Ataques ucranianos visam perturbar as eleições e terão "resposta", assegura Vladimir Putin

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Reconhecendo pela primeira vez as incursões em cidades russas junto à fronteira com a Ucrânia, Vladimir Putin considerou-as uma tentativa de "perturbar as eleições" e prometeu dar resposta.

"Estes ataques inimigos não ficam e não ficarão impunes", afirmou durante uma transmissão televisiva do conselho de segurança afeto ao Kremlin. "Tenho certeza de que o nosso povo, o povo russo, reagirá ainda com mais unidade", acrescentou.

Dois homens e uma mulher foram detidos nas últimas horas na Rússia, com as autoridades a acusa-las de atos de sabotagem a favor da Ucrânia.

Segundo as autoridades, os homens confessaram obediência à Legião da Liberdade Russa, um grupo alegadamente composto por combatentes russos anti-Kremlin, e um dos responsáveis pelas incursões armadas nas regiões fronteiriças russas dos últimos dias.

Um deles, detido em Moscovo, terá contactado voluntariamente as forças ucranianas, sendo-lhe atribuída a missão de atacar "os sistemas de defesa aérea russos", pelo que "montou e lançou 'drones'", de acordo com os serviços russos de informação, FSB. Incorre no crime de alta traição.

O outro homem estaria a preparar "ataques terroristas" para "desestabilizar" as eleições. Teria artefactos explosivos na sua posse para atingir "edifícios de empresas do setor energético e de infraestruturas sociais".

A mulher "adquiriu ilegalmente um dispositivo explosivo" e planeava "explodir vias férreas", afirmaram os serviços de segurança russos, citados pela agência noticiosa Tass.

Nos últimos dias, foram difundidas imagens de várias refinarias russas junto à fronteira com a Ucrânia, em chamas após ataques.

As ações, ocorridas nas vésperas da eleição e cuja autoria é impossível de verificar de forma independente, desmentem o presidente, que afirma que a vida na Rússia não foi afetada pela guerra.

Três grupos de voluntários russos pró-Ucrânia, a Legião Liberdade para a Rússia, o Corpo de Voluntários Russos e o Batalhão Siberiano, apelaram mesmo na rede Telegram a população civil das cidades de Belgorod e de Kursk, a fugir devido à iminência de incursões.


O exército russo garante que estas foram repelidas, incluindo uma nas últimas horas que terá feito meia centena de mortos. Detenções por protestos

As eleições presidenciais russas começaram esta sexta-feira e deverão continuar até domingo.

Num país onde o protesto e a dissidência são proibidos e onde a obstrução ao exercício do direito de voto pode ser punida com penas de prisão, o primeiro dia da votação ficou marcado por vários incidentes isolados, que resultaram em oito detenções.


Uma mulher incendiou uma cabine de voto em Moscovo, e outras cinco pessoas pulverizaram os boletins de voto com um "líquido corante", nas regiões da capital, de Voronezh, Rostov e Karachayevo-Cherkessia. Outra pessoa tentou incendiar uma urna, na Sibéria, e um outra quis acender um foguete numa assembleia de voto de Chelyabinsk.

Um repórter da AFP entrevistou em Moscovo alguns eleitores, que se mostraram resignados. "Já está tudo decido", referiu uma delas, Nadejda, bailarina de 23 anos acompanhada até à cabinete de voto por um agente eleitoral, que depois se afastou.

"À minha volta, estamos todos habituados à ideia de que já está tudo decido por nós, não podemos fazer nada", afirma. "É tudo um bocado falso" e o "facto de estar aqui não muda nada", acrescenta. E explica, se não fosse votar "teria problemas" com o seu empregador.

A maioria afirma apoiar o presidente.

Um pequeno vídeo foi publicado pelo Kremlin a mostrar o presidente russo a votar on-line, no seu gabinete, tal como já havia sucedido em 2021, durante as eleições legislativas, em 2022, para eleger deputados de Moscovo, e, em 2023, durante as eleições para a autarquia da capital russa.


Mesmo rejeitando usar internet e telemóvel, por questões de segurança, Vladimir Putin considera oficialmente o voto à distância "cómodo e seguro".

A Comissão Eleitoral Central refere a votação eletrónica como o método de votação preferido de 80 por cento dos moscovitas. É primeira vez que é usado numas eleições presidenciais, sob críticas da oposição, que considera o processo um potencial instrumento de fraude.

Voto ucraniano

O Parlamento Europeu referiu há dias que não foi convidado a enviar uma delegação de observadores das eleições, apesar do Kremlin ter anunciado a presença de 300 mil observadores estrangeiros.

Este ano, as eleições são marcadas também pelo escrutíneo nas áreas ocupadas na Ucrânia, de Kherson, Zaporijia, Lugansk e Donetsk, assim como na Crimeia. Kiev e os seus aliados ocidentais contestam-nas e já afirmaram que o resultado não será reconhecido.

Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou a votação considerando que "a tentativa de anexação ilegal de regiões da Ucrânia não tem validade perante o direito internacional".

"As Nações Unidas continuam firmemente empenhadas na soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, conforme as resoluções relevantes da Assembleia-Geral", afirma ainda o comunicado, divulgado pelo porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.

a União Europeia preferiu a ironia. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, recorreu à rede X para felicitar o presidente russo, pela "vitória esmagadora", acrescentando que não há "liberdade" nem "escolha".
Vencedor garantido

Vladimir Putin é contudo o único candidato credível e a sua vitória está grantida à partida, tendo sido autorizadas apenas candidaturas classificadas como amigáveis em relação ao Kremlin.

Os boletins incluem apenas três outros candidatos inofensivos, Leonid Slutski, pelo Partido Liberal Democrata da Rússia (LDPR); Nikolai Jaritonov, pelo Partido Comunista da Rússia (KPRF), e Vladislav Davankov, pelo Novo Povo.


Em 16 de fevereiro, o mais conhecido líder da oposição russa, Alexei Navalny, cuja tentativa de concorrer contra Putin em 2018 foi rejeitada, morreu repentinamente na prisão em circunstâncias pouco claras enquanto cumpria uma pena de 19 anos por acusações de extremismo. Menos de uma semana depois, o Supremo Tribunal da Rússia rejeitou um recurso do opositor Boris Nadezhdin, que se manifesta abertamente contra a guerra na Ucrânia.

Putin, que está no poder desde 2020, tendo alternado entre a presidência e o cargo de primeiro-ministro (entre 2008 e 2012), procura reeleger-se para mais um mandato de seis anos e, apesar de ter prometido que não o faria, alterou a Constituição de forma a permiti-lo, algo entendido por muitos russos como uma violação da lei.

Em 2018, Putin venceu na primeira volta com 77,7%, deixando a larga distância os outros candidatos, num ato eleitoral que teve uma participação registada de 67,54%, embora observadores e eleitores individuais tenham relatado violações generalizadas, incluindo enchimento de urnas e votações forçadas.

A Comissão Eleitoral Central russa refere que 112,3 milhões de eleitores são chamados a votar nos próximos três dias na Rússia e nas regiões ucranianas incluindo a Crimeia, a que se somam 1,9 milhões no estrangeiro.


com agências
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