As ameaças e oportunidades de Luís Montenegro

6 meses atrás 60

Não me recordo de assistir a uma noite eleitoral tão incerta e agitada. Tanto à esquerda como à direita, o jogo de nervos foi grande e até o eleitorado surpreendeu pela positiva com uma participação nas urnas muito acima do que tem acontecido nos últimos atos eleitorais.

Os vencedores da noite foram vários, mas, digam o que disserem, os partidos que compõem a coligação da AD e Luís Montenegro são vencedores. A vitória não é folgada, é verdade, mas a legitimidade política para governar não pode ser posta em causa.

Quase todos os comentadores vaticinam um cenário de eleições dentro de muito pouco tempo, sustentados na argumentação de que a AD não vai conseguir garantir a estabilidade governativa necessária para cumprir a execução do seu programa eleitoral. Eu percebo essas narrativas, mas também acredito que pode não ser necessariamente assim.

Acredito que Luís Montenegro tem pela frente um caminho exigente de gestão governativa que pode, também, redundar numa oportunidade política de gerir o País mais ao centro com equilíbrios à direita e à esquerda, mas sobretudo à direita. A responsabilidade da oposição e o esforço de conciliação de quem governa também é algo que não pode ser ignorado.

Parte do esforço de governação da AD deve ser focado em tentar perceber o que levou uma parcela do seu eleitorado, do centro e da direita, a escolher um partido de protesto como o Chega. Se não fizer esse exercício, e se não encontrar as políticas certas para recuperar esse eleitorado, poderá ficar a curto prazo numa situação dramática de sobrevivência política.

Parece-me evidente que o governo de Luís Montenegro vai condicionar o PS nas políticas mais ao centro e o Chega nos temas mais à direita. E entre o apoio de uns ou de outros, com mais ou menos negociação, a AD irá tentar ter a estabilidade política possível para governar o País.

E mais, também não me parece que quer o Chega quer o PS queiram ficar, aos olhos dos portugueses, como os partidos que fizeram uma coligação negativa contra a AD.

Daqui para a frente, não vai ser possível olhar para o Chega como antes do dia 10 de março. Um partido que agora tem 48 lugares no Parlamento e mais de um milhão de votos nas urnas não pode ser ignorado e segregado. Mas também não será menos verdade que a responsabilidade e a exigência desse eleitorado ao Chega será, também ela, bem maior do que foi no passado.

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