O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, a partir de agora pode também ler excertos das conversas no nosso portal.
A reta final da carreira de Bruno Simão pode ser descrita como uma verdadeira montanha russa. Depois de ter corrido risco de vida na sequência de um acidente de mota, o lateral-esquerdo venceu o Campeonato de Portugal (2018/19) ao serviço do Casa Pia, clube no qual trabalhou com Rúben Amorim. O agora técnico do Sporting é não só amigo de infância de Bruno Simão, mas também padrinho da filha mais velha deste.
De forma natural, a convivência entre os dois na condição de jogador-treinador gerou algumas situações caricatas...
«Disseram-me que o Rúben Amorim ia para o Casa Pia e eu enviei-lhe uma mensagem a dizer “Então, mano, vais treinar o Casa Pia? Não queres contar com o melhor lateral-esquerdo/central/ avançado/ médio/ guarda-redes desta divisão?”. Ele responde-me a dizer para não misturarmos a amizade com o trabalho e foi ainda mais longe “Há quatro meses estavas em coma numa cama de hospital, tens 33 anos e eu já me atravessei por dois velhotes, tenho três laterais-esquerdos e és um jogador caro para o Casa Pia”. Não havia a meu favor, mas agradeci e disse que tinha a certeza que ele ia ser um treinador de excelência», começou por referir Bruno Simão, que explicou depois como é que o nó desatou:
«Passado três dias- eu estava a treinar e ia pondo os meus vídeos nas redes sociais-, ele envia-me uma mensagem a perguntar como é que eu estava e como estava a correr a recuperação. Eu ri-me para o telemóvel e pensei ‘Se há alguém que te conhece sou eu’. Ele não queria saber se eu estava bem, queria era que eu fosse para lá [risos]. Eu disse-lhe que estava bem e agradeci pela mensagem. Passado dois dias ligou-me e disse-me “Mano, que se lixe, já me atravessei por ti aqui no clube".»
Depois de alguns ajustes em relação ao salário, Bruno Simão acabou mesmo por rubricar contrato com o Casa Pia: «Fui assinar e, no primeiro dia em que nos cruzámos lá, ele chamou-me à parte. “Mano, só te vou pedir uma coisa: tu não me lixes. Não faças nada, não me lixes. E vou dizer-te outra coisa: vou exigir e cobrar muito mais de ti do que qualquer outro gajo que esteja aqui. As pessoas sabem da ligação que temos”. Eu só respondi “Enquanto estamos aqui a conversar somos manos e está tudo bem. Dentro de campo és meu treinador e eu teu jogador. No dia em que tiveres de não me pôr a jogar ou tiveres de me mandar para o banho, eu sou um jogador igual aos outros”»., recordou o lateral.
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