Berlim sugere armas nucleares britânicas como parte de possível escudo europeu

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Os líderes europeus interpretaram as declarações do republicano como um aviso de que o escudo nuclear da aliança, em grande parte norte-americano, pode deixar de ser um dado adquirido, caso Trump regresse à Casa Branca.O antigo presidente deixou claro que não defenderia qualquer membro da NATO que não gastasse dois por cento do seu produto interno bruto na defesa e até encorajaria a Rússia a a atacar.

Em artigo publicado pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung, com o título "A Europa deve manter-se fiel à dissuasão nuclear", Christian Lindner, o ministro alemão das Finanças e líder do Partido Democrático Livre, argumenta: “Deveríamos entender as recentes declarações de Donald Trump como um apelo a repensar ainda mais este elemento da segurança europeia sob a égide da NATO”.

Se os EUA deixarem de fornecer grande parte da dissuasão nuclear da NATO, o debate sobre a segurança europeia deve focar-se em novas configurações. Por isso, o ministro alemão levanta várias questões: “Sob que condições políticas e financeiras estariam Paris e Londres preparadas para manter ou expandir as suas próprias capacidades estratégicas para a segurança coletiva? E vice-versa, que contribuição estamos dispostos a dar? Quando se trata de paz e liberdade na Europa, não devemos fugir destas questões difíceis”.

Porém, relembra que “as forças nucleares estratégicas da França e da Grã-Bretanha já estão a contribuir para a segurança da nossa aliança. O presidente francês, Emmanuel Macron, fez várias ofertas de cooperação”.
"O momento certo"

Manfred Weber, que lidera o grupo de centro-direita do Partido Popular Europeu (PPE) no Parlamento Europeu, também reitera que “Macron já fez uma oferta vaga para falar sobre a importância das forças nucleares francesas para a Europa”, mas defende abertura de “um novo capítulo” com Londres em matéria de defesa e dissuasão nuclear.

“Agora que Donald Trump está a questionar abertamente o papel dos EUA como potência protetora seria o momento certo para isso. O mesmo se aplica aos britânicos, com quem deveríamos finalmente iniciar um novo capítulo de cooperação após o Brexit”, vinca Weber.

Há três semanas, Weber defendia que os europeus deveriam preparar-se para uma guerra sem apoio dos EUA e construir desde já o seu arsenal nuclear, para serem “capazes de se defenderem de forma independente”.

Katarina Barley, vice-presidente do parlamento europeu e candidata social-democrata nas eleições europeias de junho, também propôs a construção de um arsenal nuclear próprio por parte da UE, mas até agora o debate tem-se restrigindo aos corredores e órgãos de comunicação social.

“Escalada extremamente perigosa”

Outras vozes apelam à calma. O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, do SPD, desvaloriza as palavras de Trump: “Só posso alertar contra o início de tal discussão com tanto descuido só porque Donald Trump, que nem sequer é candidato presidencial, faz tais declarações”.

Outro político do SPD, Ralf Stegner, alerta que a pressão para as armas nucleares europeias comuns pode desencadear uma “escalada extremamente perigosa”. Ao Tagesspiegel, observou: “Não há necessidade de uma potência nuclear europeia – seria o oposto da segurança europeia”.

Entretanto a Alemanha, pela primeira vez desde a Guerra Fria, deu conta à NATO de um gasto em defesa de dois por cento do PIB para 2024, num valor sem precendentes de mais de 65 milhões de euros.

Disponibilidade do Reino Unido

Londres já deixou claro que as armas nucleares britânicas se mantêm disponíveis, caso haja um pedido do comandante supremo aliado da Aliança Atlântica para a Europa, mas adverte que só serão utilizadas “em circunstâncias extremas de autodefesa aliada, incluindo a defesa da NATO”.

Esta disponibilidade, no entanto, foi feita no contexto da presença nuclear dos EUA na Europa.A Aliança Atlântica depende em grande medida das ogivas nucleares norte-americanas, colocadas em seis bases aéreas militares na Bélgica, Alemanha, Itália, Países Baixos e Turquia.

Marie-Agnes Strack-Zimmermann, política alemã do Partido Democrático Liberal, acredita que a UE precisa de convencer os EUA da importância de continuarem envolvidos na Europa. Sublinhou ainda que é claro que a "Europa como um todo deve trabalhar mais estreitamente".

Aumentar a defesa nuclear significaria fazer com que tanto a França como a Grã-Bretanha se "sentassem à mesma mesa", afirmou Strack-Zimmermann, e "se desligassem da UE e pensassem europeu".

De recordar que todos os membros da UE são signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que visou impedir a propagação de armas nucleares e facilitar a cooperação entre países nucleares e não nucleares.

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