Agostinho Bento: «Quebrámos a competitividade de uma forma anormal e positiva»

7 meses atrás 61

É a hora de todas as decisões na Liga 3! 

Depois de uma primeira fase disputada em duas séries, os quatro primeiros classificados da Série A e os quatro primeiros classificados da Série B 'juntam-se' agora num campeonato de 14 jornadas para discutirem o acesso à 2ª Liga.

Numa prática que já vem sendo comum, o zerozero entrevistou os treinadores dos clubes em questão, numa conversa na qual foi feito não só o rescaldo da fase regular da prova, mas também a antevisão da fase de subida.

Depois de ter alcançado este mesmo patamar da competição nos últimos dois anos, o Felgueiras voltou a dar uma prova de força em 2023/24 e foi absolutamente autoritário na Série A. Em 18 jornadas disputadas, os durienses somaram 13 vitórias, dois empates e três derrotas, sendo que a presença na fase de subida (e consequentemente manutenção) foi assegurada a quatro rondas do fim da fase regular.

Agostinho Bento é o homem do leme dos felgueirenses e não escondeu a ambição com que encara as próximas semanas, sendo que o primeiro jogo, frente ao Atlético, está agendado para sábado.

Zerozero: Que diferenças e que semelhanças existem entre este Felgueiras e o que conseguiu garantir a qualificação para a fase de subida há um ano?

Agostinho Bento: A equipa é trabalhada pelo mesmo treinador, mas há muitas diferenças ao nível do valor individual dos atletas. Não digo que o plantel seja melhor ou pior, mas a verdade é que temos uma equipa praticamente nova. Acredito que, este ano, o Felgueiras tem uma maior profundidade em termos de plantel. No ano passado tínhamos um bom onze, talvez 14/15 jogadores... Neste momento sinto que o plantel é mais vasto, apresenta mais soluções e isso permite-me manter a competitividade e a intensidade durante mais jogos. 

Estava à espera que fossemos competitivos e que fossemos capazes de ficar nos quatro primeiros lugares. Se me perguntar se acreditava que íamos garantir o apuramento para a fase de subida a quatro ou cinco jogos do fim, eu diria que não. O campeonato é muito competitivo e nós, de certa forma, quebrámos essa tal competitividade de uma forma anormal e positiva. Acredito que nos próximos anos, na Liga 3, dificilmente se vai repetir o que aconteceu connosco. Nós próprios teríamos dificuldade em repeti-lo, mas a verdade é que aconteceu. Os meus jogadores acabaram por me surpreender, estaria a mentir se dissesse que estava à espera disto. O que conseguimos foi aparentemente fácil, mas deu-nos muito trabalho.

ZZ: O facto de o Felgueiras ter sido tão dominador na fase regular (dez pontos de vantagem para o segundo classificado da Série A/ mais nove pontos do que o primeiro classificado da Série B) traz uma responsabilidade extra para esta fase de subida?

AB: Não, sinceramente não. Acredito que as outras equipas podem atirar-nos essa responsabilidade devido aos aspetos que referiu e que as expectativas criadas no mundo do futebol e por parte dos adeptos possam ir ao encontro disso. No entanto, não temos mais responsabilidade do que as outras equipas, somos candidatos a vencer os nossos jogos e temos objetivos tão grandes como os nossos adversários. O que nós fizemos foi muito bom, elevou as expectativas e pode criar-nos maior pressão, mas a responsabilidade é igual para todos porque todos querem vencer. De forma natural, vamos tentar eliminar essa pressão. Vamos ter de fazer melhor do que fizemos até agora.

ZZ: O Tamble Monteiro transferiu-se há algumas semanas para o Portimonense. Quão desafiante foi para a equipa ter de se adaptar à saída do melhor marcador? Como olha para o facto de um jogador seu ter dado um salto de dois escalões?

AB: Começando pela segunda pergunta, acredito que o Tamble está preparado para isso, assim como vários jogadores da Liga 3. Acredito que a questão tem mesmo a ver com o surgir da oportunidade, há muitos jogadores com qualidade neste escalão. Sou daqueles que defende que a grande diferença entre os jogadores dos campeonatos profissionais e da Liga 3 está muitas vezes na cabeça, na oportunidade e no contexto. Nos últimos anos tem havido vários jogadores a dar o salto da Liga 3 e da Liga Revelação para a 1ª Liga.

Em relação à adaptação que tivemos de fazer... É verdade que o Tamble era o melhor marcador da equipa, mas ele fazia parte de um processo que culminava muitas vezes com a finalização dele. Desde que ele saiu apostamos noutros jogadores e o Miguel Pereira rapidamente igualou os números do Tamble. O Tamble é um ótimo jogador, mas tinha uma equipa por trás que o ajudava bastante. Ele saiu e deu oportunidade a outros, que tentarão ser tão felizes como ele.

ZZ: De um ponto de vista mais individual, esteve nos campeonatos profissionais pela primeira e única vez há oito anos, ao serviço da AD Fafe. Voltar a este patamar é também um incentivo para o treinador Agostinho Bento na antecâmara desta fase de subida?

AB: Fruto da experiência que fui adquirindo, não olho muito para objetivos pessoais. Tenho o objetivo da subida essencialmente porque os atletas, a direção e os adeptos o merecem. Eu sou apenas um grão de areia neste esquema. Acredito que, de uma forma natural, poderei voltar às ligas profissionais, mas não estou obcecado. Não penso muito se devia ter sido ontem ou se vai ser amanhã, sei que vou conseguir. Se for com o Felgueiras ficarei muito feliz. As pessoas têm feito um esforço gigantesco e este já é o terceiro ano que o clube fica em primeiro lugar na fase regular. 

Miguel Pereira tem estado em destaque @FPF

ZZ: Como perspetiva esta fase de subida? Como olha para a mudança de formato da competição?

AB: Fico agradado que o formato tenha sido alterado em relação à época passada. Se me perguntar se é realmente justo, digo-lhe que não, mas é menos injusto do que o do ano passado. Fizemos um trabalho muito positivo até aqui, mas vai ser deitado fora. Não é que o trabalho dos últimos sete meses caia em saco roto porque temos de dar continuidade ao que fizemos até aqui, mas são sete meses que valem de pouco agora. Estamos a falar de um campeão de uma época desportiva que pode não ser justo. No entanto, se estamos a falar em 14 jornadas, já haverá uma pequena regularidade. Gostávamos que fosse algo referente ao ano todo- e não digo isto porque no ano passado ficámos em primeiro e depois não fomos competentes na fase de subida- porque acreditamos que os campeonatos são provas de regularidade. Ainda assim, sabemos as regras, sabemos com o que podemos contar e só temos de aceitar ou não participar. Fomos para a guerra e se não formos felizes não vamos atirar a responsabilidades ao calendário.

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