"Ambiente positivo" em Doha mas ainda sem acordo, primeiro-ministro palestiniano pede governo unificado: guerra, dia 315

1 mes atrás 46

As primeiras 48 horas das negociações no Qatar acabaram sem qualquer acordo de cessar-fogo, mas com muitas declarações de otimismo. Estados Unidos, Egito e Qatar, os três países que estão a mediar as conversas entre Israel e o Hamas, afirmaram que o diálogo “foi sério e construtivo e decorreu num ambiente positivo”, mantendo a esperança que seja possível pôr fim à operação israelita na Faixa de Gaza e à enorme crise humanitária na região palestiniana.

As negociações vão ser retomadas na próxima semana em Doha. Mas tanto o Hamas como o Governo israelita deixaram claro que continuam a existir pontos de enorme divergência.

O Hamas nem sequer marcou presença nas reuniões, já que o seu principal negociador foi morto no Irão e o seu sucessor, Yahya Sinwar, presume-se escondido na Faixa de Gaza. Mas o grupo, que garantiu continuar atento às negociações, reiterou que só aceitará um acordo em que esteja prevista a retirada total das tropas israelitas do enclave palestiniano. Israel opõe-se, já que quer manter algum controlo no norte da região, e existe a possibilidade de os ministros mais extremistas do executivo de Telavive não aprovarem qualquer acordo de paz.

Destruição total, no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza

OMAR AL-QATTAA / AFP / Getty Images

Enquanto as negociações não são retomadas, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vai deslocar-se mais uma vez a Israel durante o fim de semana, para apoiar os esforços diplomáticos.

Em comunicado, o Departamento de Estado explicou que o principal diplomata dos EUA vai tentar “chegar a um acordo para um cessar-fogo [em Gaza] e a libertação de reféns e prisioneiros [israelitas na posse do Hamas] através da proposta de compromisso” apresentada sexta-feira pelos Estados Unidos na mais recente ronda negocial.

Primeiro-ministro palestiniano defende governo unificado em Gaza e Cisjordânia

O primeiro-ministro palestiniano, Muhamad Mustafa, defendeu que as instituições de Gaza, controladas pelo Hamas desde 2007, e da Cisjordânia, governadas pela Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), fiquem sujeitas “a uma única autoridade e governo” quando alcançada a paz.

Numa reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Stéphane Séjourné, e do Reino Unido, David Lammy, no seu gabinete em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, Mustafa agradeceu à diplomacia dos dois países europeus pelos seus esforços “para acabar com a guerra de extermínio” em Gaza e com “a escalada do exército de ocupação (israelita) e dos colonos e os seus ataques na Cisjordânia”.

Mustafa reiterou também a necessidade do apoio ao Governo da ANP para garantir a “reconstrução e unidade dos territórios”, um Estado independente palestiniano e “o fim da ocupação” israelita, a par do seu reconhecimento internacional e da sua inclusão como membro das Nações Unidas.

Segundo nota divulgada pelo Governo palestiniano, Séjourné e Lammy enfatizaram “a necessidade de alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a introdução de ajuda” no território palestiniano, bem como de diminuir a tensão na região face a uma possível retaliação iraniana contra Israel pela morte em Teerão do líder do Hamas, Ismail Haniyeh.

Antes, David Lammy e Stéphane Séjourné reuniram-se em Jerusalém com o homólogo israelita, Israel Katz, num dia marcado pela condenação internacional ao ataque de colonos israelitas à aldeia palestiniana de Jit, na Cisjordânia, que fez um morto e dezenas de feridos, na quinta-feira. A ONU considerou o ataque uma consequência direta da política de promoção de colonatos em território ocupado e da impunidade.

“Este ataque não é isolado e é uma consequência direta da política de colonização de Israel na Cisjordânia”, afirmou a porta-voz do Gabinete dos Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, citada pela agência espanhola EFE, acrescentando que “a impunidade é o grande problema e é isso que está a causar a violência”.

Cerca de 100 colonos encapuzados invadiram a aldeia de Jit na quinta-feira à noite, incendiaram casas e automóveis, e mataram um palestiniano de 23 anos.

Mais de 700.000 colonos vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, onde colonos extremistas têm um poder alargado no Governo de coligação, que tem autorizado planos de expansão dos colonatos e a confiscação generalizada de terras. Um dos líderes da extrema-direita, Itamar Ben Gvir, ele próprio um colono, é o atual ministro da Segurança Nacional.

Outras notícias:

> O secretário-geral das Nações Unidas alertou que é impossível realizar uma campanha de vacinação contra a poliomielite na Faixa de Gaza sem um cessar-fogo. O Ministério da Saúde de Gaza anunciou hoje o primeiro caso confirmado de poliomielite no enclave, de um "bebé de dez meses que não foi vacinado" em Deir al-Balah;

> As forças norte-americanas no sul do Mar Vermelho anunciaram hoje a destruição "bem-sucedida" de uma estação militar de controlo terrestre controlada pelos rebeldes huthis do Iémen. O Comando Central dos Estados Unidos da América (CentCom), disse à agência Efe que a estação destruída estava localizada "numa zona controlada pelos huthis apoiados pelo Irão", sem dar mais pormenores sobre o local atacado.

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