Cabral sobe ao palco em Lisboa com o artista Djam Neguin e dispositivos de IA

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O líder africano Amílcar Cabral sobe sexta-feira ao palco, em Montemor-o-Novo, através de dispositivos multimédia e de inteligência artificial, numa criação do artista cabo-verdiano Djam Neguin que, desta forma, homenageia o independentista e o 25 de Abril.

Intitulado "AMI.LCAR", o espetáculo é inspirado na vida e obra do pensador e "um dos maiores líderes de todos os tempos", como disse à Lusa o artista multidisciplinar.

"É um espetáculo que nasce de dois contextos específicos: Os 50 anos do 25 de Abril, que coincide com o centenário de Amílcar Cabral", observou.

"[O objetivo da iniciativa é] aproveitar este momento histórico em que estamos a fazer um processo de descolonização, de reparação histórica, de recontar a história, de como as coisas realmente foram, e trazer ao público e às novas gerações quem foi esta figura e qual a sua importância", disse Djam Neguin.

Sobre o que de mais significativo de Cabral vai subir ao palco da XL Box, na ante-estreia na sexta-feira e sábado, o artista elegeu "o ativismo, a questão da preocupação com o ser humano em si".

Mas também a questão agrónoma, uma vez que Amílcar Cabral era um agrónomo, o que é um pretexto para "a importância de refletir sobre a crise ecológica" atual, a par da "questão da descolonização, a luta pela libertação do colonialismo, e agora a questão da colonialiadade".

"Ainda continuamos a viver com as consequências deste regime, deste ato", disse.

O artista encontra-se atualmente a trabalhar o tema da "questão afro futurística", de "passar os imaginários afro, africanos, cabo-verdianos numa dimensão de futuro" e a pensar "esta fase com as máquinas, o digital, o virtual" e como isso impacta com as artes, as relações humanas e a forma de comunicar.

Todo o espetáculo está "em interface com a inteligência artificial, com a realidade virtual, com o mundo robótico e maquinal".

O Cabral que subirá ao palco foi criado através de diversos softwares, com recurso à clonagem da voz, e a recriação em 3D da cara e do corpo do líder africano.

"É um espetáculo multidisciplinar que atravessa as fronteiras da dança, performance, teatro e vídeo, mas também através da realidade virtual", disse.

O artista classifica o espetáculo como uma "provocação cénica" que pretende conduzir à reflexão de como é que estas ferramentas hoje ao dispor de tanta gente podem "contar as narrativas que importam ou para resgatar figuras que importam".

Em palco estará Djam Neguin e duas personagens completamente produzidas por inteligência artificial, o que convida ao debate sobre "o que acontece quando um artista é produzido por inteligência artificial".

O líder histórico da independência guineense e cabo-verdiana nasceu na Guiné-Bissau em 12 de setembro de 1924, tendo partido para Cabo Verde com oito anos. Licenciou-se em Portugal e desenvolveu vários trabalhos na área da agronomia.

Fundador do então PAIGC, liderou os movimentos independentistas em Cabo Verde e na Guiné-Bissau.

Assassinado em Conacri aos 49 anos, em 20 de janeiro de 1973, Cabral não chegou a assistir à declaração unilateral da independência na Guiné-Bissau, que aconteceu a 24 de setembro de 1973, sete meses antes do 25 de Abril de 1974.

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