António Salvador: «Não nos é permitido julgar que a fórmula do passado garantirá o sucesso futuro»

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A primeira edição do Future Stage - SC Braga Sports Congress arrancou, esta quarta-feira, na Cidade Desportiva do emblema arsenalista. Com a AMCO Arena, casa das modalidades dos minhotos, como palco para o congresso que vai ocupar a agenda dos próximos dois dias, António Salvador, presidente bracarense, fez o discurso de abertura e apontou à importância dos tempos que vivemos.

O líder minhoto começou por justificar as razões que levaram à organização do congresso, fazendo referência às instalações de topo que o clube dispõe, mas também à vontade de ter o SC Braga na vanguarda e como voz ativa nas discussões. Salvador alertou ainda para o facto de que a receita que deu sucesso no passado não é garantia por si só de que o futuro também seja de sucesso, pelo que os tempos atuais são «perigosos» e onde «hesitações e indefinições representarão perdas quiçá irrecuperáveis.»

O discurso de António Salvador

«Estes dois dias de debate e de reflexão sobre o futebol e sobre o desporto acontecem por duas grandes razões. A primeira delas, embora menos importante, não pode deixar de ser referida como motivo e condição e tem que ver com as estruturas de que o clube dispõe. Foi também para eventos desta natureza que investimos na Cidade Desportiva e é com grande orgulho que vejo um congresso desta dimensão concretizar-se nesta casa, escassas horas depois de aqui mesmo se ter disputado um jogo da final do campeonato de futsal. É esta dinâmica que valoriza a grande aposta que fizemos na nossa Cidade Desportiva. Ter instalações de referência é o que permite ao Sporting Clube de Braga ter eventos de referência.

Quero também reconhecer o apoio e o acolhimento por parte de todas as entidades que ao longo destes dois dias se vão fazer representar neste congresso. Agradeço por terem aceitado debater o futuro do futebol e do desporto connosco. Não posso deixar de referir, de forma muito particular, duas organizações que nos deram todo o suporte e que permitiram a presença de importantes quadros. Falo obviamente da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portugal, a quem agradeço na figura dos seus presidentes. A segunda razão para que este evento possa ser uma realidade, e a mais importante, é que este clube tem um posicionamento institucional que todos reconhecem e não abdica de ser voz ativa e relevante nas grandes discussões sobre o futuro do nosso futebol e do nosso desporto. O Sporting Clube de Braga tem quadros de primeira linha nas mais diversas áreas.

O Sporting Clube de Braga tem pensamento crítico e tem visão sobre o caminho coletivo que devemos percorrer. Mas o Sporting Clube de Braga não está fechado sobre si mesmo, antes se afirma como uma instituição que sempre procura o diálogo e a construção coletiva de um bem comum. É por isso que convocamos para este congresso os melhores profissionais de muitas das mais relevantes instituições do futebol e do desporto. Para que desta troca de ideias, muitas vezes com discordância e conflito, possam sair compromissos. Para que se identifiquem problemas e desafios, mas também se encontrem respostas e oportunidades. Neste clube, somos muito otimistas relativamente ao futuro, mas sabemos que para avançar é preciso assumir riscos e tomar decisões.

Muitas vezes, é preciso ser impopular. Sinto que este é um momento coletivo que nos convoca a sair da nossa zona de conforto. Precisamos de causas e de objetivos maiores, nos quais acreditemos de forma convicta e pelos quais sejamos capazes de lutar de modo inegociável. Precisamos de uma visão global, mesmo que ela seja incómoda para o interesse particular. Precisamos de repensar todo o nosso edifício desportivo e de reestruturar a sua pirâmide. Cuidando e alimentando a base, ao mesmo tempo que apertamos e valorizamos aquela que é a nossa elite.

O futebol e o desporto português podem e devem ter orgulho no muito que fazem, mas não nos é permitido julgar que a nossa posição é adquirida e que as fórmulas do passado garantirão o nosso sucesso futuro. Este é um tempo perigoso. Hesitações e indefinições representarão perdas quiçá irrecuperáveis. Este não é um tempo para taticismos ou estratégias particulares. Perante os enormes obstáculos que temos pela frente, só lideranças firmes e convictas serão capazes de nos guiar rumo ao único caminho que nos serve: o da competitividade e sustentabilidade. Só elevando a nossa fasquia ao nível dos melhores podemos aspirar à elite.

Só a presença na elite garante os recursos de que precisamos para alimentar todo o nosso edifício desportivo, reforçando a circularidade desta indústria e permitindo investimento na alta competição, nas modalidades e na formação. Só com visão e suporte político conseguiremos cumprir a função social que o futebol e o desporto desempenham neste país e que é tantas vezes esquecida e menorizada. Com este congresso, o Sporting Clube de Braga pretende reforçar a mensagem de que está consciente da linha muito ténue que neste momento nos pode fazer pender, em Portugal, para a evolução ou para a irrelevância. Mas pretende também reafirmar que está disponível e na linha da frente para um trabalho conjunto que garanta que avançamos no tempo certo e da forma certa rumo a um futuro muito melhor. Estou certo de que é isso que nos traz aqui.»

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