Brasileiros para “totós”, parte I

3 meses atrás 53

A principal criação de Portugal

A língua é a mesma, mas não é. Os hábitos e costumes não são os mesmos, mas são. A nova lei da imigração estende um tapete vermelho para que os cidadãos brasileiros se tornem os principais povoadores de Portugal, acentuando ainda mais esse primeiro movimento de contra colonização da história.

Quando nem a nossa “extrema” direita veta os países da língua a nossa demografia pode respirar de alívio, mas o resultado será o aumento da pluralidade de falantes de um português que não é o nosso, de costumes que não conhecemos, ruídos hábitos e costumes que não partilhamos.

Entendendo isso, julgo ser útil abrir a coluna ao serviço de uma compreensão mais sistemática da “nova” presença brasileira em Portugal. Um pequeno manual de instruções, consultório sentimental ou apenas um “Brasileiros para Totós”.

Como sempre se impõe, primeiro a história. A relação entre Brasil e Portugal tem suas raízes profundas na história, começando com a chegada dos portugueses ao território que viria a ser o Brasil em 1500, liderada por Pedro Álvares Cabral. Este marco inicial foi seguido por uma colonização que durou mais de três séculos e durante os quais Portugal exerceu controle – muitas vezes com punho de ferro – administrativo e econômico sobre o Brasil.

A administração colonial portuguesa moldou profundamente as estruturas sociais, económicas e culturais do Brasil, implantando um sistema baseado na exploração de recursos naturais e na mão de obra escrava. Será que isso dura até hoje?

As políticas coloniais portuguesas deixaram marcas indeléveis na sociedade brasileira. A introdução do sistema de capitanias hereditárias e das sesmarias criou uma estrutura fundiária concentrada nas mãos de poucos, o que perpetuou desigualdades sociais. A utilização massiva de mão de obra escrava africana moldou a demografia e a cultura brasileira, resultando em uma sociedade caracterizada por uma profunda miscigenação e e uma desigualdade social ainda maior.

A independência, em 1822, proclamada por Pedro, filho do rei português D. João VI, representou um ponto de mudança nas relações entre os dois territórios, mas, embora o Brasil se tenha tornado independente, os laços culturais e históricos com Portugal sempre permaneceram fortes, criando uma base sólida para as relações futuras.

Os portugueses introduziram a língua, o catolicismo e diversas práticas sociais e culturais profundamente enraizadas no Brasil. A educação, a administração pública, seguiram moldes portugueses e a arquitetura e a arte refletem a herança lusa.

É este legado que faz, como uma vez me disse, o ministro Gilmar Mendes, hoje decano do Supremo Tribunal Federal brasileiro e um confesso admirador de Portugal, com que o Brasil seja a principal criação de Portugal.

O autor assina este artigo também na qualidade de fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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