Autoridades portuguesas devem sensibilizar PR da Guiné-Bissau porque jornalismo "tem de ser protegido", diz sindicato

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Em declarações à agência Lusa a propósito das ameaças de retaliação feitas na terça-feira pelo chefe de Estado guineense aos jornalistas, Luís Filipe Simões disse que "começa a ser recorrente o Presidente da Guiné-Bissau ameaçar jornalistas", considerando tratar-se de atitudes típicas de "um tirano".

"Estou-lhe a chamar tirano, sim, porque com estes comportamentos pouco democráticos é isso que mostra. Os tiranos, por norma, atacam os jornalistas", disse.

O Presidente da Guiné-Bissau disse esta terça-feira, durante o discurso na cerimónia de inauguração da Avenida Amílcar Cabral, no centro de Bissau, que os jornalistas são "da oposição" e ameaçou acabar com a audição de analistas, concretamente na RTP, sobre a situação política do país.

O sindicalista apelou assim "às autoridades portuguesas para que procurem sensibilizar e dizer ao Presidente da Guiné-Bissau que os jornalistas não são um inimigo", considerando que isso "é determinante" para o jornalismo "ser protegido" e para que os jornalistas não continuem "a ser o alvo de um Presidente que se sente incomodado".

Luís Filipe Simões lembrou que ainda no início do ano, numa visita ao Ministério do Interior, Sissoco Embaló tinha "ordenado aos polícias que criassem uma organização que monitorizasse todos os órgãos de comunicação social, com a finalidade de que, em caso algum, um jornalista que fizesse um comentário ou que difamasse um membro do Governo ou o Presidente da República não deixasse de ser detido".

Considerando que "esta ameaça já vem de longe", o presidente do sindicato referiu que o que aconteceu na terça-feira é ainda "mais grave" do que outras declarações do chefe de Estado guineense porque "os jornalistas estavam ali e ele apontou-os" e isso, no seu entender, é "mais do que pressão, é colocar em risco toda uma classe que não é oposição".

O que os jornalistas "vão tentando é mostrar a realidade de um país que tem situações complicadas", afirmou. Mas, "os líderes autoritários fazem sempre isto para precisamente enfraquecer quem vai lutando (...) por mostrar a verdade", acrescentou.

Além disso, Luis Filipe Simões considerou que este "é o momento" para o SJ e o Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau unirem esforços, dadas as "muito boas relações" que têm e encontrarem "um caminho de apoio" à estrutura guineense.

No discurso, em que justificou que o centenário do nascimento do líder histórico Amílcar Cabral não se celebra com palavras, mas com obras para o futuro, como a renovada avenida, o Presidente da Guiné-Bissau dirigiu-se aos jornalistas para lhes dizer que "têm responsabilidades" na imagem do país e que "não é só o que é mau que devem transmitir".

"Todos os jornalistas aqui, penso que vocês são todos da oposição", afirmou, argumentando que em nenhum outro país africano, seja Angola, Moçambique, São Tomé ou Senegal, se veem "jornalistas a correr a ouvir pessoas que dizem que são analistas políticos, pessoas que não conseguem analisar nem a própria cabeça e dizem que são analistas políticos".

"Quando é que veem na France 24 como a RTP faz cá, vai à procura de qualquer um e diz que é analista político. Só na RTP e só na Guiné-Bissau, mas vão acabar com isso, senão eu próprio vou acabar com isso. Vão saber que, neste país a desordem acabou. É ano de rigor e disciplina", declarou.

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