A «terra das estrelas» que «deu» Özil, Gündogan ou Neuer: «Sem eles, a Alemanha não seria nada»

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Tal como em 2006, por ocasião do Campeonato do Mundo, a seleção de Portugal voltou a escolher a localidade de Marienfeld, na Renânia do Norte-Vestfália, como base do quartel-general para o Euro 2024.

Depois da estreia em Leipzig, frente à Chéquia, a equipa das «Quinas» vai agora pisar o maior estádio da Alemanha (Dortmund) antes de fechar a fase de grupos em Gelsenkirchen, duas cidades de referência na região e com um historial rico na criação de talentos futebolísticos no país.

Mesut Özil, Ilkay Gündogan, Leroy Sané, Manuel Neuer ou Leon Goretzka. A estes juntam-se outros como Joel Matip, Julian Draxler, Yildiray Bastürk ou os irmãos Hamit e Halil Altintop. Todos eles têm uma história em comum: nasceram e cresceram na região da Renânia do Norte-Vestfália, o maior «viveiro» de «estrelas» do futebol alemão.

De Dortmund a Gelsenkirchen, passando por Bochum e Herne, estas têm sido terras férteis em talento superlativo. Porquê?

«A região é inacreditavelmente louca por futebol, especialmente a zona do Ruhr. Um exemplo: na minha cidade, Castrop-Rauxel (75.000 habitantes), na fronteira entre Bochum e Dortmund, existem 14 clubes de futebol com mais de 140 equipas seniores e juniores.» Marcel Witt é jornalista do RUHR24, com foco no dia a dia do Schalke 04, Borussia Dortmund e da seleção alemã, e, sobretudo, um «filho» desta região apaixonada por futebol.

qA região é inacreditavelmente louca por futebol, especialmente a zona do Ruhr

Marcelo Witt, jornalista do RUHR24

Em conversa com o zerozero, o repórter alemão - que também é fotógrafo e diretor de comunicação do clube local – sublinha que «jogadores como Gündogan, Özil ou Sané são verdadeiros futebolistas de rua.» E da rua para as fábricas dos maiores clubes, o passo acaba por ser natural, segundo Witt.

«Na Alemanha, e especialmente nesta região, o desenvolvimento dos jovens é um aspeto muito importante. Os jogadores vivem em condições altamente profissionais desde muito cedo nas suas carreiras», refere. Para além do fomento próprio, os maiores emblemas da região acabam por beneficiar da proliferação de pequenos clubes nas localidades adjacentes: «Dessa forma, conseguem atrair o mais cedo possível os melhores talentos da região para depois promovê-los.»

Por isso, na hora de elencar as principais propriedades desta receita futebolística de sucesso, Marcel Witt não tem dúvidas: «Na minha opinião, é a mistura de entusiasmo, talento futebolístico natural e condições profissionais que, repetidamente, permite que os talentos da Renânia do Norte-Vestfália amadureçam e se tornem estrelas mundiais. O melhor exemplo atualmente é Assan Ouedraogo, formado no Schalke e reforço do RB Leipzig para a próxima temporada.»

Um melting-pot indispensável

Se em cada localidade da Renânia do Norte-Vestfália há um ou mais clubes de futebol, muito se deve a outro fator profundamente enraizado na região: a imigração.

@Getty / Matthias Hangst

Com destaque para a comunidade turca, a maior do país, as influências culturais vão desde os Camarões (Matip), ao Senegal (Sané), fazendo desta parte da Alemanha um verdadeiro melting-pot com um peso direto no talento futebolístico.

«Esse aspeto é extremamente importante. O futebol é um dos melhores exemplos de migração bem-sucedida de sempre. Quando a bola rola, todos falam a mesma língua: futebol», refere o jornalista do RUHR 24 ao zerozero, sem esquecer o papel definidor que essas comunidades tiveram – e ainda têm - no próprio país. «A Alemanha não seria a Alemanha sem pessoas com antecedentes migratórios. Há exemplos disso em quase todas as esquinas neste país, seja o cabeleireiro turco ou o restaurante grego», diz Witt.

Do país para a seleção nacional, a multiculturalidade está, historicamente, presente. «A seleção alemã é o melhor exemplo. A atual equipa inclui muitos jogadores com antecedentes migratórios ou raízes estrangeiras», diz Witt, destacando nomes como Benjamin Henrichs (Gana), Waldemar Anton (Uzbequistão), Antonio Rüdiger (Serra Leoa), Jonathan Tah (Costa do Marfim) ou Jamal Musiala (Nigéria).

«E se olharmos para a seleção que foi campeã do Mundo em 2014? Jerôme Boateng (Gana), Shkodran Mustafi (Albânia), Sami Khedira (Tunísia), Mesut Özil (Turquia), Miroslav Klose (Polónia) e Lukas Podolski (Polônia) fizeram parte dela. O que seria da seleção alemã sem esses jogadores? Nada», relembra e afirma Marcel Witt, que termina a conversa com o zerozero em tom de orgulho: «Gosto de viver numa Alemanha caracterizada pela diversidade e estou muito feliz por poder chamar de amigos pessoas com raízes espanholas, turcas, polacas ou bósnias.»

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