Alunos aprendem a "Votar Claro". Escola de Gondomar simula eleições europeias

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04 jun, 2024 - 19:00 • Redação

O “Votar Claro” é uma simulação das eleições que prepara jovens de 16 e 17 anos para “a participação cívica” do futuro. Há comissão eleitoral, debates e até se aplica o método de Hondt. Se estes jovens de Gondomar votassem nas europeias, ganhava a Aliança Democrática e a abstenção seria elevada.

Treinar o voto em Gondomar. Como uma escola está a simular as eleições europeias
Treinar o voto em Gondomar. Como uma escola está a simular as eleições europeias

São alunos das escolas secundárias de Gondomar e da Clara de Resende, no Porto. Esta segunda-feira, simularam o dia das eleições para o Parlamento Europeu, num “processo idêntico ao real”. A Renascença foi à Escola Secundária de Rio Tinto ver de perto como funciona o simulacro.

“Quando Portugal vai a eleições, nós também vamos”, afirma João Ferreira, presidente da Comissão Eleitoral do “Votar Claro”. O aluno de 16 anos explica que o objetivo do projeto é “aproximar os jovens da política e preparar os alunos de 16 a 17 anos para que, na altura de votar, com 18 anos, saibam fazê-lo com consciência e com toda a informação e literacia que merecem”.

O projeto, que começou em 2021 nesta escola em Gondomar, também simulou as eleições legislativas de março. Para o estudante, as europeias “acabam por ser até um bocadinho mais importantes, principalmente a nível da comunidade europeia, para a nossa política nacional”.


Tal como acontece em período eleitoral, também no “Votar Claro” há espaço para debate entre partidos com e sem assento parlamentar. “Normalmente, organizamos duas sessões com os partidos. Eles falam das suas propostas, o que vão trazer de novo, o que vão manter e um pouquinho da ideologia, também”, explica Idalina Marques, estudante de Humanidades e vice-presidente da Comissão Eleitoral.

Sobre a participação nos debates, a estudante destaca a atenção de todos os participantes e o interesse em saber mais “sobre alguns assuntos específicos, por exemplo a imigração, a habitação ou a guerra, que é um tema recorrente".

Paulo Lima, um dos professores dinamizadores do projeto, nota que “os debates têm sido extremamente respeitosos e pedagógicos no sentido de os partidos fazerem um diálogo com os alunos, que é um pouco diferente do que acontece na campanha eleitoral.”

As duas sessões de debates aconteceram nos dias 27 e 28 de maio. Para o professor, são a grande mais-valia do projeto. “Os alunos gostam de contar com os partidos, envolvem-se nos debates e pensamos que isto é realmente uma vantagem deste projeto”, acrescenta.

No decorrer do projeto, a Comissão Eleitoral composta por 50 alunos e cinco professores segue as recomendações da Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas conta também com um grupo de voluntários, incluindo encarregados de educação, para ajudar nas mesas de voto e na construção dos debates. "Toda a comunidade escolar envolve-se diretamente nestas eleições”, acrescenta João Ferreira.

Esta segunda-feira foi o dia dos jovens simularem as eleições. Na escola, à semelhança de eleições a sério, as mesas de voto espalhadas pelos corredores estavam organizadas por ordem alfabética, e o processo de votar era semelhante ao real. “ O aluno deve vir identificado com o cartão escolar, dirigir-se a uma mesa de voto com a letra inicial do seu primeiro nome, entregar o seu cartão para os mesários o identificarem e riscarem o nome. Depois, recebem o boletim, vão à mesa de voto, fazem o seu voto normalmente, dobram em dois e depositam na ordem eleitoral”, descreve o presidente da Comissão Eleitoral.

Se estes jovens votassem nas europeias, a vitória ia para a AD

O apuramento dos resultados fica a cargo dos alunos, que com o apoio de professores fazem a conversão dos mandatos, pelo método de Hondt, explica João Ferreira: “Às quatro da tarde, vamos para a biblioteca, pegamos nos votos, fazemos a contagem, e preenchemos as atas de cada mesa para reunirmos tudo num resultado final”, explica João Ferreira.

Somados os votos, o partido vencedor foi a AD, com 16,27% , seguido do PS e do Chega.


Os resultados divulgados no final do dia desta segunda-feira demonstram que a grande maioria não foi às urnas, a abstenção foi de 59%. Dos 771 alunos inscritos para votar, participaram apenas 314, o que para o professor “é um problema que temos de combater”. Para Paulo Lima, “reconhecendo que se trata de uma simulação voluntária, muitos não se sentem suficientemente motivados para participar, mas acreditamos que isto vai também melhorando ao longo do tempo”.

“Agora fala-se bastante política nos corredores, coisa que não acontecia há uns anos”, refere Paulo Lima.

O projeto que começou há três anos nesta escola, por iniciativa de alguns professores, está hoje em todas as escolas do concelho de Gondomar e também na Escola Secundária Clara de Resende, no Porto.

Guilherme Rodrigues, tem 17 anos e votou esta segunda-feira na simulação. À Renascença, conta que o projeto o prepara para o dia em que votar "nas eleições dos grandes crescidos.

Para João Ferreira, o presidente da Comissão Eleitoral, o projeto despertou um “interesse maior pela Ciência Política”.

Questionado sobre se o voto deveria ser alargado a jovens com 16 anos, o estudante respondeu que sim. “Acho que temos oportunidade, temos vários jovens com interesse para isso e acho que quanto mais cedo, mais benéfico para nós.”

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