Burla ‘Olá, pai/Olá, mãe’ volta a circular em força no WhatsApp

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A PSP alertou os cidadãos, pela primeira vez, para os perigos desta burla em outubro de 2022. No entanto, a mesma nunca desapareceu.

Em 2022, ouviu-se falar, pela primeira vez, desta burla que se concentrava, principalmente, no WhatsApp. No entanto, segundo aquilo que o i e o Nascer do SOL conseguiram apurar, a mesma parece estar a ganhar contornos preocupantes novamente. “Olá pai mudei de número de telefone, este passa a ser o novo. Confirma que recebeste esta mensagem” é o exemplo de uma das muitas formas através das quais os criminosos tentam entrar em contacto com as vítimas seguintes.

Há precisamente dois anos, falava-se nesta nova tentativa de burla que circulava no WhatsApp, sendo que o alerta foi dado por uma cidadã que expôs a situação na sua página de Facebook. Segundo a mulher, o burlão fingiu ser o filho da vítima, pedindo para que ela apagasse o seu número antigo e registasse o novo. A seguir, o impostor solicitou urgentemente uma transferência bancária, alegando estar sem acesso à sua aplicação de pagamentos: “Preciso fazer um pagamento importante hoje, mas estou sem acesso à aplicação neste telemóvel”, escreveu. O burlão forneceu o IBAN para a transferência, mas a fraude foi evitada quando a filha verdadeira interveio, evitando o golpe e partilhando a história para alertar outras pessoas.

Este tipo de burla, que é cada vez mais comum, motivou um aviso da Polícia de Segurança Pública (PSP) a 22 de outubro de 2022. Em comunicado, a PSP alertou: “Burlões fazem-se passar por filhos, alegam ter perdido o telemóvel e pedem transferência de dinheiro por ‘MB Way’ para um novo número”. A PSP recomenda que, ao receber mensagens de números desconhecidos alegando ser um filho, os pais devem confirmar a veracidade através de uma chamada telefónica e nunca realizar qualquer pagamento sem a devida confirmação. Caso ocorra uma tentativa de burla, a PSP pede que a situação seja denunciada.

Além disso, um outro esquema de burla, no qual falsos acidentes de viação são simulados para extorquir dinheiro das vítimas, também foi denunciado. A Polícia Judiciária (PJ) prendeu a 26 de outubro desse mesmo ano um suspeito de 25 anos, acusado de estar envolvido em vários desses crimes, incluindo a burla do ‘Olá, pai/Olá, mãe’. “A PJ identificou e deteve um cidadão estrangeiro […] como presumível autor deste tipo de burlas”, confirmou a força de segurança em comunicado, alertando ainda os cidadãos para nunca atenderem a pedidos de transferências sem prévia confirmação com familiares.

Uma burla que nunca desapareceu
O crescimento desta burla já havia sido confirmado, em junho, ao i, pelo advogado David Silva Ramalho, no contexto de uma reportagem acerca das burlas online mais comuns. “É difícil dizer quais são os principais tipos de burla online porque são cada vez mais variadas. Em termos genéricos, o phishing será o mais denunciado. Nestes casos, o principal objetivo dos atacantes tem sido aceder a dados de cartões bancários, mas também a plataformas de homebanking (embora neste caso se exija maior sofisticação, devido aos mecanismos de segurança implementados), no entanto, a verdade é que dentro desta categoria existem várias modalidades e vários modos de execução (por chats, por whatsapp, por telegrama, por email, etc.)”, constatou, abordando, de seguida, esta burla.

“Noutra vertente, temos também visto um aumento das burlas ‘Olá mãe, olá pai’, os contactos a pedirem pagamento de falsas dívidas à Autoridade Tributária, a bancos ou a prestadores de serviços, os contactos falsos provenientes da polícia a exigir pagamentos, os falsos arrendamentos, as burlas em mercados online, entre muitas outras”, referiu. “Para além destas, tenho lidado muito, desde logo porque também me tenho especializado nesta área, com burlas com criptomoedas”, frisou o especialista que é associado coordenador do departamento de criminal, contraordenacional e compliance da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados.

Posteriormente, volvido um mês, a Polícia Judiciária (PJ) anunciou que desmantelara uma rede criminosa responsável pelo esquema ‘Olá, pai/Olá, mãe’ no WhatsApp, operação que resultou em oito arguidos, entre os quais cinco indivíduos e três entidades. O esquema envolvia o envio de mensagens fraudulentas a partir de números associados a cartões SIM distribuídos gratuitamente, com o objetivo de convencer as vítimas de que os seus filhos perderam o telemóvel, levando-as a realizar pagamentos.

A operação, designada ‘Cartões sem Rasto’, incluiu buscas em estabelecimentos comerciais de Lisboa e residências na Margem Sul, resultando na apreensão de 1.300 cartões SIM. Segundo o comunicado da PJ, “a grandeza do esquema criminoso e as potencialidades de propagação das mensagens vitimaram largas centenas de cidadãos em todo o país”, com os cartões a serem usados para criar contas temporárias no WhatsApp.

A rede era constituída principalmente por cidadãos estrangeiros que recolhiam estes cartões em eventos como festivais e os vendiam para fins criminosos. A investigação começou em agosto de 2023 e, já em maio deste ano, resultou na apreensão de 8.500 cartões SIM e na detenção de um suspeito. Outros 35 inquéritos judiciais foram agregados a esta investigação, que se encontra em fase final.

Importa referir que, no início deste mês, a PJ deteve duas cidadãs estrangeiras, de 32 e 25 anos, suspeitas de envolvimento em vários crimes de burla qualificada, falsidade informática e branqueamento de capitais. A investigação teve início em janeiro de 2023, após uma queixa-crime apresentada em dezembro de 2022, relacionada com o esquema fraudulento conhecido como ‘Olá, pai/Olá, mãe’.

De acordo com a PJ, as suspeitas eram titulares de várias contas bancárias e estavam registadas em plataformas financeiras online, utilizadas para a remessa de dinheiro e pagamentos. Essas contas receberam, direta ou indiretamente, cerca de 98 mil euros. Durante as detenções e buscas domiciliárias, foram apreendidos equipamentos informáticos, de comunicação, e vários cartões bancários.

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