Quando Miguel Araújo resolveu dar asas à sua inspiração e dar ao cancioneiro português um dos mais belos poemas de amor, não estaria a pensar em Toulouse, mas se fosse acertaria na muche. É que aqui não faltam aviões a rasgar ar, nem foguetões prontos a levantar voo. Na cidade onde o Benfica vai tentar seguir em frente na Liga Europa há uma enorme comunidade de portugueses - como quase em toda a França -, mas há um setor que é rei na Ville Rose: a aeronáutica. Por aqui está sediada a Airbus e ainda há a Cidade do Espaço e o Museu da Aeroscopia. No meio do trabalho futebolístico, houve necessidade de descobrir a cidade e falamos com um comandante, que tirou o curso do A340 na Airbus em 1998, e com uma engenheira aeronáutica que trabalha atualmente na multinacional francesa, na área da fiabilidade. A aventura de Inês Fonseca, engenheira da Airbus, tem pouco mais de um ano e ao nosso portal contou que «trabalhava numa companhia aérea em Lisboa e recebi esta proposta de trabalho através do Linkedin e decidi aceitar.» O trabalho da portuguesa na Airbus passa por monitorizar atrasos: «A ideia é identificar recomendações passiveis de providenciar às companhias aéreas de forma a evitar que o mesmo problema volte a causar um atraso à saída do avião.» Macron, presidente francês, em visita a Toulouse @Getty / Miguel Silveira passou por Toulouse há muito mais tempo: «Foi em 1998, durante a altura do campeonato do Mundo e chegámos a pensar em ir ver algum jogo, mas o curso que tiramos era muito acelerado e não houve hipótese. Eu era co-piloto Lockheed, essa frota foi extinta, e como estava próximo de passar a comandante fui para Toulouse fazer o curso do A340, porque a TAP, na altura, ainda não tinha simuladores desse avião, em Portugal e fomos à Airbus, em Toulouse fazer esse curso.» O antigo comandante esteve um mês em Toulouse a fazer a parte prática e cedo percebeu a dimensão da cidade: «Como tudo o bom país europeu, a França arranjou forma das suas grandes empresas ficarem espalhadas pelo território. A Airbus descentralizou, o aeroporto de Toulouse era bom, por causa do seu tamanho, a pista sempre foi muito boa com um tamanho muito bom para voos de ensaio e assim se estabeleceu o principal centro de fabricação, voos de teste e instrução em Toulouse. Era um centro de instrução enorme, já tinha estado na British Airways, mas ali em Toulouse era diferente. Era mais social, as pessoas eram mais acessivéis e notei sempre o cuidado que tinham em acomodar as mais variadas culturas que por lá passavam.» Toulouse Inês Fonseca escreveu-nos quase de coração aberto, apaixonada pela forma como tem vivido Toulouse: «La Ville Rose é parte da história da aviação mundial. Por exemplo, a 2 de Março de 1969 o Concorde, capaz de voar a mais de 2100 kms por hora, duas vezes a velocidade do som, descolou pela primeira vez partindo de Toulouse. Este avião foi produzido pela Sud-Aviation, que mais tarde se transformou em Aerospatiale que por fim dá origem à Airbus.» No céu aviões, lá ao fundo os Pirenéus. Toulouse está mergulhada numa região quase transitória. Todas as ruas têm duplas placas: ora escrita em francês, ora em occitano (dialeto local). A proximidade das gentes foi algo notado já em 1998 por Miguel Silveira. «Toulouse, para mim, foi um cartão de visita diferente, relativamente à cultura parisiense. Era muito acolhedor, a parte social era diferente, com muitos restaurantes abertos à noite, bares, restaurantes, uma cidade universitária e como tal foi uma estadia inesquecível.» O antigo comandante nunca mais voltou a Toulouse, mas... «agora estou com vontade de voltar. É um destino a visitar. Vários portugueses acabaram por fazer carreira na Airbus, mas já em 1998 existia alguns estudantes portugueses a formarem nas escola de aeronáutica que havia e ainda há em Toulouse. É um marco aeronáutico na Europa.» @Getty / Aviões no ar e bicicletas em terra. Toulouse está completamente virada para o desporto, como nos contou a engenheira aeronáutica da Airbus: «Não são só os ciclistas diários que enraizam o desportivo aqui. Ter os Pirenéus como vizinhos faz de nós amantes da montanha: hiking, ski e escalada fazem parte dos programas de fins de semana.» Se ficou com apetite, depois de tanto desporto, Toulouse não deixa a desejar, aos olhares desta portuguesa radicada nesta cidade francesa desde janeiro do ano passado: «A manhã tem de começar com um croissaint ou um chocolatine (nome especifíco para um folhado de chocolata aqui na Ocitânia). Ao fim do dia há vinhos e queijos surpreendentes para provar, com um dos três pratos típicos da cidade: Cassoulet (espécie de feijoada), Entrecôte ou Magret de Pato. Para algo mais ligeiro há imensas casas de chá, assim como lojas de crepes.» Toulouse, a cidade onde os adeptos do Benfica querem ter boas recordações.
6 títulos oficiaisUma cidade cor-de-rosa