Athletic à caça de Djaló? As aquisições guiadas por uma essência ímpar

7 meses atrás 39

Cada vez mais as tradições futebolísticas se evaporam numa fumaça de ideais revolucionários. Como tal, são poucos os emblemas sobreviventes aos tão aliciantes ventos da mudança. O Athletic é das escassas equipas que ainda mantém os costumes bem presentes, fruto de uma política de contratações bastante restrita.

Num período onde o dinheiro gere os diferentes contextos competitivos, a turma de Bilbao é uma lufada de ar fresco no prisma moderno. Álvaro Djaló, atleta do SC Braga, tem sido um dos nomes mais recentes associados à lista de compras dos leones de San Mamés. O propósito deste interesse? Explicaremos mais à frente...

Uma Copa del Rey, uma mudança de rumo

Bilbao. A capital do País Basco, uma das comunidades autónomas de Espanha. Com uma cultura que se distingue do restante país, bem como uma língua - euskera -, o local mencionado também respira o futebol de uma forma verdadeiramente única.

@LaLiga

Esta vivência singular da modalidade ficou patente no historial de aquisições e na estruturação dos plantéis ao longo dos anos. Contudo, nem sempre foi assim. A história de um clube e de um povo acabaria por ficar marcada por uma mera punição.

Na temporada 1910/11, o Athletic garantiu a quarta Copa del Rey do seu palmarés, levando a melhor diante do Espanyol no derradeiro encontro da competição (3-1). No entanto, esta edição do torneio ficou marcada pela turbulência, fruto de diversos protestos envolvendo o conjunto que ergueu o prestigiante troféu.

A polémica instaurou-se em torno da integração de atletas inelegíveis no torneio, levando a múltiplas desistências. Por exemplo, na primeira ronda de embates, a Real Sociedad exigiu a desqualificação do emblema de Bilbao pela utilização de dois jogadores ingleses, que não residiam na Espanha pela margem temporal necessária. Todavia, a queixa elaborada acabou por não ter o desfecho que os errala pretendiam.

Con cantera y afición, no hace falta importación

As constantes injúrias ao clube, relativas a este cenário em particular, originaram uma mudança comportamental: a equipa adotou uma política singular de contratações envolvendo jogadores nascidos/criados no País Basco ou com determinadas afiliações, como progenitores da respetiva localidade.

@Getty /

De realçar que os jovens formados localmente também podem fazer parte do projeto. As instalações de Lezama, local onde está afixada a academia, são então responsáveis pelo desenvolvimento da grande maioria dos intervenientes que acaba por atingir o plantel principal. 

«Nós temos uma cultura aqui, uma identidade. A família é a coisa mais importante para os bascos e, como tal, nós queremos satisfazer os nossos objetivos com as nossas pessoas. Não há maior sentimento de orgulho para um rapaz do que representar este clube», referiu José Amorrortu, diretor-desportivo, em declarações ao The Guardian.

O mote 'Con cantera y afición, no hace falta importacióntransmite na perfeição os valores de um clube. Para quê ir buscar meninos de fora quando se pode apostar na prata da casa?

É na prata da casa que se esconde o ouro

Esta sensação de pertença e a respetiva vontade de honrar a tão preciosa camisola podem ser os condimentos especiais para os leones de San Mamés ainda estarem presentes nos altos voos do futebol espanhol. Aliás, o conjunto nunca disse 'adeus' ao principal escalão durante toda a sua história, ocupando um pedestal onde estão acompanhados, única e exclusivamente, por Real Madrid e FC Barcelona.

@Getty / Juan Manuel Serrano Arce

A verdade é que neste projeto nicho, são vários os craques que têm ajudado o clube a concretizar os árduos objetivos: Ander Herrera ou Aymeric Laporte são alguns exemplos de profissionais de excelência que vivenciaram esta singular realidade, antes de embarcarem nos grandes tubarões europeus.

Porém, esta seleção diferenciada dos protagonistas exige, por consequência, uma gestão mais cuidada e cautelosa. Sabendo que é muito complicado arranjar elementos no mercado que correspondam aos critérios definidos, o emblema basco possui um comportamento de venda muito rígido, fazendo sempre os possíveis para libertar as jóias pelas respetivas cláusulas de rescisão.

@Getty / Gonzalo Arroyo Moreno

Para dar um exemplo concreto, Kepa Arrizabalaga esteve a um passo da porta de saída em janeiro de 2011, com o Real Madrid a ser o destino mais provável. O contrato entre o guardião espanhol e a respetiva entidade desportiva terminava no final da temporada 2017/18. Portanto, tudo faria crer que uma venda no defeso de inverno seria a única opção viável para obtenção de um negócio rentável.

Contudo, numa notícia surpreendente, a direção do Athletic conseguiu prolongar o vínculo com a jovem promessa até 2025. Este enorme poder de persuasão por parte da direção valeu 80 milhões de euros (!) aos cofres do tradicional conjunto - o novo valor da cláusula -, fazendo de Kepa o guarda-redes mais caro do futebol mundial.

Álvaro Djaló: nascido em Madrid, mas elegível

Por intermédio desta aptidão negocial, a formação da Biscaia possui os recursos orçamentais para investir em reforços. Segundo o portal El Chiringuito, a equipa já assegurou a contratação de Álvaro Djaló, destaque dos arsenalistas, para a próxima época.

@Kapta+

Com 13 golos e três assistências, numa campanha individual de afirmação, o avançado tem dado nas vistas sob a orientação de Artur Jorge. A sua capacidade de desequilíbrio e valência no um-para-um são aptidões muito apetecíveis para formações aclamadas de ligas distintas. 

Caros leitores, ao pesquisarem a ficha do atleta no nosso site é normal que pairem algumas dúvidas: 'Como é que o Álvaro pode entrar no leque de opções se nasceu em Madrid?'. É simples. Voltamos então aos critérios já mencionados neste artigo...

@Kapta+

O extremo de 24 anos brotou na capital espanhola. Porém, grande parte da sua infância foi vivida em Bilbao. Basta analisar o percurso do protagonista na nossa página para contemplarmos uma passagem nas camadas de formação do SD Begoña, emblema basco, antes de rumar para terras lusitanas.

Em novembro, Hugo Cajuda, empresário do jovem jogador, também abriu o livro sobre a possível mudança: «O Álvaro Djaló nasceu em Madrid, mas passou toda a sua vida em Bilbao. Os seus pais e a sua família ainda lá estão e ele vai lá sempre que pode. Nunca jogou lá, mas como é a equipa da cidade onde cresceu, tem um carinho especial por ela.»

A excelente prestação coletiva dos leones de San Mamés também ajuda para o aliciamento de futebolistas com um nível superior. Na temporada atual, os pupilos de Ernesto Valverde vão de vento em popa na La Liga, ocupando o quinto posto da tabela classificativa, lugar que dá acesso à Europa.

Se esta transferência sempre se concretizar, escreve-se, assim, uma nova página no complexo livro da história do desporto nacional. Recorde-se que é a primeira vez que o Athletic vai à caça de talento ao futebol português. Ainda sem respostas definitivas, veremos o que o futuro reserva.

Espanha

Álvaro Djaló

NomeÁlvaro Djaló Dias Fernandes

Nascimento/Idade1999-08-16(24 anos)

Nacionalidade

Espanha

Espanha

Dupla Nacionalidade

Guiné-Bissau

Guiné-Bissau

PosiçãoAvançado (Extremo Esquerdo) / Avançado (Extremo Direito)

 Sporting x SC Braga

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