Alemães temem cada vez mais aumento das "fake news" no país

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A perceção de desinformação e dúvidas quanto à fiabilidade da informação intensificaram-se "acentuadamente" na Alemanha, sendo as chamadas "fake news" (notícias falsas) consideradas uma ameaça por especialistas.

Num estudo recente, a Fundação Bertelsmann concluiu que 84% das pessoas na Alemanha consideram que a disseminação deliberada de informação falsa representa uma grande ou mesmo muito grande ameaça para a sociedade, acreditando mais de metade dos inquiridos que esta questão não está a receber a atenção que merece.

"Existe um consenso generalizado, com mais de 90% dos inquiridos a indicarem que quem espalha a desinformação tem como objetivo influenciar as opiniões políticas do público. Além disso, existe uma perceção generalizada de que os esforços para influenciar os resultados eleitorais e semear a discórdia social são as forças motrizes por trás da disseminação da desinformação", revelou Daniela Schwarzer, membro do Conselho Executivo da Fundação Bertelsmann.

Na Alemanha, a desinformação está geralmente associada a temas polémicos como a imigração, os cuidados de saúde, os conflitos e os processos eleitorais.

"A desinformação representa uma ameaça significativa para a democracia, especialmente no contexto das eleições europeias do próximo mês. As campanhas de desinformação, os discursos de ódio e as tentativas de manipular os debates públicos constituem desafios fundamentais em todos os Estados-Membros da União Europeia (UE), correndo o risco de minar a confiança nos políticos, nos partidos, nos meios de comunicação social e, possivelmente, até nos resultados eleitorais", alertou Schwarzer em declarações à Lusa.

A especialista em assuntos internacionais destaca que as autoridades da UE esperam um aumento da desinformação `online` nos dias que antecedem as eleições para o Parlamento Europeu, de 06 a 09 de junho, quando milhões de europeus se preparam para eleger os seus novos eurodeputados.

"A principal preocupação centra-se na Rússia, dado o seu historial bem documentado de interferência em eleições, incluindo, por exemplo, a interferência nas eleições presidenciais dos EUA de 2016 ou nas eleições presidenciais da Moldávia em 2020. E, de facto, ainda recentemente, as agências de informações europeias iniciaram investigações sobre a plataforma `online` pró-russa `Voice of Europe`, indicando tentativas de influenciar o resultado das eleições europeias.

Este incidente "vai além da mera disseminação de desinformação", acrescenta, uma vez que se alega que alguns deputados europeus foram pagos para interferir nas próximas eleições.

Para Daniela Schwarzer combater a desinformação não é uma luta que uma entidade consiga travar sozinha, uma vez que o problema tem uma dimensão social, jurídica, política, económica e técnica.

"Além dos esforços dos governos e das plataformas, a ação da sociedade civil desempenha um papel crucial no reforço da capacidade de resistência das sociedades contra a desinformação. As campanhas de sensibilização aumentam a consciência pública, enquanto a formação em literacia digital educa os cidadãos sobre o pensamento crítico, o consumo seguro dos media e o comportamento responsável `on-line`", considerou. 

A Fundação Bertelsmann desenvolve o projeto "Fórum contra Fakes" que incentiva os cidadãos a elaborarem as suas próprias recomendações para combater a desinformação através de uma plataforma `on-line` de participação. Estas sugestões serão posteriormente apresentadas aos decisores políticos na Alemanha.

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