Cabo Delgado. População confirma pelo menos quatro militares mortos em ataque

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"Fomos colhidos de surpresa e começámos a ouvir disparos e gritos. Afinal era uma troca de tiros entre as FDS [Forças de Defesa e Segurança de Moçambique] e terroristas. Depois apercebi-me de pelo menos quatro militares mortos", disse à Lusa um popular, a partir de Matambale, para onde vários habitantes de Manhiça, no distrito de Muidumbe, fugiram, após o ataque.

Admitiu que deixou tudo para trás e a única preocupação foi a fuga ao ataque, ocorrido ao final da tarde: "O que perdi não é importante como a minha saúde. Saí ileso, as coisas, posso recuperar outras", desabafou o homem, de 34 anos.

Uma fonte da Força Local confirmou à Lusa a ocorrência deste ataque, dando conta apenas de feridos, entre graves e ligeiros, de ambas as partes.

"Após o assalto deles, as FDS souberam responder. Claro que quando se fala de guerra tudo pode se esperar, houve feridos por parte dos nossos militares, mas também da parte dos terroristas, até porque posso dizer que eles é que tiveram muitas baixas, mas não posso adiantar quantos é que ficaram feridos", confirmou a fonte da Força Local, a partir da localidade de Miangalewa.

O ataque de quinta-feira à comunidade de Manhiça motivou o abandono massivo das populações que estavam nas zonas de produção para a sede da localidade de Minagalewa.

"Levei toda a minha família, estamos aqui em Minagalewa, mas não estamos a apanhar sono. Pensei que isso tinha sido resolvido, fiz dois hectares de arroz, mas sou obrigado a deixar senão vou morrer ou um dos meus filhos poderá ser morto", contou à Lusa outro popular, de 57 anos de idade, que já escapou a três ataques dos terroristas nos últimos seis anos.

O grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou hoje através dos canais de propaganda a autoria do um ataque em Manhiça e da morte de militares, afirmando ainda que decapitaram um cristão, civil.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu em novembro "decisões" sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em Cabo Delgado, nomeadamente com reservistas, tendo em conta a prevista retirada das forças estrangeiras que apoiam no terreno contra os grupos terroristas.

"Decisões concretas sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em relação à sua ação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado no período após a retirada das forças amigas da SAMIM [missão da SADC em Moçambique] e do Ruanda", pediu Nyusi, na abertura do XXIV Conselho Coordenador do Ministério da Defesa Nacional.

"Para o efeito, a vossa reflexão deve igualmente avaliar a forma de melhor capitalizar o manancial de reservistas, empenhando-os direta ou indiretamente em várias missões em prol da defesa da soberania e integridade territorial do nosso país. E a realidade atual justifica", acrescentou.

A cimeira da SADC aprovou em agosto passado a prorrogação da missão em Cabo Delgado, por 12 meses, até julho do próximo ano.

Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.

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