"Estas afirmações de Miguel Albuquerque, para mim, são um insulto aos madeirenses. É gozar com quem trabalha, porque a maior parte destas pessoas que vivem na pobreza são pessoas que trabalham, são pessoas honestas que dão tudo o que têm e no final do mês têm tão pouco", disse o responsável socialista insular aos jornalistas no âmbito da reunião da comissão política regional, no Funchal.
Paulo Cafôfo reagia a declarações do presidente demissionário do Governo Regional que opinou hoje ser "normal" que a taxa de risco de pobreza na região autónoma esteja 10 pontos percentuais acima da média nacional, sendo a mais elevada do país.
"É normal porque somos ilhas. As ilhas têm sempre um risco superior", disse o chefe do executivo madeirense, para logo reforçar: "Nos territórios continentais, em termos de risco de pobreza, quer as ilhas italianas, quer as ilhas espanholas, têm sempre média superior a 10%".
Miguel Albuquerque, que falava aos jornalistas à margem de uma ação de campanha do PSD para as eleições antecipadas de 26 de maio na Madeira, no concelho de Santa Cruz, reagiu deste modo ao relatório "Portugal, Balanço Social 2023", apresentado hoje publicamente, que indica que o risco de pobreza no país subiu para 17% em 2023, o que fez com que mais 60 mil pessoas ficassem em risco de ficar pobres, uma realidade que afetou principalmente as mulheres.
De acordo com os dados do relatório, que inclui alguns preliminares do Inquérito aos Rendimentos e Condições de Vida (ICOR), do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativo a 2023, a taxa de risco de pobreza aumentou 0,6 pontos percentuais entre 2022 e 2023, passando de 16,4% para 17%.
Para o líder socialista, estes dados "devem entristecer a todos" e perguntou "para que tem servido a autonomia nestes 48 anos" na Madeira?
"Isto é o resultado de 48 anos de poder do PSD", sublinhou, complementando que a autonomia deveria ter servido para a Madeira "não ficar atrás de todo o partido numa matéria tão importante como a qualidade e nível de vida dos madeirenses".
Cafôfo acrescentou que, para Miguel Albuquerque, a governação do PSD "tem sido um sucesso" ao apontar recordes do Produto Interno Bruto (PIB), "ou seja, da riqueza quando tem a maior taxa de desigualdade do país", sendo uma situação que revela "um problema de redistribuição".
"É caso para perguntar onde é que fica ou com quem fica a riqueza da Madeira? Porque isto não é normal. Não pode ser normal haver esta pobreza, não pode ser normal haver tantos madeirenses em listas de espera para consultas e cirurgias, não pode ser normal termos esta pobreza", realçou.
Paulo Cafôfo apontou que, enquanto o Governo Regional tem "os cofres cheios", os madeirenses veem-se com "os bolsos vazios", quando nunca houve tanto arrecadamento de receita fiscal na região.
"Mas, para Miguel Albuquerque isto é tudo normal e está tudo controlado. Ora, para nós, não é. Não estamos confortáveis com esta situação dos madeirenses e por isso é necessário virar a página", vincou.
O líder do PS/Madeira que é também o cabeça de lista às eleições regionais antecipadas de 26 de maio, destacou que o secretário-geral do partido, Pedro Nuno Santos, vai deslocar-se no sábado à região para apoiar "incondicionalmente" o projeto socialista nesta campanha.
Para Cafôfo, esta visita contrasta com a situação do PSD, cujo líder nacional, Luís Montenegro, não vai à Madeira "porque não quer estar associado a Miguel Albuquerque, tem vergonha", o que revela que o presidente cessante "caiu no descrédito dentro do seu próprio partido".
Cafôfo ainda declarou estar convicto de que não haverá nenhuma maioria absoluta nas eleições de 26 de maio e que o PS vai formar governo nesta região.
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