Chama poluente. Fogões a gás matam 40 mil europeus por ano

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Em média, cada vez que acende o lume de um fogão a gás para cozinhar está a reduzir em quase dois anos a sua vida.

Isto porque são expelidos gases nocivos na chama, que por sua vez são injetados nos pulmões, desencadeando doenças cardíacas e pulmonares.

Estas são algumas conclusões do relatório foi divulgado, esta segunda-feira, no portal da Universidade Jaume I com o título "Avaliação dos impactos e custos na saúde associados à exposição ao dióxido de azoto em ambientes fechados relacionados com a cozinha a gás na União Europeia e no Reino Unido".O dióxido de azoto ou dióxido de nitrogénio é um composto químico constituído por dois átomos de oxigénio e um de azoto e a fórmula química é NO 2. É um dos diversos óxidos de nitrogénio.

As concentrações internas de NO2 foram "calculadas combinando mapas ambientais existentes de NO2 fornecidos pela Agência Europeia do Ambiente e dados da campanha de medição mais abrangente realizada na Europa caracterizando os níveis internos e externos de NO 2 em sete países europeus", explica o documento.

Ao examinar os impactos na saúde e os custos económicos da poluição do ar interior causada pela cozinha a gás, na União Europeia e no Reino Unido, a autora principal Juana María Delgado-Saborit, que dirige o laboratório de investigação em saúde ambiental da universidade espanhola, adverte que “a extensão do problema é muito pior do que pensávamos”.

Com base nos resultados desta avaliação de impacto na saúde, os cientistas atribuíram 36.031 mortes prematuras por ano aos fogões a gás na UE, e mais 3.928 no Reino Unido.

Em termos de mortalidade, "o número estimado de mortes prematuras é de um total de 40 mil na UE e Reino Unido (36 mil na UE). Representa, por sua vez, cerca de 160 mil milhões de euros perdidos, entre UE e Reino Unido (142 mil milhões de euros na UE). Estima-se também cerca de 77 mil anos de vida perdidos na UE e no Reino Unido (61 mil na UE)", de acordo com as conclusões do relatório.

Afirmam ainda que as “estimativas são conservadoras porque consideraram apenas os efeitos do dióxido de nitrogénio (ou azoto, NO 2) na saúde e não outros gases como monóxido de carbono e benzeno”.

“Por volta de 1978, aprendemos pela primeira vez que a poluição por NO 2 é muitas vezes maior em cozinhas que usam fogões a gás do que elétricos”, declarou Delgado-Saborit. “Mas só agora conseguimos colocar um número na quantidade de vidas que tem sido interrompidas”, acrescentou.

Um em cada três lares na UE cozinha com gás. No Reino Unido são 54 por cento e em Itália, Países Baixos, Roménia e Hungria sobe para mais de 60 por cento.

Estes eletrodomésticos, ao queimarem gás fóssil, estão a ejetar substâncias nocivas que inflamam as vias respiratórias, acentuando casos de asma.

"As estimativas de crianças que sofrem de asma estão associadas à exposição prolongada ao NO 2 emitido por aparelhos de cozinha a gás na UE e no Reino Unido é de 41 mil crianças (25 mil na UE), o que representa cerca 298 milhões de euros perdidos (174 milhões de euros na UE)", concluem os cientistas.Por outro lado, "estimativas de asma associada à presença de aparelhos de cozinha a gás em casa aumenta para 550 mil para a população pediátrica (367 mil na UE) e um milhão para toda a população - pediátrica e adulta - na UE e no Reino Unido (726 mil na UE)", acrescentam.

O relatório, apoiado pela European Climate Foundation, tem como ponto de partida investigações anteriores que mediram a qualidade do ar em casas para descobrir o quanto cozinhar com gás aumenta a poluição do ar interno.

Desta forma, os especialistas da Universidade Jaume I e da Universidade de Valência conseguiram calcular as proporções entre a poluição do ar interno e externo ao cozinhar com gás e mapeassem a exposição interna ao NO 2.Durante a investigação, aplicaram ainda as taxas de risco de doenças, obtidas de estudos sobre poluição externa de NO 2, para calcular o número de vidas perdidas.

Um estudo semelhante desenvolvido nos EUA, em maio deste ano, descobriu que fogões a gás e propano contribuem com até 19 mil mortes de adultos por ano, corroborando a análise do laboratório espanhol.

Fogão elétrico "mais limpo, seguro e saudável"

Dentro da União Europeia as regras sobre qualidade do ar externo foi reforçado em outubro, porém não definiu padrões para qualidade do ar no interior das habitações.

As pessoas podem proteger-se parcialmente dos vapores ao cozinhar abrindo as janelas, ou mesmo ligando os exaustores, mas os gases são mais difíceis de desaparecer.

Delgado-Saborit, sustentada pelos dados da investigação, garante que o uso fogões elétricos é "mais limpo, seguro e saudável".

Entretanto, a Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA) já desafiou a UE a concretizar políticas dirigidas ao fim gradual dos fogões a gás, definindo limites para emissões, oferecendo compensações monetárias para ajudar a transição para fogões mais limpos e forçando os fabricantes a rotular os aparelhos com os riscos de poluição.

“Durante muito tempo foi fácil ignorar os perigos dos fogões a gás”, acentuou Sara Bertucci da EPHA.

“Da mesma forma, como os cigarros, as pessoas não pensavam muito nos impactos à saúde – e, assim como os cigarros, os fogões a gás são um pequeno fogo que enche nossa casa de poluição”, argumentou Bertucci.
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