Ataques esta semana na Alemanha relançam debate sobre punição e deportação de migrantes

3 meses atrás 85

O homem ficou ferido numa perna e foi hospitalizado.


A polícia acredita que este foi um caso isolado e sem ligações ao Campeonato Europeu de futebol, que se iniciou sexta-feira em Munique e que deverá trazer 2.7 milhões de visitantes à Alemanha.

"A área de Heiligengeistfeld é submetida a segurança diversa e está bem protegida", garantiu um porta-voz da polícia. A fan zone acabou contudo por ser encerrada.

Contudo, só esta semana o país foi palco de três ataques graves, um dos quais pouco antes do início do jogo inaugural entre a Alemanha e a Escócia e outro, marcadamente racista, na noite de sexta-feira.

A Alemanha está sob alerta máximo securitário devido ao campeonato de futebol, tanto para prevenir atos de hooliganismo como um eventual ataque terrorista.


Há relatos de que o grupo conhecido como Estado Islâmico, ou ISIS, estará a planear uma operação durante as quatro semanas que dura a competição.

Até agora, os incidentes foram considerados atos de lobos solitários ou motivados por racismo.
Ataques na sexta-feira

No primeiro incidente de sexta-feira, um homem de 27 anos, identificado como sendo afegão, atacou várias pessoas com uma faca no estado da Saxónia-Anhalt. A sua primeira vítima foi outro afegão, que acabou por morrer. 

O atacante correu depois, armado e ameaçador, por um bairro de Wolmirstedt, uma cidade de 12,000 habitantes a norte de Magdeburge. Acabou por invadir uma propriedade onde decorria uma festa organizada para assistir ao jogo inaugural do Euro2024, esfaqueando pessoas ao acaso. Três ficaram feridas, duas com gravidade. 

A polícia acabou por abater o afegão a tiro quando este avançou sobre os agentes que tentaram dominá-lo.

Apesar de não ter sido esclarecido o motivo inicial, as forças de segurança não encontraram indícios de caracter religioso.

Já à noite, em Grevesmühlen, no Estado nortenho de Mecklenburg-Pomerania ocidental, um grupo de 20 adolescentes e jovens, atacaram duas irmãs oriundas do Gana, de oito e 10 anos, deixando feridos a mais nova e o pai das duas crianças.

A criança terá sido pontapeada na cara, levando à intervenção dos progenitores. Um dos atacantes terá continuado a proferir insultos racistas contra as vítimas mesmo na presença de agentes da polícia.

O incidente está a ser investigado por violação da paz, atentado à integridade física, incitamento ao ódio e abuso verbal. A idade dos atacantes está a preocupar as autoridades, com várias personalidades a frisarem que essa circunstância não deve impedi-los de serem julgados com a máxima severidade.

Ataque segunda-feira
Segunda-feira, uma mulher de 41 anos havia sido esfaqueada por um homem, numa rua da cidade de Frankfurt. A mulher seria ucraniana e o atacante um afegão de 19 anos, requerente de asilo, que foi detido e se encontra sob custódia.

O motivo do ataque não foi esclarecido e os dois não tinham qualquer relação entre si. A mulher estava sentada num banco junto ao rio quando o atacante veio por trás e a agarrou, esfaqueando-a sucessivas vezes no pescoço e na cabeça. 

Ferida, ela ainda conseguiu fugir mas acabou por tombar. O rapaz aproveitou para prosseguir o ataque, mas os gritos da vítima levaram à intervenção de transeuntes, forçando-o a fugir e esconder-se, tendo sido depois capturado. A mulher ficou em estado grave.


A procuradoria de Frankfurt am Main acusou o adolescente de tentativa de assassínio e de atentado grave à integridade física.

O jovem afegão não tinha sido sinalizado pela polícia como radicalizado.

Dez dias antes, um polícia havia sido morto e outros quatro feridos gravemente, num ataque com faca em Mannheim. Os media alemães reportaram ainda outro ataque, nesse dia, por parte de um afegão de 22 anos, na ilha de Rügen, no Mar Báltico. 

Esse atacante teria rasgado vários cartazes eleitorais do partido Alternativa para a Alemanha, AFD, anti-migração, antes de, alegadamente, se dirigir a agentes da polícia armado com uma "faca longa", de acordo com testemunhas.

Imigração e racismo

A série de incidentes relançou o debate em torno das regras de imigração, já aceso na sociedade alemã e um dos principais motivos para a ascenção da extrema-direita em recentes atos eleitorais.

Entre apelos para mão pesada oriundos de vários quadrantes políticos, especificamente para com o atacante adolescente de Frankfurt, Jens Spahn, vice-líder parlamentar do partido democrata cristão CDU, o principal da oposição, denunciou a crescente "violência" na Alemanha, ligando-a diretamente aos imigrantes.

"Os padrões infelizmente repetem-se. Uma vez mais, temos alguém que nunca devia ter sido autorizado a entrar neste país, ou não deveria ter sido autorizado a ficar, a cometer um crime grave e violento. A imigração irregular de países violentos só veio tornar o nosso país mais violento", afirmou aos microfones da aplicação informativa NZZ.

A ministra Federal do Interior, Nascy Fraeser, veio contudo denunciar o ataque racista de Grevesmühlen na rede X, em solidariedade com as vítimas. "Chamar nomes racistas a crianças e ataca-las brutalmente é um sinal de ódio profundo e inumanidade inconcebível", escreveu.

A primeira-ministra do Estado alemão onde as crianças foram atacadas, Manuela Schwesig, condenou igualmente o sucedido na rede X. "A criança ferida tem oito anos de idade - a mesma da minha filha. Não podemos deixar o ódio e o discurso de ódio envenenar a nossa sociedade e a violência ameaçar as nossas crianças", sustentou.
Deportação na agenda
Spahn e outros deputados da CDU têm apelado o Governo alemão a deportar criminosos violentos, endurecendo a legislação atual. Outras organizações, como o grupo pró-migração Pro Asyl, defendem que os condenados destes crimes deviam cumprir a sua pena na Alemanha.

No início do mês, pressionada, Nancy Faeser, uma social-democrata, admitiu que a Alemanha pode vir a deportar para o Afeganistão os imigrantes afegãos que se revelem uma ameaça à segurança.

Tal decisão seria controversa, uma vez que o país não deporta pessoas que corram risco de vida nos países de origem. As deportações para o Afeganistão foram suspensas após os Taliban terem regressado ao poder em Cabul, em 2021.

Os Taliban já se mostraram disponíveis para negociar com o Governo alemão a deportação destes elementos violentos. Berlim tem contudo preferido conversar com as autoridades do Uzbequistão.

De acordo com o Der Spiegel, este domingo, uma delegação do Ministério do Interior da Alemanha, visitou a capital uzbeque, Tashkent, em finais de maio, com aquele objetivo.

A publicação, que não cita fontes, refere que a delegação alemã propôs que os deportados da Alemanha desembarcassem em Tashkent, podendo ser depois transportados para Cabul pela companhia aérea KamAir.

Os uzbeques exigem um tratado migratório com a Alemanha antes de qualquer acordo sobre deportados, referiu o Spiegel. Um tratado migratório iria regulamentar a entrada de operários especializados uzbeques na Alemanha. 

Na próxima semana, representantes especiais ligados aos serviços de imigração alemães irão viajar para o Uzbqueistão, acrescentou a publicação.

Ler artigo completo