A UE e os automóveis elétricos chineses

3 meses atrás 86

A China é a segunda maior economia mundial, o maior exportador e possui as maiores reservas cambiais do mundo. Tem uma economia interna pujante com mais 1500 milhões de consumidores e é motivo de interesse para muitas empresas a nível global.

Todavia, embora a China tenha um dos PIB com crescimento mais rápido a nível mundial, o seu crescimento económico foi bruscamente abrandado pelo impacto da pandemia de Covid-19. Após um crescimento de apenas 3% em 2022, o súbito abandono da política de tolerância zero em relação à Covid-19 no final de 2022 levou a uma rápida recuperação da economia no primeiro trimestre de 2023, muito impulsionada pelo ressurgimento do consumo privado e do investimento das empresas públicas.

Segundo o Banco Mundial, em 2022, o sector industrial contribuiu para cerca de 39,9% do PIB da China e empregou 28% da população. A China tornou-se um dos destinos preferidos para a externalização de unidades de produção globais graças ao seu mercado de trabalho barato.

O país é líder mundial em vários sectores da indústria transformadora, como o fabrico de maquinaria, de eletrónica, dos têxteis, do aço e também dos automóveis. No último trimestre de 2023, o fabricante chinês BYD tornou-se a maior empresa de automóveis elétricos do mundo, ultrapassando a conceituada Tesla.

A China foi durante os últimos anos um grande destino para investimentos. Alguns exemplos: a Tesla lançou o seu primeiro projeto internacional de armazenamento de energia em Xangai; a Siemens expandiu sua base de fabricação de produtos de automação industrial em Chengdu; e grandes empresas estrangeiras, como Airbus, Volkswagen, Schneider, L’Oreal e ABB Group, têm construído nos últimos anos várias fábricas na China.

Depois da adoção de políticas restritivas na Europa às empresas de telecomunicações chinesas Huawei e ZTE, motivadas por potenciais riscos de segurança, agora é a vez das políticas restritivas aos automóveis elétricos chineses.

Ao contrário das telecomunicações, o sector industrial automóvel da Europa emprega muitos milhões de europeus que podem ter os seus empregos em risco face à qualidade e ao preço das viaturas elétricas provenientes do “império do meio”. Empresas europeias como a Volkswagen, a Mercedes, a BMW ou a Renault, estão verdadeiramente em pânico. Segundo a Comissão Europeia, os veículos chineses já têm uma quota de 8% no mercado comunitário – que em 2025 poderá duplicar para 15% – e custam pelo menos 20% do que os veículos elétricos europeus.

A União Europeia (UE), consciente deste problema que tem em mãos, desencadeou um conjunto de investigações para apurar alegadas subvenções chinesas ilegais a empresas construtoras de carros elétricos (BYD, Geely e SAIC) que operam comercialmente no bloco comunitário. Obviamente, estas iniciativas da UE foram vistas com grande desagrado em Pequim e já motivaram a ameaça de uma queixa na Organização Mundial de Comércio.

Para além da UE, existem outras regiões e países no mundo que estão a tomar medidas concretas para apurar potenciais práticas comerciais que violam as boas práticas da concorrência. Não é, de todo, indiferente o posicionamento da China face à intervenção militar da Rússia na Ucrânia. Por exemplo, no passado mês de maio, os Estados Unidos anunciaram novas tarifas sobre as importações de produtos chineses, sendo os veículos elétricos os mais afetados, com taxas que subiram de 25% para 100%.

A UE tem consciência das inúmeras fábricas que as construtoras europeias de automóveis têm na China, o que pode levar a uma retaliação. Este assunto é política e comercialmente muito sensível, mas se as investigações vierem a apurar situações que distorcem o comércio comunitário, causando riscos para a indústria europeia, terão de ser encontradas soluções muito bem negociadas com a China para evitar conflitos comerciais entre as partes.

Ler artigo completo