Alzheimer: A memória antiga mantém-se, mas não para sempre

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Caso BES/GES

14 out, 2024 - 19:27 • Liliana Monteiro

Dois relatórios de peritos confirmaram a doença de Alzheimer do ex-banqueiro Ricardo Salgado. Especialista fala em “declínio cognitivo progressivo”.

Ricardo Salgado, 80 anos, economista, conhecido como o banqueiro que mais tempo esteve no ativo, foi diagnosticado com Alzheimer em 2021, altura em que a defesa apresentou à justiça um primeiro relatório que alegava sintomas de “declínio cognitivo progressivo”. Já para a justiça o quadro clinico foi reconhecido no final do ano passado através de dois relatórios independentes do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INML).

O julgamento do caso BES/GES arranca esta terça-feira e Ricardo Salgado é o principal arguido.

Desafiado pela Renascença a falar sobre a doença de Alzheimer, Rui Araújo, médico neurologista e professor assistente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, explica que nesta doença “as memórias mais antigas: quem é, com quem casou, onde viveu, são por norma mais preservadas, mas à medida que a doença evolui há trocas que começam a ser feitas e a pessoa acha que viveu num sitio e trabalhou numa área e afinal não foi assim". O problema começa por se revelar na dificuldade em reter informação nova para depois se começar a trocar caras, nomes e até mesmo ficar com incapacidade motoras.

Em Portugal, não existe até à data um estudo epidemiológico que retrate a real situação do problema, mas dados da Alzheimer Europe apontam para mais de 180 mil pessoas com esta demência.

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A Alzheimer “é uma doença degenerativa do sistema nervoso, as proteínas começam a acumular de forma errada, patológica, leva à morte dos neurónios e das suas ligações e leva às manifestações clinicas da doença: esquecimento, desorientação, dificuldade de andar, etc…”

Nos estadios iniciais é comum surgirem “queixas ligeiras, fazendo-se ainda grande parte do dia a dia sem problemas, mas precisando de ajuda para tarefas complexas como transferências bancárias e acertar contas”.

Depois, as dificuldades começam em “tarefas mais simples como o vestir, gerir medicação, saber em que dia da semana”, explica Rui Araújo, para num “estadio severo a doença pode provocar limitações motoras, dificuldades em vestir, lavar, conseguir comer sem ajuda”.

Como decorre a evolução da doença?

Este especialista diz que a evolução da doença varia de pessoa para pessoa, porque cada uma tem a sua reserva cognitiva e tem os seus fatores de risco, responsáveis pelo avanço da doença mais rápido ou mais lento.

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“Na generalidade, estamos a falar de um desenvolvimento ao longo de 20 anos e entre estadios medeiam vários anos, 5 a 8 anos nos estadios ligeiros a moderados e nas fases mais avançadas 8, 10 ou mais anos”.

Rui Araújo sublinha que “a pessoa mantém-se, a personalidade e a maneira de ser influencia muito a demência que vai surgindo e a forma como a pessoa passa a ser”.

Se com o que se fez no passado as relações ficam difíceis com o presente e o futuro a diferença não é muita. “Com a evolução da doença surge uma dificuldade progressiva em gerir o presente e executar ações para virem a ter um objetivo futuro”.

Retirar estas pessoas do seu ambiente tem efeitos? O especialista em neurologia não demora na resposta: “sim, causa alguma agitação interna, a pessoa fica mais desconfortável e alterada, pelo menos no inicio da mudança”.

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