Champalimaud dá palco a jovens moçambicanas prontas para fazer a mudança

2 horas atrás 24

"Somos a força, a força do amanhã, somos mudança e liderança". Foi desta forma que 36 jovens moçambicanas, a frequentar o programa de liderança da Girl MOVE Academy, se apresentaram na quarta-feira perante um auditório cheio, onde estiveram presentes vários líderes portugueses, de distintas áreas do setor público e privado, unidos pelo interesse pelo empreendedorismo e inovação social.

Entre eles a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, a secretária de Estado Adjunta e da Igualdade, Carla Mouro, a consultora para a Juventude do presidente da República, Rita Saias, o diretor da Católica Lisbon School of Business & Economics, Filipe Santos ou ainda o presidente da Comissão Executiva da CUF, Rui Diniz.

No evento, as jovens líderes moçambicanas, designadas girl movers, partilharam as suas experiências de vida, os seus sonhos e apresentaram alguns dos projetos de desenvolvimento co-criados com as empresas e organizações parceiras e os membros da comunidade para responder aos desafios encontrados em Moçambique.

A realidade de Moçambique causou-lhes inconformismo e a ambição de contribuir para o desenvolvimento sustentável do seu país.

A anfitriã e presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, disse à RTP estar deslumbrada com o trabalho "muito persistente e muito corajoso" desenvolvido pela organização Girl MOVE Academy e pelas jovens moçambicanas. "Eu não conheço nenhuma outra organização, em nenhuma parte, que tenha este nível de ambição e de realização numa parte do mundo, onde se calhar não esperaríamos ver estas transformações a funcionar", afirmou Leonor Beleza. "Acho extraordinária esta capacidade das girlmovers se envolverem localmente ajudando a procurar soluções para problemas locais", afirmou Leonor Beleza, na sua intervenção.

Formada em Direito mas com uma longa experiência na área da saúde como ministra no Governo de Cavaco Silva, entre 1985 e 1990, Leonor Beleza aceitou o desafio lançado pela Girl MOVE Academy para cocriar soluções com uma turma de girlmovers para tentar mitigar os problemas e carências que existem no acesso a cuidados de saúde primários na comunidade de Murrapaniua, na província de Nampula, no norte de Moçambique.

Leonor Beleza. “Vocês fazem coisas extraordinárias”

Foto: Fernando Piçarra

A missão da Girl MOVE Academy - a primeira organização portuguesa distinguida pela UNESCO - é criar uma nova geração de mulheres líderes capazes de potenciarem mudanças positivas nas comunidades, que consigam responder aos vários desafios e fenómenos que o país enfrenta, nomeadamente a dificuldade de acesso a cuidados de saúde ou educação ou a desigualdade de género, que por sua vez, resultam em altas taxas de mortalidade ou falta de oportunidades para as mulheres.

Ao longo da sua vida e carreira política, Leonor Beleza dedicou-se igualmente à promoção do Estatuto da Mulher e acredita que a “participação das mulheres é muito importante” em todas as esferas da sociedade, nomeadamente em cargos de liderança, e salienta o impacto que a educação de uma mulher tem não só em si própria bem como em toda a sociedade, especialmente nos países em desenvolvimento.

"Sabe-se que, sobretudo no mundo em desenvolvimento, mas no mundo todo, uma mulher educada tem uma possibilidade de influência social não apenas para o seu próprio estatuto, mas para o estatuto da família dela e dos filhos, que não é comparável", declarou.

A atual conselheira de Estado do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confessou que tem "sentido um progresso extraordinário" em matéria de igualdade de género, quando observa o exemplo do "caminho percorrido por estas mulheres jovens", mas não esconde que "ainda há um caminho muito grande a percorrer".

Uma nova liderança ao serviço de grandes desafios 

Hiris Jamal, girlmover e changemaker. "O que começamos é muito maior do que nós"

Foto: Fernando Piçarra

Lorena Roberts, Jenifa Theila Murane e Hiris Jamal são apenas três das 36 jovens líderes moçambicanas de uma nova geração de mulheres, entre os 17 e os 30 anos, que quer servir o seu país e unir forças para lutar pelas causas em que acreditam, nomeadamente na garantia do acesso à saúde, a agua potável ou do respeito pelos direitos humanos.

No caso de Lorena Roberts, por exemplo, formada em Relações Internacionais pela Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, quer utilizar o seu poder para “trazer para a luz do sistema” a realidade das crianças-soldado que são instrumentalizadas nos conflitos de todo o mundo, em particular na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde o fenómeno tem aumentado.

Apesar da confiança no seu potencial para ajudar a dar visibilidade a que mais precisa, a girlmover confessou sentir-se "inconformada, frustrada e insuficiente" face à dimensão do problema e apelou à criação de "conexões verdadeiras, éticas e humanas" que nos permitam "olhar com humanidade e empatia para tudo aquilo que precisa de ser visto e trazido para a luz do sistema”.

Hiris Jamal, a jovem que se formou em Direito para mudar o país através das leis, admite a possibilidade de a sua geração “não conseguir ver os resultados das suas lutas” mas acredita que o propósito é também abrir caminho para que “as próximas gerações possam viver num mundo melhor e para que as discussões que temos agora não sejam mais assunto no futuro”.

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