Intervindo na abertura da 57ª sessão ordinária do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que decorrerá até 11 de outubro em Genebra, Suíça, Volker Türk, ao fazer a tradicional atualização do relatório anual sobre a situação dos direitos humanos no mundo, defendeu que a classe política deve zelar pela sua salvaguarda, mas apontou que muitas vezes ocorre o oposto.
"Há os políticos, amplificados por alguns meios de comunicação social, que fazem dos migrantes, dos refugiados e das minorias bodes expiatórios, como vimos, por exemplo, em períodos eleitorais na Áustria, em França, na Alemanha, na Hungria, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, para citar alguns", apontou.
Segundo o responsável das Nações Unidas, estes políticos "capitalizam a ansiedade e o desespero, colocando uns contra os outros, procurando distrair e dividir".
"A História tem-nos mostrado que palavras odiosas podem desencadear ações odiosas. Uma liderança política assente nos direitos humanos e num debate baseado em provas é o antídoto para tudo isto. Esta é a única forma de enfrentar os verdadeiros desafios que as pessoas enfrentam em áreas como a saúde, a habitação, o emprego e a proteção social", defendeu.
Quase a cumprir metade do seu mandato de quatro anos, o alto-comissário sustentou que a humanidade vive atualmente "numa bifurcação", precisando de escolher entre um "despertar e mudar as coisas para melhor", ou aceitar "um «novo normal» traiçoeiro" e caminhar "sonâmbula para um futuro distópico".
"O «novo normal» não pode ser uma escalada militar interminável e viciosa e métodos de guerra, controlo e repressão cada vez mais horríveis e tecnologicamente 'avançados'. O «novo normal» não pode ser [...] a disseminação gratuita de desinformação, sufocando os factos e a capacidade de fazer escolhas livres e informadas [nem a] retórica inflamada e soluções simplistas, que eliminam o contexto, as nuances e a empatia, abrindo caminho para o discurso de ódio e para as consequências terríveis que inevitavelmente se seguem", declarou.
Advertindo também que o «novo normal» não pode ser "o descrédito das instituições multilaterais ou as tentativas de reescrever as regras internacionais, destruindo as normas universalmente acordadas", Volker Türk apelou a que, coletivamente, se faça "a escolha de rejeitar o «novo normal» e o futuro distópico que ele apresentaria" e "abraçar e confiar no pleno poder dos direitos humanos como o caminho".
Durante esta 57ª sessão, que se prolonga por cinco semanas, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas passará em revista os desenvolvimentos em matéria de direitos humanos a nível mundial.
Na próxima semana, debaterá a instabilidade na Venezuela na sequência das eleições presidenciais de 28 de julho, com a agenda a prever, como já tem ocorrido nas anteriores sessões, discussões sobre os efeitos das operações militares da Rússia na Ucrânia e de Israel na Faixa de Gaza.
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