das pessoas e garantindo os níveis de produtividade exigidos pela economia.

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