Adiós, roja! Craques escapam a Espanha para representar Marrocos

Em Espanha ninguém esquece os oitavos de final do último Mundial, frente a Marrocos. Um jogo bem disputado que, sem golos após 120 minutos, foi decidido nas grandes penalidades, onde Achraf Hakimi, natural de Madrid, cobrou o penálti que eliminou a roja e levou a seleção africana aos quartos.

Volvidos 15 meses, Marrocos voltou a estar na origem de más notícias para o futebol espanhol. Não por conquistar uma vitória improvável no maior dos palcos desportivos, mas por ter convencido uma das figuras do Real Madrid esta temporada a mudar de seleção. 

Falamos de Brahim Díaz, que até já tinha uma internacionalização (e um golo) por Espanha, mas que recentemente aceitou a convocatória de Walid Regragui. A novidade não foi bem recebida pelos adeptos espanhóis, até porque não se trata de um caso isolado...

Sete anos à espera de Espanha

Comecemos por explicar quem é, ao certo, Brahim Abdelkader Díaz. Pode conhecê-lo pela boa campanha que tem feito esta temporada pelo Real Madrid, com nove golos e quatro assistências, mas também é possível que já conheça o esquerdino desde que surgiu, em 2016/17, na equipa principal do Manchester City. Antes de se afirmar de blanco, foi destaque do AC Milan num empréstimo que durou três temporadas.

Nascido e criado em Málaga, filho de pais espanhóis, Brahim não tinha dúvidas acerca da seleção que queria representar. Vestiu a camisola da roja em vários escalões de formação, mas pela A só teve oportunidade de jogar nesse duelo frente à Lituânia (4-0) em que, devido ao Covid, a comitiva sub-21 foi levada a jogo.

Este mês de março, após sete anos à espera de uma chamada ou um gesto da federação espanhola, o criativo de 24 anos acabou por aceitar o projeto que Marrocos, terra da sua avó paterna, já lhe tinha apresentado há vários anos. Este acabou por ser o tema principal da conferência de imprensa em que Luis de la Fuente anunciou a convocatória de Espanha...

«No primeiro dia de março entreguei a pré-convocatória e ele fazia parte. Dia 9, ele enviou-nos um documento a renunciar à seleção. Fiz tudo o que pude», disse o selecionador que trabalhou muitas vezes com Brahim na equipa de sub-19.

Brahim Díaz fará a sua estreia por Marrocos esta sexta-feira, às 22h, no particular frente à seleção de Angola

Um caso com precedente

Quando dizemos que a novidade não foi bem encarada pelos adeptos espanhóis, importa salientar que não houve qualquer revolta direcionada ao jogador. A culpa foi principalmente atribuída ao selecionador e à federação, cuja passividade não foi compreendida.

Já Brahim Díaz só recebeu apoio, tanto dos espanhóis, compreensivos, como dos marroquinos, que o receberam em festa. «Agradecerei este apoio em campo e tentarei levar Marrocos mais alto. Vou dar tudo para deixar este país orgulhoso», disse, à chegada.

Parte da revolta de alguns adeptos relativamente a esta perda nasce do facto de se estar a tornar um hábito. Espanha conseguiu garantir jogadores de dupla nacionalidade como Ansu Fati, Robin Le Normand ou Aymeric Laporte, mas ao mesmo tempo deixou cair várias opções com potencial.

Iñaki Williams (Gana) ou Junior Firpo (República Dominicana) são jogadores que dificilmente deixarão saudades, apesar de já terem equipado com as cores de Espanha, mas o outro lado da moeda apresenta um trio de jovens promissores que recentemente optou pela Argentina: Alejandro Garnacho e Nico Paz, em ascensão no Manchester United e Real Madrid, respetivamente, e Luka Romero, que se estreou na La Liga aos 15 anos e hoje pertence aos quadros do Milan.

VÍDEO | Primeras declaraciones de @Brahim como internacional absoluto: "Es un orgullo poder estar aqui 🇲🇦"#DimaMaghrib 💪🏼🇲🇦 pic.twitter.com/o1vHBuF4jl

— Selección de fútbol de Marruecos (@Sn_Marruecos) March 18, 2024

A travessia para Marrocos

Brahim Díaz não foi pioneiro na hora de atravessar o Estreito de Gibraltar para representar a seleção marroquina. Basta olhar para essa equipa que fez história no Catar, eliminando as duas seleções ibéricas antes de se tornar na primeira seleção africana a chegar às meias-finais de um Mundial, e ver a quantidade de jogadores com ligação a Espanha.

O já referido Achraf Hakimi, lateral direito do PSG nascido na capital espanhola, foi uma das principais figuras da campanha e é citado pela imprensa vizinha como um dos que mais impacto teve para convencer Brahim. Abde Ezzalzouli, extremo do Betis, também participou nesse Mundial numa altura em que estava a aparecer na equipa principal do Barça.

Ilias Akhomach, do Villarreal, também consta nesta mais recente convocatória de Regragui apesar de ter representado Espanha nos vários escalões de formação. Ainda assim, o pioneiro - pelo menos numa era moderna - é Munir, que tal como Brahim mudou de continente após ter feito um jogo pela roja.

Além de todos estes casos, fica também evidente que a federação marroquina, ambiciosa, não tenciona ficar por aqui. Adan Aznou (Bayern München), Salim El Jebari (Atlético Madrid) e Rachad Fettal (Almería) são alguns jovens que nasceram na Europa mas provavelmente vão acabar por representar o país dos seus pais ou avós.

😱🇲🇦 ¡Locura en Marruecos con Brahim! Vídeo de hoy en su llegada a Rabat, donde sólo podían acceder y sólo hay medios de comunicación. Tremendo. pic.twitter.com/RyJHy0vYTr

— MARCA (@marca) March 18, 2024