Anda comigo ver os aviões

6 meses atrás 52

Quando Miguel Araújo resolveu dar asas à sua inspiração e dar ao cancioneiro português um dos mais belos poemas de amor, não estaria a pensar em Toulouse, mas se fosse acertaria na muche. É que aqui não faltam aviões a rasgar ar, nem foguetões prontos a levantar voo.

Na cidade onde o Benfica vai tentar seguir em frente na Liga Europa há uma enorme comunidade de portugueses - como quase em toda a França -, mas há um setor que é rei na Ville Rose: a aeronáutica. Por aqui está sediada a Airbus e ainda há a Cidade do Espaço e o Museu da Aeroscopia.

No meio do trabalho futebolístico, houve necessidade de descobrir a cidade e falamos com um comandante, que tirou o curso do A340 na Airbus em 1998, e com uma engenheira aeronáutica que trabalha atualmente na multinacional francesa, na área da fiabilidade.

A aventura de Inês Fonseca, engenheira da Airbus, tem pouco mais de um ano e ao nosso portal contou que «trabalhava numa companhia aérea em Lisboa e recebi esta proposta de trabalho através do Linkedin e decidi aceitar.» O trabalho da portuguesa na Airbus passa por monitorizar atrasos: «A ideia é identificar recomendações passiveis de providenciar às companhias aéreas de forma a evitar que o mesmo problema volte a causar um atraso à saída do avião.»

Macron, presidente francês, em visita a Toulouse @Getty /

Miguel Silveira passou por Toulouse há muito mais tempo: «Foi em 1998, durante a altura do campeonato do Mundo e chegámos a pensar em ir ver algum jogo, mas o curso que tiramos era muito acelerado e não houve hipótese. Eu era co-piloto Lockheed, essa frota foi extinta, e como estava próximo de passar a comandante fui para Toulouse fazer o curso do A340, porque a TAP, na altura, ainda não tinha simuladores desse avião, em Portugal e fomos à Airbus, em Toulouse fazer esse curso.»

O antigo comandante esteve um mês em Toulouse a fazer a parte prática e cedo percebeu a dimensão da cidade: «Como tudo o bom país europeu, a França arranjou forma das suas grandes empresas ficarem espalhadas pelo território. A Airbus descentralizou, o aeroporto de Toulouse era bom, por causa do seu tamanho, a pista sempre foi muito boa com um tamanho muito bom para voos de ensaio e assim se estabeleceu o principal centro de fabricação, voos de teste e instrução em Toulouse. Era um centro de instrução enorme, já tinha estado na British Airways, mas ali em Toulouse era diferente. Era mais social, as pessoas eram mais acessivéis e notei sempre o cuidado que tinham em acomodar as mais variadas culturas que por lá passavam.»

Toulouse
6 títulos oficiais

Sem saber, Inês Fonseca, uma engenheira aeronáutica que trabalha Airbus atualmente, mais de 25 anos depois de Miguel Silveira ter tirado o seu curso, revelou o mesmo fator, como algo muito positivo: «É motivador, pois é uma empresa muito importante no mundo da aviação. Além do mais, a Airbus oferece a oportunidade crescer profissionalmente e de desenvolver uma carreira explorando o que gostamos mais sem ter que transitar para uma outra empresa ao longo do tempo. Por fim os valores deste grupo, que é focado nas pessoas: os clientes e os colaboradores.»

Inês Fonseca escreveu-nos quase de coração aberto, apaixonada pela forma como tem vivido Toulouse: «La Ville Rose é parte da história da aviação mundial. Por exemplo, a 2 de Março de 1969 o Concorde, capaz de voar a mais de 2100 kms por hora, duas vezes a velocidade do som, descolou pela primeira vez partindo de Toulouse. Este avião foi produzido pela Sud-Aviation, que mais tarde se transformou em Aerospatiale que por fim dá origem à Airbus.»

Uma cidade cor-de-rosa

No céu aviões, lá ao fundo os Pirenéus. Toulouse está mergulhada numa região quase transitória. Todas as ruas têm duplas placas: ora escrita em francês, ora em occitano (dialeto local). A proximidade das gentes foi algo notado já em 1998 por Miguel Silveira.

«Toulouse, para mim, foi um cartão de visita diferente, relativamente à cultura parisiense. Era muito acolhedor, a parte social era diferente, com muitos restaurantes abertos à noite, bares, restaurantes, uma cidade universitária e como tal foi uma estadia inesquecível.»

O antigo comandante nunca mais voltou a Toulouse, mas... «agora estou com vontade de voltar. É um destino a visitar. Vários portugueses acabaram por fazer carreira na Airbus, mas já em 1998 existia alguns estudantes portugueses a formarem nas escola de aeronáutica que havia e ainda há em Toulouse. É um marco aeronáutico na Europa.»

@Getty /

É a primeira grande cidade depois da Península Ibérica. A arquitetura renascentista tem mão em cada canto, os edifícios em tijolo são incalculáveis. No olhar para o presente, Inês Fonseca foi direta: «Aos meus olhos, as cores da cidade são apaixonantes: à beira do rio Garona é possível assistir a um dos pôr-do-sol mais bonitos.»

Aviões no ar e bicicletas em terra. Toulouse está completamente virada para o desporto, como nos contou a engenheira aeronáutica da Airbus: «Não são só os ciclistas diários que enraizam o desportivo aqui. Ter os Pirenéus como vizinhos faz de nós amantes da montanha: hiking, ski e escalada fazem parte dos programas de fins de semana.»

Se ficou com apetite, depois de tanto desporto, Toulouse não deixa a desejar, aos olhares desta portuguesa radicada nesta cidade francesa desde janeiro do ano passado: «A manhã tem de começar com um croissaint ou um chocolatine (nome especifíco para um folhado de chocolata aqui na Ocitânia). Ao fim do dia há vinhos e queijos surpreendentes para provar, com um dos três pratos típicos da cidade: Cassoulet (espécie de feijoada), Entrecôte ou Magret de Pato. Para algo mais ligeiro há imensas casas de chá, assim como lojas de crepes.»

Toulouse, a cidade onde os adeptos do Benfica querem ter boas recordações.

Ler artigo completo