BCP tranquilo com a redução da participação do núcleo de acionistas estratégicos para 40%

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A Fosun entrou a investir 175 milhões por 16,7% do BCP em 2016 e a venda de 9,9% a valor de mercado rende 428 milhões e ainda ficam com 20%, pelo menos durante dois meses. Não foi um mau negócio para a Fosun. O BCP não teme maior fragilidade acionista com a redução do seu acionista estratégico. Sonangol volta a ter o mesmo poder acionista que a Fosun. Fitch considera neutra a operação para o perfil de risco do BCP.

Depois de muitos rumores e desmentidos, eis que a Fosun anunciou a redução da sua participação acionista no BCP para 20,03%. Tem agora uma participação equiparada à da Sonangol (que tem 19,49%) e com isto eis que o núcleo duro de acionistas do maior banco privado português cai de quase 50% para cerca de 40%.

Mas a cúpula de gestão do BCP está tranquila com esta redução. A administração liderada por Miguel Maya disse ao Jornal Económico que não vê que essa redução de 50% para 40% se traduza num enfraquecimento da estrutura acionista do banco. Até porque, o BCP tem rácios de capital fortes – rácio de capital CET1 de 14,9% e rácio de capital total de 19,4% (aumento de 357 pontos base e de 431 pontos base, respetivamente, face ao período homólogo de 2022), “evidenciando a forte capacidade de geração orgânica de capital”, segundo dados dos primeiros nove meses.

Para além disso, lembra a mesma fonte, o BCP tem ratings de investimento das agências de notação financeira (é classificado como Investment Grade pelas quatro principais agências de rating) e, em termos de Credit Default Swaps (que mede o risco de incumprimento) o BCP compara bem com os pares europeus. Segundo uma apresentação institucional do BCP de outubro do ano passado, os spreads dos CDS do banco reduziram-se desde o fim de 2016, sobretudo depois do aumento de capital de fevereiro de 2017, reflexo da redução da exposição a ativos improdutivos e do reforço da cobertura dos NPE.

A mesma fonte lembra que os grandes bancos dificilmente têm acionistas com este nível de participações estratégicas, e cita por exemplo o espanhol Santander.

Também a Fitch, contactada pelo Jornal Económico, não considera que esta operação da Fosun enfraqueça a estrutura acionista do BCP.  “Em primeiro lugar porque a Fosun está a vender apenas 5,6% e continuará a ser um acionista de referência e não creio que esta venda indique uma redução da confiança da Fosun no modelo de negócio do BCP. Em segundo lugar, na nossa opinião, a propriedade da Fosun sempre foi neutra em relação ao perfil de crédito do BCP. Embora consideremos que a Fosun apoiou a gestão do banco na estratégia de execução, nunca incluímos qualquer apoio da Fosun nas nossas classificações”, diz o director de Financial InstitutionsFitch Ratings, Julien Grandjean.

A holding Chiado, da Fosun, anunciou esta seguna-feira uma oferta particular das ações do BCP “através de um processo de accelerated bookbuilding dirigido exclusivamente a investidores institucionais qualificados”, segundo um comunicado do BCP.

Depois da venda a Fosun fica com 20,03% do BCP. Mas apenas por 60 dias. Após a colocação, “a Chiado manterá 3.027.936.381 ações do BCP, sujeitas a um lock-up de 60 dias”.

“O BCP foi informado que é intenção da Fosun manter uma participação acima dos 20% permanecendo como acionista de referência do banco”, diz fonte oficial do banco liderado por Miguel Maya.

As ações do banco subiram esta segunda-feira para 0,67% para 0,2856 euros. Pelo que as ações do BCP vendidas e que estão à venda pela Fosun, tendo em conta essa cotação, e que somam 1.498.003.810 ações, representam um valor de 427,83 milhões de euros. Isto para os 9,92% que venderam e venderão neste processo de  accelerated bookbuilding dirigido exclusivamente a investidores institucionais qualificados.

O BCP já publicou os resultados do accelerated bookbuilding. A Fosun, através do veículo Chiado, concluiu com sucesso a venda, por meio de oferta particular através de um processo de accelerated bookbuilding dirigido exclusivamente a investidores institucionais qualificados de 846 milhões de ações representativas de aproximadamente 5,60% do capital social do BCP.

“O valor total da receita da colocação atingiu aproximadamente 235.188.000 euros [235,2 milhões], correspondente a um preço de 0,2780 euros por ação”, lê-se no comunicado publicado ao fim do dia. 

A liquidação da colocação ocorrerá a 25 de janeiro de 2024. Após a liquidação, a Chiado passará a deter 3.027.936.381 ações do BCP, sujeitas a um lock-up de 60 dias, “sujeito a certas exceções”. 

A UBS AG, Sucursal em Londres atua como Sole Bookrunner da colocação.

Os chineses que entraram no capital do BCP em 2016, através de um aumento de capital que lhes deu 16,7% do capital do maior banco privado em Portugal e pelo qual pagaram 175 milhões de euros. Entretanto foi reforçando a participação no BCP e distanciando-se do outro acionista, a angolana Sonangol, e no fim de 2021 atingiu os 29,9% que teve até ao ano passado, pelo menos até junho.

Depois disso, a Bloomberg noticia que havia um plano de vendas ambicioso da Fosun para reduzir a dívida e que poderia afetar ativos nacionais. Mas em julho de 2022 o presidente da Fosun, Guo Guang­chang, deu uma entrevista por escrito ao Jornal Expresso onde garante que “não está previsto qualquer desinvestimento em Portugal”. Isto numa altura em que o grupo privado chinês esteve sob escrutínio, com notícias na imprensa internacional a dar conta de problemas de liquidez e de gestão de uma dívida de 40 mil milhões de dólares .

A Fosun detém 85% do capital da Fidelidade e, através da seguradora, é dona do grupo Luz Saúde. A seguradora foi o primeiro ativo que comprou, em 2014, num capital partilhado com a Caixa Geral de Depósitos, detendo uma participação de 15%. A Fosun tem ainda cerca de 5% da REN.

Segundo fonte ligada à Fosun, não está em cima da mesa a venda da participação na Fidelidade. Mas vai avançar a entrada em bolsa da Luz Saúde que pretende realizar um aumento de capital até um máximo de 20% do seu capital no âmbito do processo da oferta pública inicial (IPO) já confirmado pela Fidelidade.

O que diz a Fosun?

Os chineses dizem que “de modo a promover melhor o foco estratégico e alcançar um desenvolvimento estável, especialmente considerando a forte subida no preço das ações dos bancos portugueses e do BCP num período recente, o Grupo Fosun decidiu vender parte das ações do banco após uma análise de vários fatores”.

“Trata-se de um comportamento de investimento normal e uma operação financeira. Após esta transação, a Fosun continua a deter 20% do BCP”, diz fonte oficial da Fosun.

Questionada sobre a razão que a leva a  reduzir a sua participação no BCP e se isso significa que o cash flow da Fosun continua pressionado? fonte oficial da empresa diz que “a redução da participação da Fosun no BCP não tem qualquer relação com a situação financeira e de cash flow”.

“Nos últimos anos, o Grupo Fosun tem continuado a otimizar a sua estrutura de dívida, a reduzir a escala das suas dívidas/passivos com juros e a melhorar continuamente a sua posição de cash flow. Até ao final de 2023, as responsabilidades financeiras do grupo continuaram a diminuir em comparação com o final de 2022”, diz a Fosun.

Haverá um plano de redução posteriormente? O Grupo Fosun diz que “continuará a apoiar o desenvolvimento do BCP”. Mas não se compromete com o futuro até porque diz, “a Fosun e o BCP são empresas cotadas, e qualquer informação relevante será publicada através de anúncio, se for o caso”. Tal como refere o comunicado, o “lock-up period”, ou seja o acordo para manter os 20%, é apenas de 60 dias.

“Os investimentos da Fosun em Portugal, como a Fidelidade, continuarão a ser componentes muito importantes para o Grupo. A venda de ações do BCP é um comportamento de investimento normal e uma operação financeira, e não deve ser interpretada como um sinal de que a Fosun deixou de estar otimista em relação ao mercado português sob quaisquer circunstâncias”, sublinha fonte oficial da Fosun.

Fonte oficial diz que “a Fosun é uma empresa global, sedeada na China, com quase 50% das suas receitas a provirem de mercados internacionais. A Fosun continua muito otimista em relação aos mercados estrangeiros, incluindo Portugal”.

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