Caos ao estilo turco: protesto surreal do Fenerbahçe pode derrubar a federação

6 meses atrás 48

Será justo falar em caos, ou será este o estado normal das coisas? Não há dias calmos no futebol turco, especialmente no que toca aos gigantes de Istambul, e o passado domingo trouxe mais um episódio que fez e continuará a fazer a tinta correr...

Quando Galatasaray e Fenerbahçe alinharam no relvado para disputar a Supertaça da Turquia, já havia indícios de que a noite seria bem diferente do esperado. Afinal, o Fenerbahçe tinha optado por levar a jogo a sua equipa de juniores (sub-19) em detrimento da formação principal! Mesmo assim, o que se seguiu foi ainda mais impressionante.

Indiferente às ideias alheias, o Galatasaray entrou na máxima força. Como pode ver no vídeo abaixo, o relógio mostrava apenas segundos quando Baris Yilmaz desviou uma bola longa para o caminho de Icardi e o argentino, oportuno, atirou para o 1-0. A bola regressou ao centro do terreno, mas o jogo não voltou a retomar, já que a equipa do Fenerbahçe recolheu ao balneário.

Um cenário surreal e bem mais complexo do que aqui o descrevemos, de maneira que se levanta uma questão: porquê?

Os motivos do protesto

Não foram lesões que levaram a equipa a alinhar com os jovens e a saída do relvado também não foi improvisada. Tudo isso fazia parte de um protesto dirigido à Federação Turca de Futebol (TFF).

Para entender a razão, é preciso relembrar que no passado mês de março o clube ameaçou sair da Super Lig (principal escalão da Turquia) por entender que estava a receber um tratamento injusto por parte das autoridades. Esse aviso foi uma reação à batalha campal que se seguiu à vitória sobre o Trabzonspor (2-3), na qual adeptos da equipa da casa invadiram o campo e agrediram jogadores do Fenerbahçe. Foi já neste mês de abril, após uma Assembleia Geral Extraordinária que contou com 20 mil adeptos, que o clube decidiu continuar a disputar a Liga até ao final da temporada.

A equipa de sub-19 no relvado de Sanliurfa @Getty Images

É nesse contexto que chega a Supertaça. Para esse jogo, o Fener fez duas exigências à federação: primeiro, pediu que o árbitro fosse estrangeiro; depois, apelou ao adiamento do jogo, argumentando a importância do compromisso europeu desta quinta-feira (visita ao Olympiacos) e o facto da própria Supertaça já ter sido adiada uma vez, em dezembro.

Nenhum desses pedidos foi atendido. Como tal, o clube anunciou que iria atuar com os juniores e bem antes do jogo já circulavam notícias de que a equipa iria abandonar o terreno de jogo. Por motivos legais era necessário que o jogo começasse e só depois, quando a bola saísse do terreno pela primeira vez, é que a equipa iria sair em protesto. O que ninguém esperava era que o Galatasaray marcasse golo antes da primeira interrupção...

E agora?

«Como o maior clube desportivo do mundo, temos 30 milhões de adeptos que sentem em si os valores deste país. Assim como nos mantivemos firmes contra a ilegalidade e a injustiça ontem, continuaremos a fazê-lo hoje e amanhã». Assim terminou o comunicado desta segunda-feira do Fenerbahçe, no qual o clube justificou o abandonamento de uma competição «que esteve muito perto de vencer». 

qPara mostrar rebeldia, decidimos não jogar um jogo em que tínhamos 50/50 de chances

Também o CEO do clube, Ali Koc, falou: «Para mostrar rebeldia, decidimos não jogar um jogo em que tínhamos 50/50 de chances. Depois do jogo frente ao Trabzonspor ninguém nos contactou, nem sequer a TFF».

Não há certezas em relação ao desfecho desta Supertaça, ainda que (e o golo de Icardi empurra as coisas nesse sentido) seja difícil imaginar um cenário em que o troféu não acaba no museu do Galatasaray. A vitória já foi celebrada pelo clube, embora falte confirmação oficial.

Já a TFF, que tutela o futebol turco, viu este episódio acelerar uma mudança de direção. O organismo presidido por Mehmet Buyukeksi anunciou este domingo que irá a eleições no dia 18 de julho, mas hoje a União de Clubes iniciou uma campanha de assinaturas que, caso tenha sucesso, pode ir ainda mais longe e antecipar ao processo eleitoral para os próximos 30 dias. 

Fenerbahçe, Besiktas, Pendikspor e Samsunspor já assinaram a petição. A mesma precisa do apoio de 40 por cento dos clubes para seguir em frente.

Um caso que pode moldar o futuro do futebol turco @Serhat Cagdas/Anadolu via Getty Images

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