Há mais de quatro meses que o Benfica não perde um jogo, e ainda assim, o Estádio da Luz não tem respirado o ar mais saudável do mundo.
Na última quinta-feira, por exemplo, os adeptos mostraram-se agastados com a exibição cinzenta que as águias protagonizaram frente ao Toulouse, e não se esqueceram disso: houve quem assobiasse Roger Schmidt esta tarde, antes da goleada frente ao Vizela.
Mas o treinador das águias, ao contrário do que tem sido padrão esta época, quis quebrar um paradigma: largou o conservadorismo que lhe é característico e preparou uma revolução no onze inicial: foram seis as alterações face ao encontro de quinta-feira, com alguns nomes fortes no banco, como Di María, Aursnes ou António Silva.
E talvez os encarnados tenham começado a ganhar o duelo frente aos vizelenses aí.
A revolução de Schmidt
David Neres, provavelmente um dos maiores injustiçados do plantel, aproveitou a oportunidade e deu espetáculo. Tiago Gouveia, outra das novidades, também esteve em bom plano, assim como Tengstedt: apesar de perdulária na hora de finalizar, o avançado dinamarquês provou que é um avançado que serve perfeitamente aquilo que Schmidt pretende para a equipa.
Mas já lá vamos.
Na Luz, Benfica e Vizela defrontavam-se pela segunda vez no espaço de dez dias. Na Liga, o clube da Luz vinha de um empate complicado em Guimarães, ao passo que os minhotos haviam regressado às vitórias precisamente no último fim de semana.
Os primeiros minutos até mostraram um Vizela capaz de competir no Estádio da Luz, perante um Benfica que pareceu entrar desconfiado de si mesmo e algo adormecido.
E a proposta de jogos dos minhotos, diga-se, é interessante e corajosa. O problema é que, como em outras alturas da época, os erros individuais acabam por prejudicar o objetivo coletivo.
Neres desbloqueou tudo
Foi assim que nasceu o 1-0 de David Neres, ao minuto 16, e que desbloqueou todo o encontro: Ruberto facilitou uma primeira vez, perante Rafa, errou no passe logo a seguir e as águias ganharam vantagem após uma recuperação alta.
O jogo mudou, e o que se seguiu a seguir foi uma avalanche de futebol ofensivo do Benfica.
O Vizela manteve-se fiel ao plano, com uma defesa bem alta face ao que os encarnados estão habituados a enfrentar na Luz, e os pupilos de Roger Schmidt, com Neres e Rafa à cabeça, não perdoaram.
E não perdoaram porque o Benfica foi tendo sempre vários problemas ao longo da época, mas um deles nunca foi, com toda a certeza, a falta de qualidade da turma ao dispor do treinador germânico.
Neres, já se disse, foi o destaque do encontro, Tiago Gouveia e Casper Tengstedt envolveram-se bem na manobra ofensiva da águia e Tomás Araújo, atrás, mostrou mais uma vez que é um defesa com uma qualidade especial.
E por isso o emblema lisboeta conseguiu resolver o jogo ainda na primeira parte: ao intervalo o resultado era, aliás, de 5-0. Neres voltou a macar, Otamendi, Tiago Gouveia e Rafa também fizeram o gosto ao pé.
A goleada permitia ao Benfica encarar a etapa complementar de outra maneira, até tendo em vista o duelo de quinta-feira em Toulouse, e deu até para facilitar ligeiramente.
Trubin, da distração à redenção
Trubin «distraiu-se» por um bocado e permitiu que o Vizela reduzisse, por Essende, logo aos 48 minutos. Depois, a 20 minutos dos 90, foi Morato a cometer um penálti sobre Tomás Silva. Dessa feita, Trubin redimiu-se e impediu que Essende chegasse ao bis, antes de Neres servir Marcos Leonardo para o 6-1 final já nos instantes finais.
Foi uma águia de controlo aquela que se apresentou na segunda parte, já a pensar na Liga Europa. Fica para a história um primeiro tempo de luxo, que provou que Roger Schmidt pode dar-se ao luxo de fazer outro tipo de rotação, porque os menos utilizados entraram com qualidade fome de bola.
E já se sabe: não há fome que não dê em fartura.