“Essa é a diferença entre mim e você: você está com medo e eu não estou com medo. Sei que há perigo, mas porque deveria ter medo?", respondeu.
Navalny ficará conhecido como o principal e mais perseverante opositor ao Governo russo. Sobreviveu a um envenenamento, a várias ameaças e ataques, e apesar de estar consciente dos riscos que corria, Navalny decidiu permanecer sempre em Moscovo com a mulher e os dois filhos, ao contrário de muitos opositores russos, que acabaram por fugir para a Europa.
Formado em advocacia, Navalny ganhou notoriedade como ativista anti-corrupção após ter criado um blog, no início dos anos 2000, onde denunciava evasões fiscais, desvios de dinheiro, irregularidades financeiras.
Mais tarde criou a página designada Rospil.net (abreviação que indica "pilhagem da Rússia"), que lhe permitiu revelar diversos escândalos (empresa Transneft, banco público VTB, Aeroflot) e a "pilhagem dos recursos e da riqueza nacional". Nesta fase, Navalny começou a ser designado de "Julian Assange russo".
Esta atividade permite-lhe revelar diversos escândalos (empresa Transneft, banco público VTB, Aeroflot) e a "pilhagem dos recursos e da riqueza nacional".
Em 2011 criou o famoso Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK), que se destacou de início com uma investigação relacionada com Dmitri Medvedev, antigo presidente e primeiro-ministro e um delfim de Putin. Esta organização foi encerrada pelas autoridades russas em 2021.O ativista liderou durante anos várias manifestações que denunciavam fraudes eleitorais. Em 2011, esteve detido durante 15 dias após protestos contra a alegada fraude eleitoral do partido Rússia Unida, de Putin, nas eleições parlamentares.
Dois anos depois, foi condenado a cinco anos de prisão pelo suposto desvio de 400 mil euros de uma empresa de exploração florestal. O tribunal ordenou a sua libertação com pena suspensa.
Impedido de concorrer a eleições
Em 2017, Navalny foi atacado fora do seu escritório do FBK, sofrendo uma queimadura química no olho.
O ataque não intimidou o ativista, que procurou desafiar Vladimir Putin nas urnas. No entanto, o opositor ruso foi impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2018.
É neste período que Navalny emite um apelo ao "voto inteligente", ao pedir aos seus apoiantes para votarem nos candidatos da oposição parlamentar mais bem colocados para derrotarem o partido Rússia Unida de Putin.
Na sua mais recente intervenção pública, Navalny tinha proposto aos russos que se opõem ao presidente Putin para votarem à mesma hora nas eleições presidenciais de março. "Gosto da ideia de que aqueles que votam contra Putin vão às urnas à mesma hora, ao meio-dia. Meio-dia contra Putin”, afirmou nas redes sociais.
Em agosto de 2020, Navalny foi hospitalizado em Berlim por suspeitas de envenenamento após ter-se sentido mal durante um voo. Na altura, o opositor acusou Vladimir Putin de ordenar o seu envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novitchok.
O ativista foi detido de imediato, ainda no aeroporto, e condenado a dois anos e meio de prisão num caso de fraude ocorrido em 2014, que denunciava como politicamente motivado.
Inicialmente, Navalny foi colocado na colónia penal IK-2 na região de Vladimir, perto de Moscovo, mas mais tarde, em meados de 2022, foi transferido para uma colónia penal de alta segurança em Melekhovo, 235 quilómetros a leste de Moscovo, o que não permitia a visita frequente dos seus advogados e familiares.
Em março de 2021 anunciou uma greve de fome em protesto contra as suas condições de detenção, acusando a administração penitenciária de lhe recusar cuidados de saúde e de "tortura" por privação do sono. Navalny chegou mesmo a ser hospitalizado devido à deterioração do seu estado de saúde.
Em outubro de 2021, o Parlamento Europeu distinguiu Alexei Navalny com o prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu. Na altura, Navalny tinha 45 anos e já estava detido.
Em agosto de 2023, o tribunal acrescentou mais 19 anos à pena de prisão de Alexey Navalny.
No final do ano passado, o ativista esteve desaparecido durante três semanas, tendo mais tarde reaparecido numa colónia penitenciária perto da cordilheira dos Urais, no Ártico, onde permanecia até agora.
c/ agências